Com a escassez de recursos e a alta nas tarifas de água e energia, alternativas sustentáveis para a produção industrial são cada vez mais adotadas por microcervejarias pelo País.
A fábrica da microcervejaria Dortmund, em Serra Negra, interior de São Paulo, é um exemplo dessa mudança no perfil das indústrias e mesmo com produção em pequena escala investe no manejo sustentável dos recursos.
"Desde o início pensamos em sustentabilidade, com o uso da madeira sendo uma alternativa ao uso do gás natural nas caldeiras. Além de ser uma opção mais econômica também", afirma o proprietário da Dortmund, Marcel Longo. Ele estima que hoje 99% das microcervejarias usam gás.
Para alimentar as caldeiras da linha de produção, a cervejaria usa madeira de uma área de reflorestamento e sobras de fabricantes de móveis da região. Segundo Longo, para compensar a emissão de gás carbônico, resultante da fabricação, a Dortmund mantém reserva de mata atlântica de 40 alqueires em seu entorno.
Viabilidade
A preocupação com a sustentabilidade fez parte do planejamento da empresa antes mesmo da sua inauguração, três anos atrás, conta Longo.
Hoje, a fábrica, que tem capacidade de produzir até 2 mil litros de cervejas por dia, funciona três ou quatro dias por semana, dependendo da demanda. Ele explica que o baixo volume de produção torna mais fácil a aplicação de alternativas mais sustentáveis.
Na opinião do empresário, práticas como as adotadas na Dortmund seriam inviáveis em grandes indústrias, já que em fábricas de grande porte a necessidade de automação dos processos é maior, para atender a larga escala.
Além do uso de madeira, a Dortmund também trata resíduos sólidos e água. Por meio de uma pequena estação de tratamento a água com a soda cáustica e o ácido nítrico, usados para limpar parte dos equipamentos da linha de produção, são devolvidos à rede de saneamento básico da cidade totalmente tratadas.
Custos
De acordo com o professor da Escola Superior de Cerveja e Malte, Carlo Enrico Bressiani, a preocupação das fabricantes com a produção sustentável também está atrelada à redução dos custos e passa por duas questões principais: o tratamento de resíduos sólidos e o alto consumo energético.
"O custo da água subiu muito nos últimos anos e a energia, que antes não era um custo representativo na produção, hoje é significativo", explica.
De olho nas oportunidades para unir medidas sustentáveis e economia, a Dortmund já começou a pesquisar opções para implementação de uma fonte alternativa de energia. Duas empresas da região estão desenvolvendo projetos de energia eólica e solar.
Logo não tem um prazo, porém, para a implementação do sistema, pois os projetos ainda não foram apresentados pelas empresas. Mas o empresário garante que uma das alternativas será adotada o quanto antes. "Nosso objetivo é ser a primeira e única microcervejaria do Brasil 100% sustentável".
Estratégia
Depois de uma década de pesquisa e planejamento, Marcel Longo inaugurou a cervejaria com o objetivo de ser o mais sustentável possível. Um fator determinante para a escolha da cidade de Serra Negra para a instalação da fábrica, por exemplo, foi a boa qualidade da água fornecida na região, consequência do manejo equilibrado dos recursos naturais.
Até o final de 2014 a cervejaria deve adicionar mais duas cervejas ao portfólio, que atualmente tem seis produtos.
Com crescimento anual entre 20% e 30%, a Dortmund tem planos de iniciar a exportação para os Estados Unidos, Espanha e Alemanha no ano que vem, mas a viabilidade do projeto dependerá dos custos de produção e da burocracia.
"Eles [países] são muito competitivos em preço, o que dificulta a nossa entrada. Além disso, as cervejas especiais não são novidade lá fora", pondera.
Veículo: DCI