Questões ambientais e consumidor solitário são novos focos do setor
Com o rótulo da preocupação ambiental cada vez mais evidente entre os clientes, o mercado brasileiro de embalagens se reformula e deve crescer 14% neste ano.
O aquecimento segue na esteira do primeiro semestre, quando o setor teve produção 16% maior do que no período equivalente em 2009, segundo pesquisa da FGV-RJ (Fundação Getulio Vargas) com a Abre (Associação Brasileira de Embalagens).
A indústria pegou carona no bom desempenho da economia nacional e agora investe na procura de novos materiais, menos agressivos à natureza, e de novas formas de oferecer produtos.
Nessa última prateleira, destacam-se as porções individuais. Mais práticas e projetadas para evitar desperdício, ganharam a atenção de consumidores e empresas, como a Alibey, de alimentos.
No ano passado, a fabricante de tortas holandesas criou embalagem com seis porções individuais, que antes eram vendidas inteiras.
Sem fazer campanha de marketing nem veiculação na mídia, viu a venda dos produtos aumentar 27%.
A divisão em porções individuais, diz Marcelo Beyruti, diretor da Alibey, agregou valor à sobremesa por causa da praticidade. "A nova embalagem também diz o que é o produto de forma rápida, com fotos e textos."
As porções menores servem sobretudo a dois tipos de consumidor, analisa Gilberto Strunck, membro do conselho consultivo da Popai Brasil (assessoria de marketing no ponto de venda): aqueles que moram sozinhos e os com menor renda.
"Temos uma quantidade enorme de pessoas que an-tes moravam em grupos e agora estão sozinhas, uma juventude que preferiu não se casar e pessoas mais velhas que se separaram."
Já os mais pobres, diz, compram menores quantidade para não deixar de consumir a marca que preferem, embora seja mais cara.
Material reciclado é tendência
Empresas querem associar sua imagem ao ativismo ambiental a fim de agradar aos clientes
Primeiro contato dos clientes com a maioria das empresas fabricantes de bens de consumo, a embalagem deve ser tratada como um verdadeiro cartão de visitas.
Pensar no valor que o recipiente agrega à empresa, levando em conta o que o consumidor quer ver, é essencial, avalia o especialista em imagem empresarial e presidente da ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas), Luiz Alberto de Farias.
A bola da vez, diz, é o ambiente. "Uso de materiais reciclados, potencial reciclável da embalagem, potencial de descarte e logística reversa [recolhimento de resíduos remanescentes pela empresa após o consumo] são informações que constam dos rótulos e mostram valores."
Sócio e diretor de arte da agência de design i10as, Carlos Augusto Franco de Camargo confirma que as embalagens que não agridem o ambiente são tendência. O intuito, explica, é inspirar orgulho nos consumidores, sobretudo nos jovens.
Cria-se, dessa forma, um relacionamento, e o produto assume um novo posicionamento para o cliente.
PARA VIAGEM
Não é só a embalagem primária -que envolve os produtos- que vem sendo foco do politicamente correto.
A Extrusa-Pack, fábrica de embalagens plásticas, lançou neste ano a sacola plástica compostável, que é biodegradável e, em um período médio de 180 dias em um aterro, transforma-se em adubo, água e gás carbônico.
O preço da sacola é maior, porém o gasto dos supermercados que aderiram à moda diminuiu, já que o custo foi repassado para o consumidor, que compra as sacolas separadamente.
Em Jundiaí (a 58 km da capital paulista), onde a presença do produto nos mercados é obrigatória, cada sacola sai a R$ 0,19, equivalente ao preço de custo do item.
O investimento tem dado retorno. A Extrusa-Pack acaba de investir R$ 4 milhões na ampliação da fábrica, que produz 3.000 toneladas e recicla 1.200 toneladas de sacolas plásticas por mês.
"As sacolas não vão acabar nos mercados. Seguimos uma padronização muito exigente para transportar alimentos. Uma caixa de papelão ou uma sacola retornável não tem a mesma higiene da sacola plástica", comenta o diretor Leandro Barcos.
Nos próximos 15 dias, a empresa vai lançar os sacos de lixo compostáveis, feitos com o material que sobra na produção das sacolas.
Veículo: Folha de S.Paulo