Marketing sem dourar a pílula

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Projeto da P&G utiliza resíduos gerados pela subsidiária brasileira para a fabricação de materiais promocionais.

 
Ser sustentável tornou-se praticamente um dever no século 21 – em especial no mundo dos negócios. Muitas empresas gostam de estampar nos seus princípios que são responsáveis socialmente e ecologicamente. Mais: criam produtos e serviços lançados no mercado com o selo “verde”. Ganham com isso o apoio de consumidores conscientes e preocupados com o meio ambiente. Infelizmente, com frequência, muito desse apelo resume-se a uma ação de marketing, com escassa conexão com a realidade, ficando as ações realmente ecológicas por conta de um punhado de companhias. Mas existe uma empresa que resolveu fazer marketing sustentável, no sentido literal da expressão, sem preocupação de dourar a pílula.

Trata-se da americana P&G, um dos maiores fabricantes de bens de consumo de higiene e limpeza do mundo, que está utilizando milhares de toneladas de resíduos gerados anualmente pela subsidiária brasileira para a fabricação de materiais promocionais em seus pontos de venda. O pontapé inicial dessa estratégia foi uma parceria firmada entre a P&G e a paulista WiseWaste, que desenvolve soluções de reciclagem. O primeiro resultado dessa união chegou ao mercado em fevereiro deste ano, com a fabricação de displays da marca de produtos dentários Oral B, feitos de material reciclado. A novidade está presente em 125 lojas da rede Extra Hiper, do grupo Pão de Açúcar, em São Paulo.

A matéria-prima usada no equipamento é o plástico de polipropileno, um dos componentes das embalagens dos produtos da P&G. “Agora que já desenvolvemos essa resina, nosso objetivo é utilizá-la em todos os objetos promocionais feitos de plástico”, afirma Gabriela Onofre, diretora de sustentabilidade da companhia. “À medida que nossos materiais promocionais forem renovados, eles já serão fabricados com o plástico reciclado.” A estimativa da executiva é de que essa renovação total aconteça em dois anos. Até agora já foram recolhidas mais de mil toneladas de materiais recicláveis de cinco cooperativas credenciadas pela companhia.

 
Guilherme Brammer, Sócio da WiseWaste: "Agregamos uma nova solução sustentável à cadeia da P&G, sem modificar seus processos e operações"


De acordo com Gabriela, o custo da produção do material promocional não sofreu alterações – afinal, os fabricantes não mudaram, apenas passaram a utilizar o plástico desenvolvido pela WiseWaste.” Agregamos uma nova solução sustentável à cadeia da P&G, sem modificar necessariamente seus processos e operações”, diz Guilherme Brammer, sócio da WiseWaste.” A grande dificuldade foi desenvolver um material tão resistente quanto o plástico virgem.” Para tirar o projeto do papel, Brammer, que é engenheiro de materiais, tem se dedicado ao desenvolvimento do composto reciclado nos últimos dois anos. Ele também selecionou as cooperativas que participariam do projeto e escolheu as empresas que fabricariam a nova resina.

Agora que a novidade já chegou ao mercado e se mostrou viável, o próximo desafio de Brammer será aumentar essa cadeia de produção para atender à demanda anual da P&G, que fatura R$ 2,3 bilhões com a venda de produtos de 25 marcas diferentes em mais de 700 mil pontos de venda. Outra investida do empresário será o desenvolvimento de novas alternativas de materiais reciclados, como tecidos e papéis. “Se tivermos outros tipos de material viáveis, poderemos adotar essa política para todos os nossos equipamentos promocionais”, afirma Gabriela. Uma das motivações da iniciativa da companhia americana foi alinhar-se com a lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

A legislação obriga as empresas a adotar a chamada logística reversa, dando um fim adequado às suas embalagens e produtos. Uma das metas previstas na PNRS é que, até 2015, cerca de 20% dos resíduos sólidos sejam reciclados. De acordo com Clovis Benvenuto, diretor da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública, trata-se de uma estimativa ambiciosa. Segundo ele, atualmente, menos de 1% de todo o lixo produzido no País é reaproveitado. “Essa realidade mudará quando as grandes empresas investirem nessa causa”, afirma Benvenuto. “Estudando o ciclo de vida dos materiais é que conseguiremos mudar o perfil do lixo no Brasil.”

 
Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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