Jeans "lavado", mas sem água

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Da plantação de algodão na Índia até o "brechó" local, um típico par de jeans consome 3.478 litros de água durante seu ciclo de vida, segundo a Levi Strauss & Company. Isso inclui a água usada para irrigar a plantação, elaborar o jeans e lavá-lo dezenas de vezes em casa.

A empresa quer reduzir esse número de qualquer maneira, e não apenas para projetar responsabilidade ambiental. Ela teme que a escassez de água causada pela mudança climática possa ameaçar sua própria existência nas próximas décadas, tornando o algodão caro demais ou escasso.

Por isso, a Levi Strauss ajudou a promover um programa sem fins lucrativos que ensina aos agricultores da Índia, Paquistão, Brasil e África Ocidental e Central as últimas técnicas de irrigação e captação de água da chuva. Ela lançou uma marca que apresenta o jeans "stone-washed" [lavado na pedra] com rochas, mas sem água. E está costurando etiquetas em todos os seus jeans pedindo que os consumidores os lavem menos e usem só água fria. Para clientes que buscam mais orientações, a Levi Strauss sugere lavar os jeans raramente ou nunca -diz a teoria que colocá-los no congelador mata os germes que causam odores.

As preocupações ambientais não se limitam às gigantes da vestimenta: conglomerados de alimentos e bebidas, empresas de tabaco e companhias de metal e mineração começam a admitir sua grande dependência da água. A Pepsico, por exemplo, adotou o método de higienizar as garrafas plásticas com ar purificado, em vez de água. Para suas marcas Frito-Lay, ela identificou variedades de batata resistentes à seca, que fornece aos agricultores junto com um método de monitoração do solo para as plantas serem irrigadas apenas quando necessário.

O "Carbon Disclosure Project" [Projeto Revelação do Carbono], um grupo que monitora as emissões de gases do efeito estufa das empresas, acrescentou recentemente a segurança hídrica a suas prioridades. Das 150 empresas que responderam no ano passado a um questionário que ela enviou para as maiores corporações do mundo, quase 40% relataram que problemas de água já tinham resultado em "impactos negativos" para seus negócios.

A ameaça da falta de água foi salientada no ano passado quando as enchentes no Paquistão e os campos ressecados na China destruíram plantações de algodão e fizeram os preços disparar. Aproximadamente um quilo de algodão é usado em cada par de jeans.

Como o algodão é cultivado principalmente por uma rede difusa de pequenos agricultores em mais de 70 países, encorajar práticas de eficiência hídrica é um desafio formidável. O cultivo do algodão representa mais de 3% do uso da água agrícola no mundo e 6% de todas as compras de pesticidas.

Em 2005 organizações não governamentais e a indústria do algodão e alguns varejistas gigantes como Ikea, Gap e Adidas fundaram a "Better Cotton Initiative" [Iniciativa do Algodão Melhor], um grupo internacional sem fins lucrativos para promover a conservação da água e reduzir o uso de pesticidas e as práticas de trabalho infantil na indústria.

A Levi Strauss aderiu em 2009. Um estudo durante três anos com fazendas indianas descobriu que as que adotam as novas técnicas reduziram o uso de água e pesticida em média 32%, segundo a iniciativa. O lucro foi 20% maior que o de um grupo de controle que usou os métodos tradicionais. A Índia tem milhares de pequenos agricultores de algodão.

Kailash Himmitrao Mahalle planta algodão em Shelu, Índia. Em um lado de sua fazenda de 6 hectares, que foi usada para comparar os métodos, as plantas têm cerca de 30 centímetros a mais e apresentam mais flores do que as situadas do outro lado. O campo mais fértil tem um sistema de irrigação por gotas que foi instalado pela Iniciativa Algodão Melhor.

Mahalle disse que seu consumo de água diminuiu cerca de 70%.

A colheita resultante dos novos métodos agrícolas hoje é citada pela Levi Strauss e a iniciativa como "algodão melhor". A Levi Strauss diz que cerca de 5% do algodão usado nos 2 milhões de pares de jeans que a companhia enviou para as lojas neste outono foram plantados com o método sustentável. A empresa quer que o número chegue a 20% até 2015.

A Ikea espera usar exclusivamente "algodão melhor" até 2015. A Adidas disse que sua meta será o mesmo até 2018.


Veículo: Folha de S.Paulo


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