Agricultor devolve 94% das embalagens de agrotóxicos

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"Atingimos a maturidade do sistema", garante o presidente-diretor do Instituto Nacional do Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), João César Rando. Vinte anos depois da idealização desse empreendimento da reciclagem, a cadeia produtiva dos agrotóxicos deve registrar, neste ano, uma coleta de 37 mil toneladas de recipientes - em média, 94% do descarte total. As chamadas embalagens primárias, que entram em contato direto com os defensivos agrícolas, costumavam a ter destinos incertos: "A orientação, até 2002, era cobri-las com plástico para enterrá-las. Apenas uma pequena parte dos agricultores, por razões óbvias, fazia isso. A maior parte queimava tudo", conta Rando.

Em 2000, legislou-se sobre a questão de modo a responsabilizar toda a cadeia produtiva, do agricultor ao fabricante, passando pelo distribuidor de agrotóxicos, pela destinação adequada das embalagens vazias. Mas o sistema Campo Limpo, que é a espinha dorsal do Inpev, já vinha sendo criado desde 1992. E, depois do Decreto 4.074/02, que criou o próprio Inpev, o sistema se tornou uma experiência referencial - para a Política Nacional de Resíduos Sólidos, por exemplo.

Baseado nos preceitos da chamada logística reversa, o Campo Limpo funciona da seguinte forma: o produtor rural é responsável pela lavagem e devolução dos recipientes; os postos para onde vai o material devem ser administrados por distribuidores de agrotóxicos e cooperativas; e os fabricantes cuidam da parte logística, como o transporte das embalagens entre as unidades de recebimento e as centrais de reciclagem e incineração. "Na volta, a embalagem faz praticamente o mesmo caminho da ida", resume Rando.

Em números, participam do sistema 421 pontos de recebimento, nove locais de reciclagem e cinco de incineração. 92 fabricantes integram o Inpev. 94% das embalagens primárias são recicladas e 80% das secundárias (como caixas de papelão) também.

Por trás da operação, o Inpev é uma associação de 92 fabricantes. Investiram-se R$ 450 milhões na implantação do Campo Limpo, que tem um custo operacional anual de R$ 70 milhões. A agroindústria assume 85% dos investimentos, segundo Rando.

"[A criação do sistema] foi uma mudança de cultura por necessidade, com muito investimento feito em educação e orientação", observa o representante. "O sistema ajudou a referenciar alguns pontos da lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos", afirma.

Enquanto o Brasil recicla 94% das embalagens de agrotóxicos, o Canadá e a Alemanha fazem isso a nível de 70%. O Japão, a 50%, e os Estados Unidos reciclam 30%.

Benefícios, punição

Diversos são os cálculos e as estimativas para medir os benefícios sociais, econômicos e ambientais do sistema Campo Limpo. Em dez anos de existência, por exemplo, o projeto teria evitado a emissão de 250 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2). Teria também evitado a derrubada de 1,1 milhão de árvores e o consumo de 570 mil barris de petróleo.

Tamanha é sua presença na legislação brasileira, ou melhor, a presença das exigências que o acompanham, que uma empresa estrangeira não consegue autorização para vender agrotóxicos no País sem garantir que é, tal qual, capaz de gerenciar seus resíduos.

"No caso de não-cumprimento da legislação, as multas podem chegar a R$ 20 mil", explica o coordenador de Agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Luís Eduardo Rangel, que comentava o tema nesta semana.

 

Veículo: DCI


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