A reciclagem de produtos eletroeletrônicos já faz parte da agenda ambiental de muitas empresas, mas a difusão dessa prática no Brasil depende da motivação do consumidor final em descartar corretamente o produto. Ao adquirir um modelo novo, a maioria opta por guardar o antigo ou mesmo doá-lo a terceiros. É com a perspectiva de mudar esse comportamento que grandes empresas do setor como Philips, HP e Itautec estão desenvolvendo programas de reciclagem. O que se pretende é mostrar que a melhor decisão é devolver o produto ao próprio fabricante, que dispõe de processos mais adequados para esse fim.
A tarefa não é simples porque, além de uma nova postura, requer um canal de relacionamento que permita ao consumidor identificar como proceder para descartar de forma adequada o produto. Outra dificuldade diz respeito à logística do processo, ou seja, a instalação de pontos de coleta com abrangência nacional e transporte das mercadorias para centros de reciclagem homologados.
Até agora os resultados são considerados animadores. A Philips, por exemplo, conseguiu aumentar em dez vezes o volume de material coletado em pouco mais de sete meses de existência do seu programa Ciclo Sustentável. No primeiro mês, a companhia recolheu o equivalente a 8 toneladas de aparelhos das marcas Philips e Walita e, agora, registra volume de 70 toneladas. "Precisamos aumentar ainda mais essa tonelagem", diz Walter Duran, diretor de sustentabilidade.
Pelo serviço 0800, o consumidor pode obter informações sobre o ponto de coleta mais próximo de sua residência para entregar um produto antigo ou quebrado. A busca pode ser feita também na página da empresa na internet. Outra opção é o consumidor pagar uma taxa de R 40 para retirada do produto em sua casa. "O programa foi projetado para reciclar 200 toneladas por ano de produtos. Provavelmente, vamos terminar 2010 com 50% da capacidade instalada", estima Duran.
No Brasil, a HP coleta todos os anos entre 3 a 4 toneladas de pilhas e baterias e cerca de 300 mil cartuchos de impressora nos 47 centros de credenciados. No caso dos cartuchos, o reprocessamento ocorre dentro das instalações da companhia. Os demais produtos são destinados a recicladoras instaladas nos municípios paulistas de Sorocaba e Paulínia, reprocessados e inseridos novamente na cadeia de manufatura da empresa e na de outras indústrias. "A HP compra mais de 100 toneladas de resinas recicladas no Brasil para usar, principalmente, na linha de impressoras", revela Kami Saidi, diretor de sustentabilidade ambiental.
O executivo aposta em um crescimento nos volumes de reciclados nos próximos anos por causa da inclusão do tema da sustentabilidade nas políticas internas das empresas, do maior nível de conscientização dos usuário doméstico e por causa da aprovação da Lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Na avaliação de João Carlos Redondo, gerente de sustentabilidade da Itautec, uma das grandes dificuldades para consolidação da prática de reciclagem no Brasil é encontrar parceiros fora da região Sudeste para processamento local dos materiais. Mesmo assim, a empresa trabalha com 22 empresas de reciclagem e dispõe de 34 pontos de recebimento de produtos que lhe garantiram 336,9 toneladas de resíduos eletrônicos reciclados nos primeiros seis meses do ano, peso equivalente a 40 mil equipamentos. Nos últimos três anos, a empresa preparou e destinou para reciclagem mais de 1.700 toneladas de resíduos eletrônicos que retornaram à cadeia produtiva como matéria-prima.
As placas dos equipamentos são trituradas, submetidas a tratamento químico e fornecidas para duas empresas da Bélgica e de Cingapura homologadas pela Itautec, que atuam no ramo de metais nobres. De uma tonelada de placas, são extraídos entre 300 e 500 gramas de ouro, palladium, prata, cobre, estanho e outros materiais.
Veículo: Valor Econômico