Para estabelecer uma relação amigável com o ambiente, pequenas e médias empresas buscam adotar medidas sustentáveis. Mas fazer disso um movimento estratégico, que promova a sobrevivência do negócio e sua visibilidade no mercado, exige bom planejamento.
A boa notícia é que esse esforço pode resultar em mais do que apenas um eventual ganho de imagem. O especialista Marcus Nakagawa, idealizador e presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, diz que, caso a empresa siga o planejamento de forma correta, os riscos de fracasso são mínimos. Além disso, as chances de obter retorno - até mesmo financeiro - são consideráveis.
"Para que a sustentabilidade seja implementada de forma saudável, o ideal é que a empresa siga os procedimentos dentro de um esquema que chamamos de tripé sustentável", diz. As três pontas desse esquema são os equilíbrios financeiro, ambiental e social.
Antes de tudo, diz Nakagawa, a empresa tem de estar "limpa" e dentro das leis que regem o mercado.
Uma vez enquadrada no mínimo exigido pela legislação, é hora de analisar os impactos ambientais que o negócio proporciona. Poluição, desperdícios, gastos excessivos de material, energia, água e combustíveis (caso tenha veículos) estão entre os itens da ponta ambiental que devem ser investigados. É nesse exame que a empresa identifica as atividades em que está gastando demais e estabelece metas.
Mais que ecologia
O próximo passo é estudar os seus stakeholders - ou seus públicos de interesse -, como clientes, fornecedores e funcionários. "É de extrema importância que os funcionários entendam o pensamento sustentável", afirma Nakagawa. "Nesse sentido, vejo a criação de um comitê de sustentabilidade como uma saída para fiscalizar as medidas e entender como a equipe trabalha para manter essa identidade", diz.
O comitê pode ser formado, por exemplo, com apenas duas pessoas, que ficarão encarregadas de verificar o andamento do processo.
O tripé fica completo quando a empresa equilibra as contas, envolve seu público interno e externo no esforço sustentável e parte para a última fase dessa transformação: a colaboração com a sociedade. Significa realizar algum trabalho social, por conta própria ou em colaboração com outros agentes, como contribuir com ONGs ou desenvolver projetos educacionais, por exemplo.
Ferramentas
Existem algumas soluções prontas que podem auxiliar a empresa ao longo desse processo de adequação.
Para o controle dos indicadores ambientais, por exemplo, há aparelhos de automação que mostram em tempo real o consumo de energia e água, além de apontar qual área está contribuindo para o equilíbrio ou gastando mais. "Vale pesquisar esses aparelhos no mercado, pois eles são capazes de controlar a pressão da água em um momento em que se deve economizar mais, ou apagar as luzes do ambiente, entre outras atividades ecoeficientes. Eles poupam alguns trabalhos", conta.
O investimento inicial, se bem dimensionado e implementado de acordo com o planejamento, pode valer a pena, explica o especialista. No começo, segundo ele, o processo pode exigir esforço econômico e de cooperação. Mas o efeito pode tender a resultar em lucro em médio e longo prazos, desde que bem planejado.
"Existe um investimento de hora/trabalho, mas que acaba se tornando até um prazer e não uma penitência para os envolvidos. Mais do que isso, a empresa pode alcançar um retorno financeiro", afirma.
O especialista ajudou a MIB Solutions, empresa paulistana de soluções para os setores de varejo e eventos, a adotar o conceito do tripé. Deu certo: a companhia identificou o que poderia ser ajustado, tomou as iniciativas necessárias e hoje vê os ganhos dessa mudança.
Na prática
Apesar de trabalhar com tecnologia, a matéria-prima mais usada pela MIB é papel. Por isso, o primeiro passo foi obter o selo do Conselho de Manejo Florestal (FSC, na sigla em inglês), para garantir que o material utilizado é produzido sem agredir a natureza.
"Quando conquistamos o certificado, em 2009, a ideia de sustentabilidade começou a tomar forma entre o corpo diretivo. A partir daí trabalhamos sobre esse conceito", afirma Ana Luísa, diretora de Recursos Humanos da MIB.
"Também atrelamos o sucesso da estratégia ao comprometimento dos colaboradores", diz a executiva, que formou um comitê para isso. "Convidamos cada integrante a definir uma meta pessoal de sustentabilidade para ser colocada em prática no dia a dia. Isso permitiu o entendimento real dos desafios", diz.
Com as medidas implementadas, a empresa passou a economizar recursos e a melhorar o processo produtivo. "Isso acarretou indiretamente no aumento de lucratividade", conta. Foi um marco na gestão."Há um ganho competitivo entre empresas sustentáveis e não sustentáveis. As grandes marcas buscam fornecedores que sejam bem aceitos pelo consumidor final", afirma.
Veículo: DCI