Industriais relatam dificuldade em atender a demanda pelo produto, que triplicou após entrada em vigor de legislação que proíbe a venda das sacolinhas tradicionais na cidade de São Paulo
As fabricantes de sacolinhas verdes estão com dificuldade de entregar o produto, diante do aumento da demanda. Empresários relatam atrasos de até 20 dias mesmo com funcionários cumprindo horas extras e trabalhando durante os fins de semana. Segundo o diretor da Extrusa-Pack Indústria e Comércio de Embalagens, Roberto Brito, muitos compradores não se planejaram com antecedência quando a lei, que obriga o uso da sacola verde, foi aprovada em São Paulo. "Com isso, muitos clientes procuraram a Extrusa de última hora e a empresa tem dificuldade para atender aos pedidos", disse.
Ele conta que produz 10 milhões de sacolinhas verdes, mas a procura é de 30 milhões entre sacolas verdes e cinzas. "Mesmo com hora extra e trabalho de fim de semana estamos atrasando entre 10 e 20 dias a entrega". A fabricante atende mais de cem clientes em São Paulo, entre revendedores e redes de supermercados.
O gerente comercial da Valbags, Marcelo Bevilaqua, também conta que teve que ampliar o número de horas trabalhadas para atender a demanda. "Estamos priorizando a produção das sacolinhas verdes para atender aos pedidos de São Paulo".
Além da demanda, as empresas estão arcando com uma alta dos custos de produção. As sacolinhas verdes são produzidas com 51% de polietileno verde (bioplástico), e 49% do polietileno convencional. Atualmente, a Braskem é a única fornecedora no Brasil do bioplástico. Segundo empresários ouvidos peloDCI, o custo dessa matéria-prima é 7,5% superior ao da convencional. Em nota enviada ao DCI, a Braskem não confirmou o custo do produto porque considera esse "dado estratégico".
O dono do supermercado de médio porte de São Paulo, Cara Melada, Jairo Braz, sentiu na pele o aumento no custo.
Ele relata que antes da lei comprava 1 kg de sacolas brancas a R$ 10 e agora passou a pagar R$ 19 pela mesma quantidade de sacolas verdes.
Ele continua oferecendo de graça as sacolinhas em seu supermercado, mas relata que elas se esgotam rapidamente. "O fornecedor diz que ainda não tem capacidade para atender toda a demanda da cidade. Já busquei junto a outras empresas, mas todo mundo diz que não tem mais".
A Braskem, porém, garante ter capacidade para atender a demanda de bioplástico do mercado. A capacidade anual de produção de plástico verde é de cerca de 200 mil toneladas. "Neste momento inicial de implementação ainda não temos visibilidade de qual a parcela deste volume será potencialmente capturada pelo plástico verde da Braskem. No entanto, a ordem de grandeza da demanda potencial da cidade de São Paulo é de menos de 2% da capacidade instalada da Braskem", afirmou a petroquímica, em nota ao DCI.
Regulamentação
O aumento de demanda é fruto da regulamentação da Lei Municipal 15.374/2011. A legislação, que entrou em vigor em abril, proíbe a utilização de sacolas convencionais e obriga os estabelecimentos a vender ou distribuir sacolas plásticas verdes ou cinzas produzidas a partir do polietileno verde.
O Estado do Rio de Janeiro estuda uma legislação semelhante à da cidade São Paulo.
Para o presidente da Associação Brasileira de Indústrias Plásticas Flexíveis (Abief), Alfredo Schimidt, essa lei pode trazer desemprego porque a partir dela diversos estabelecimentos decidiram vender as sacolinhas ao invés de distribuir. Isso pode, conforme Schimidt, diminuir a demanda pelo produto no futuro.
"A venda pode reprimir a demanda de sacolinhas", argumenta Alfredo Schimidt.
Veículo: DCI