Elogiados por ambientalistas, novos sacos de compra viram motivo de irritação para parte dos paulistanos; preço e cobrança onde não há coleta seletiva são algumas das principais reclamações na cidade
A publicitária Ivana Queiroz, 49, tenta equilibrar três grandes caixas de papelão com carne, frutas e produtos de limpeza antes de colocá-las em seu carro no estacionamento de um supermercado na praça Panamericana, no Alto de Pinheiros (zona oeste de São Paulo). "Olha o tanto de coisa aqui. Quantas sacolinhas eu teria que comprar por dez centavos? É absurdo", diz.
Na padaria San Remo, no Bom Retiro (centro), o chaveiro Joab Torres, 61, também se revolta ao saber no caixa que precisa desembolsar R$ 0,15 pela sacolinha para colocar os três pãezinhos e o refrigerante que acaba de comprar.
"Você acha que a população está preparada para reciclar? A prefeitura quer resolver isso com essas sacolinhas? Não vou pagar", diz. Operadora de caixa do local, Neide Gomes conta que os clientes estão bravos com a nova regra. "Ninguém quer pagar. Reclamam com a gente, mas não tem o que fazer."
Desde o dia 5, por determinação da Prefeitura de São Paulo, o comércio está proibido de disponibilizar sacolinhas brancas de plástico. Elas foram substituídas por um modelo maior e mais resistente, de material renovável, em duas cores diferentes: verde para os resíduos secos e cinza para os orgânicos. A maioria dos supermercados tem cobrado de R$ 0,08 a R$ 0,10 pela unidade da sacolinha, mas nada impede que eles cobrem mais caro.
A decisão dos supermercados de cobrar pela sacola irritou o prefeito Fernando Haddad (PT). "Sempre puderam cobrar ou não pela sacolinha e nunca cobraram. Agora que você tem um projeto de sustentabilidade vão passar a cobrá-la?", disse na quinta-feira (9). "Eu considero incoerente com a responsabilidade ecológica que todo empresário tem que ter."
A gestão Haddad afirma que a sacola atual é maior, "custando no seu processo produtivo R$ 0,06 por unidade ante os R$ 0,04 da antiga". Ela diz que a diferença de custo "é devido à dimensão". Mas, na avaliação da prefeitura, por ser maior e mais resistente, o atual modelo é mais vantajoso do que o anterior, que costumava ser oferecido gratuitamente.
A Apas (Associação Paulista de Supermercados) diz que o custo das antigas sacolas "não faz mais parte da composição dos preços dos produtos". E que "incentiva que os consumidores tragam seus meios de transporte reutilizáveis para o acondicionamento de suas compras".
SEM SERVIÇO
A funcionária pública Maricleide Silva, 49, moradora de Artur Alvim (zona leste), aprova a nova regra e diz que adoraria separar seu lixo para reciclagem, mas não há coleta seletiva em seu bairro. "Antes de obrigar a usar essa sacola, tinha que botar coleta seletiva na cidade toda."
Já a publicitária Débora Oreggia, 40, esqueceu sua sacola retornável e teve que pagar R$ 0,20 pelas sacolinhas no supermercado. Ela diz que sabia da nova lei, mas não tinha conhecimento de que a bolsa verde servia para lixo reciclável. "Falta informação. Precisa ter uma campanha para explicar as regras."
Para o ambientalista Carlos Bocuhy, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o poder público precisa ampliar programas de conscientização para a reciclagem. "Mesmo em bairros onde há população com ensino superior, as pessoas não reciclam." Ele também acha que a nova legislação ajudará na reflexão sobre a questão ambiental. "A mudança de comportamento passa pelo fato de a pessoa ter atenção sobre o lixo que produz", diz.
Veículo: Folha de S. Paulo