Fabricantes como HP, Dell e IBM investem em logística reversa, design mais sustentável e na remanufatura de equipamentos
Na outra ponta do consumo desenfreado de eletrônicos, uma questão vem ganhando relevância para os fabricantes: o que fazer com os equipamentos que rapidamente se tornam obsoletos nas mãos de consumidores e empresas? Na esteira desse cenário e dos desdobramentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, algumas empresas já se movimentam para ir além dos processos básicos de reciclagem. As iniciativas vão desde a concepção dos produtos até o recondicionamento dos aparelhos e mesmo a reinserção de seus materiais no processo produtivo do fabricante.
Com um programa de reciclagem desde 2006 no Brasil, inicialmente mais voltado às impressoras, cartuchos e toners, a Hewlett-Packard (HP) ampliou gradativamente a iniciativa para todo o seu portfólio, que inclui desktops, notebooks, servidores e tablets, entre outros itens. A empresa também vem expandindo suas ações, antes mais restritas à coleta, reciclagem e destinação dos materiais resultantes, para outras indústrias ou parceiros especializados na destinação adequada dos resíduos.
Um dos esforços da HP nasce no design dos produtos, com a eliminação de metais pesados e a redução de matéria-prima empregada. “Há 6 anos, uma impressora doméstica pesava em torno de 6 kg. Hoje, pesa cerca de 3,5 kg e tem mais funções. Ao mesmo tempo, essa abordagem torna menos onerosa a logística reversa e agiliza o processo de reciclagem”, diz Kaimi Saidi, diretor de sustentabilidade da HP. Hoje a empresa tem postos de coleta distribuídos pelo país e oferece ainda a coleta gratuita na casa do consumidor ou nas instalações de empresas. Para aprimorar a reciclagem, a companhia também está adotando chips que rastreiam e trazem todas as informações daquele determinado aparelho, desde sua data de fabricação até os materiais que ele contém.
Os investimentos em pesquisa para reaproveitar os materiais na linha de produção de novos itens são mais uma vertente. Hoje, a partir dessa abordagem, o índice de reaproveitamento de matéria-prima de qualquer equipamento da HP é de 98%. “Chegamos a recuperar 20% de todo o custo envolvido nessas iniciativas”, diz Saidi. “Reciclamos cerca de 800 toneladas no Brasil em 2013 e para 2014, a expectativa é chegar a 1 mil toneladas”.
Com estratégias semelhantes, a Dell lançou em junho no país seu primeiro computador fabricado a partir de plásticos reciclados. Por meio de uma parceria com os Correios, a empresa oferece um serviço gratuito para a coleta de desktops, notebooks, monitores, impressoras, scanners e acessórios da marca na casa dos consumidores. O material é destinado para empresas especializadas na reciclagem e no descarte dos resíduos. Para controlar todo esse ciclo, além de critérios rigorosos de seleção, a Dell tem seus sistemas interligados com essa cadeia e realiza auditorias periódicas nos parceiros.
Segundo Cintia Gate, gerente de serviços de reciclagem da Dell para a América Latina, as indefinições em torno da Política Nacional de Resíduos Sólidos são um entrave para estender o processo de coleta aos clientes corporativos. “Em virtude de questões como o volume de equipamentos e a emissão de notas fiscais para a saída desse material das empresas, o maior ponto de interrogação ainda é a logística reversa. Nesse caso, o programa não pode ser de apenas uma empresa, mas sim, fruto de um esforço conjunto da indústria. Mas ainda não há um consenso”, diz. “Ao mesmo tempo, outro grande desafio é o fato de que diversos municípios e estados estão aprovando suas próprias leis, quando não temos uma definição do próprio governo federal sobre como vai funcionar todo esse processo”, explica.
À parte desses debates, a Dell planeja lançar no Brasil – ainda em 2014 – um serviço pago de coleta para o mercado corporativo. “É uma oferta que já temos em outros países. Muitos dos nossos clientes globais já estão demandando esse mesmo serviço no Brasil”, diz.
As iniciativas não estão restritas à indústria. Há cerca de três anos, a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) iniciou um projeto piloto de logística reversa de eletroeletrônicos. Hoje, a ação conta com 11 postos de coleta na cidade de São Paulo e desde que foi implementada, já reciclou 500 toneladas de produtos, sendo que 60% desse volume é dos setores de informática e de telefonia. “Desde o começo, nossa ideia foi trazer realmente o conceito da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece a responsabilidade compartilhada para todos os elos da cadeia, incluindo os consumidores. O retorno nessa frente tem sido positivo”, diz Carlos da Silva Filho, diretor-presidente da Abrelpe. Ele destaca ainda o potencial de geração de receitas nesses processos, especialmente pelo fato de muitos dos eletrônicos – especialmente celulares e placas de computadores – conterem metais nobres em sua composição.
A IBM é uma das empresas que já têm um modelo de negócios definido nesse segmento, por meio do Banco IBM, seu braço brasileiro responsável pela oferta de financiamentos para a compra de equipamentos, softwares e serviços. O banco investe na remanufatura e na venda de máquinas – de qualquer marca - que retornam ao inventário da IBM, por meio de três modelos: a volta de produtos ao término dos contratos de leasing operacional; as máquinas usadas por clientes em projetos de outsourcing da IBM; e a recompra de equipamentos pela própria companhia. Entre outros benefícios, nos casos de leasing de máquinas recondicionadas, o banco estima o valor do equipamento no término do contrato e retira essa cifra das prestações. O cliente só paga a quantia caso decida ficar com o produto no fim do contrato. “Em média, essas máquinas recondicionadas são 20% mais baratas do que um equipamento novo”, diz Felippe Melo, diretor do Banco IBM.
Os equipamentos recebidos são submetidos aos mesmos testes e triagens de uma máquina nova. A partir dessa avaliação, o hardware pode ser recondicionado; ter suas peças vendidas para empresas de manutenção, no caso da remanufatura não compensar financeiramente; ou, como última opção, ser destinado à reciclagem ou descarte, via parceiros. Em média, 90% são revendidos. “Uma das principais demandas para esses equipamentos usados são as empresas que estão montando uma estrutura de redundância ou de recuperação de desastres, o que não exige o investimento em uma máquina nova”, afirma Melo.
Veículo: Brasil Econômico