Muitas empresas se preocupam em vender produtos em embalagens sustentáveis, que priorizam os cuidados com o meio ambiente – uma forma de projetar a marca de forma positiva. Mas esse tipo de ação pode deixar de ser um diferencial. "Os consumidores estão cada vez mais preocupados com sustentabilidade. Eles querem itens que não agridam o meio ambiente e usem menos recursos naturais", disse a consultora em design sustentável Elisa Quartim.
Ela citou a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que leva as empresas a mudar seus processos, inclusive da embalagem, para incentivar a reciclagem de lixo e o manejo correto dos produtos. Fabricantes, distribuidores e comerciantes têm que recolher as embalagens usadas. "Foi criada a responsabilidade compartilhada entre sociedade e governo."
Não é difícil encontrar exemplos de companhias que integraram a sustentabilidade no dia a dia. A Brinquedos Estrela escolheu o tradicional jogo Banco Imobiliário para inovar. O produto é feito com peças de plástico verde, material obtido da cana-de-açúcar; o tabuleiro, a caixa e as cartas são de papel reciclado. Essa versão custa, em média, R$ 10 a mais do que a tradicional – chega a R$ 90. Além disso, a empresa aboliu o plástico shrink (fininho e elástico), que envolvia as embalagens dos jogos.
O diretor de marketing da Estrela, Aires Leal Fernandes, explicou os motivos da empresa. Segundo ele, a companhia quer "assumir a responsabilidade que as empresas têm de cuidar do meio ambiente, e também oferecer um diferencial para elevar as vendas".
O setor de alimentos também está engajado. As tampinhas dos leites UHT das linhas Ninho e Molico, da Nestlé, são feitas com derivados de cana – o que contribui para reduzir as emissões de gases que geram o efeito estufa. A Taeq, do Grupo Pão de Açúcar, reutiliza as embalagens de papel deixadas pelos clientes nas Estações de Reciclagem e nos caixas verdes para serem reaproveitadas. E a Coca-Cola utiliza uma garrafa PET na qual o etanol da cana substitui parte do petróleo utilizado como insumo.
"O consumidor está mais consciente. As empresas precisam enfrentar a concorrência e priorizar o cuidado com o meio ambiente", afirmou o coordenador da pós-graduação em embalagens do Instituto Mauá, Antonio Cabral.
Já a professora de pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Gisela Schulzinger, abordou os preços mais altos dos produtos sustentáveis. "Isso vai mudar com o tempo, à medida em que seja registrado o aumento dos processos."
Dificuldade de manuseio pode prejudicar consumo
Quem sofre um "acidente de consumo" e se machuca tentando abrir uma embalagem poderá nunca mais comprar o produto. Esse foi um dos pontos abordados ontem no Encontro Internacional de Inovação, com o tema Design Universal, organizado pela Associação Brasileira de Embalagem (Abre), em São Paulo.
Uma das palestrantes do evento, a coordenadora do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Lisa Gunn, citou uma pesquisa feita pelo instituto para demonstrar o que o consumidor quer da embalagem: segurança, praticidade e sustentabilidade. Além disso, ela deve esclarecer se foi feita com material reciclado – e se é reciclável.
Entre as embalagens mais difíceis de serem manuseadas, foram indicados os vidros com tampa metálica e lacre, e as de vinagre – já que o lacre tipo "fita" se quebra e a pessoa tenta abrir a tampa até com os dentes. As embalagens de CDs e DVDs também ganharam destaque
Veículo: Diário do Comércio - SP