A Rhodia Coatis deu o primeiro passo para a criação do acrílico verde. Para começar a grande virada, a companhia fechou um acordo com a norte-americana Cobalt Technologies, especializada em bioquímicos, para a produção de butanol de fonte renovável na América Latina a partir do bagaço de cana-de-açúcar. Com isso, a Rhodia preparar o terreno para substituir a produção do butanol feito do propeno importado, que ela utiliza em suas fábricas no Brasil, pelo produto biológico, chamado de "bio n-butanol", até 2015, quando a expectativa é de que a produção atinja 200 mil toneladas.
Segundo o presidente da Rhodia Coatis, Vincent Kamel, para produzir a nova substância estão sendo elaborados estudos de viabilidade para instalações de biorefinarias. "Estamos analisando porque teremos de fechar acordo com grandes produtores de etanol para que possamos garantir proximidade com as matérias-primas", explica o executivo, sem dar mais detalhes de possíveis parceiros.
Conforme Kamel, a Cobalt foi escolhida para o projeto por ter desenvolvido uma rota bioquímica celulósica de produção do butanol a partir de biomassa de bagaço de cana, cavacos de madeira e glicerina, a um custo de produção 60% menor que o atual feito de derivado de petróleo.
O anúncio do local de instalação da primeira unidade do bio butanol será revelado dentro de quatro a seis meses. Segundo ele, para atingir a produção de 200 mil toneladas de bio n-butanol por ano, serão necessárias perto de 15 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.
Atualmente, a Rhodia possui uma parceria com a Usina Paraíso Bioenergia, localizada em Brotas, no interior de São Paulo, para a co-geração de energia a partir do bagaço de cana. Porém, o executivo não confirmou se a unidade da Cobalt será levantada nesta usina. Kamel preferiu não divulgar quanto será investido neste primeiro momento, uma vez que neste momento foi fechado o acordo e que os estudos de viabilidade ainda estão sendo feitos.
A Cobalt já possui uma planta piloto em Michigan, nos EUA, que produz 1,2 mil toneladas de bio butanol por ano e sua primeira unidade de produção comercial será construída no Estado do Texas com inauguração prevista para 2013 com produção de 30 mil toneladas por ano, conforme o presidente da Cobalt Technologies, Rick Wilson.
No Brasil, a empresa também estuda a utilização da glicerina, resíduo formado durante a produção de biodiesel, para abastecer a refinaria de bio n-butanol durante a entressafra da cana-de-açúcar. "Neste período, quando a oferta de bagaço é menor, poderemos usar a glicerina, que também tem um baixo custo por ser resíduo", disse Kamel. Segundo ele, a Rhodia também poderia utilizar apenas a glicerina para produção do butanol renovável já que a rota de produção é praticamente a mesma do bagaço. "Porém, preferimos o bagaço de cana porque o setor sucroalcooleiro já está estabelecido no País há mais de 30 anos, enquanto o setor de biodiesel ainda é um programa que está começando no Brasil", explica.
A diretora da consultoria Maxiquim, Solange Stumpf, acredita que os produtos que vem sendo desenvolvidos a base de matérias-primas renováveis na indústria química devem, aos poucos substituir aqueles de matérias-primas fósseis. "Mas só substituirão totalmente ou ganharão parte expressiva de mercado, se tiverem um custo competitivo", acrescenta.
De acordo com ela, o fundamental nesses projetos é o foco no custo. "Isso já é uma grande coisa, pois a maior parte dos desenvolvimentos anunciados só enfoca a questão de meio ambiente", diz. Segundo a especialista, no Brasil, o mercado consumidor ainda não está preparado para pagar um preço maior por um produto sustentável", mas isso deve mudar aos poucos."
Solange explica que, no caso da Rhodia, uma das outras matérias-primas para a produção do solvente acetato de butila, o ácido acético, já é produzido via rota etanol, ou seja, de fonte renovável. "Porem, sabe-se que os próprios produtores locais preferem importar tal produto do que produzir localmente, pois a rota não é competitiva, são plantas antigas", diz ela, acrescentando que isso mostra a complexidade do negócio. "No entanto não invalida o pioneirismo brasileiro nesta área, que abrirão muitas oportunidades de negócios."
A Rhodia aposta na competitividade do produto, uma vez que a empresa paga hoje até US$ 1,5 mil por tonelada do propeno importado para produzir o butanol. Com o bagaço de cana o preço fica em torno de US$ 200 por tonelada. O preço do produto final, entretanto, não deve baixar, segundo Kamel. "Teremos um preço pelo menos semelhante ao cobrado hoje, uma vez que temos a favor o apelo da sustentabilidade", afirma.
A Rhodia Coatis é a unidade de negócios da Rhodia - uma empresa do grupo Solvay - na área de produção de solventes oxigenados. No ano passado, a Rhodia faturou globalmente 5,23 bilhões de euros.
Veículo: DCI