Instalada há mais de 100 anos no bairro do Ipiranga, em São Paulo, a indústria Coats Corrente, fabricante de zippers e linhas de nylon e algodão, foi a primeira do país a receber água de reúso por adutora. Após investimento de R$ 180 milhões em maquinário e mudanças na produção, são consumidos mensalmente 65 milhões de litros, a preços que correspondem a 10% do cobrado pela água potável.
"Precisávamos competir com concorrentes abastecidos por rios ou poços artesianos sem custos", afirma o engenheiro de segurança Mário Alves Rodrigues, responsável pelo sistema implantado na empresa. A despesa com água, antes equivalente a 6% do custo do produto, hoje é de apenas 2%. "No passado, no pico da produção, nosso consumo era comparável ao de muitas cidades do interior."
Grandes volumes são utilizados para o resfriamento de máquinas e processos de lavagem e tingimento. "Após um mês, obtivemos lucro com o investimento na água de reúso, com a vantagem se ser captada a 300 metros de distância na Estação de Tratamento Jesus Neto", diz Rodrigues. "Falta melhorar a qualidade para o tingimento, mas a economia é muito relevante", acrescenta. O plano é ampliar a substituição da água potável também para lavagem de pisos e instalações industriais, mediante a implantação das normas ambientais ISO 14.000, prevista para este ano.
"A adoção de boas práticas é crescente e mais de 80% das indústrias de São Paulo, principalmente as que dependem de grandes volumes de água, inclusive as micro e pequenas, estão investindo em soluções para diversos processos, como o consumo pelas torres de resfriamento", diz Nelson Pereira dos Reis, diretor de meio ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A entidade reúne um acervo de experiências ligadas ao Prêmio de Conservação e Reúso da Água, como é o caso da empresa de papel e celulose Lwarcel, que em três anos reduziu o consumo para menos da metade. Em geral, os investimentos dos últimos anos têm proporcionado uma economia de água entre 40% e 80% nas indústrias paulistas.
Entre 2001 e 2009, segundo a Fiesp, a participação da água de reúso no consumo da indústria química aumentou de 3,7% para 34,1%. Como resultado, o custo por tonelada de produto fabricado caiu mais que um terço. Com a redução no uso e a menor geração de efluentes, o tratamento anterior ao despejo nos rios ficou duas vezes e meia mais barato. (S.A.)
Veículo: Valor Econômico