A disponibilização de sacolinhas de material ecológico para a separação doméstica de lixo em duas frações é um avanço. Ela pode alavancar a reciclagem, alimentando o fluxo das duas centrais mecanizadas de tratamento inauguradas em 2014 na cidade e que têm capacidade de processamento de 500 toneladas/dia
A cobrança dessas sacolas por alguns supermercados pode ser indevida, como sustentou o prefeito Fernando Haddad (PT). Ou ser justificável, como defende a associação dos supermercados, ao afirmar que o custo delas não está embutido nos preços dos produtos à venda. De qualquer modo, é improvável que a cobrança, caso persista, represente um retrocesso. Ela pode até ter um efeito positivo, ao deixar transparente ao consumidor que gerar lixo tem preço.
Renato Cymbalista, professor de história do urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e presidente do instituto Pólis, é a favor da cobrança: "Temos de aprender a incluir no preço do que compramos o custo ambiental e de reciclagem. Conforme um bem fica mais caro, tendemos a usá-lo com mais racionalidade", diz.
Cymbalista considera, porém, que o lucro com as sacolas deveria ser direcionado a um fundo destinado à reciclagem. Ele acha que o preço pode reduzir o consumo de sacolas plásticas. "A redução de sacolas e embalagens é importante, pois reciclar, mesmo no caso das latinhas, que são completamente aproveitáveis, implica gasto energético e dano ambiental."
Como bom exemplo de redução de embalagens, ele cita a prática de supermercados em Berlim, na Alemanha. "Depois de passar pelo caixa, você pode tirar os produtos das embalagens e deixá-las no supermercado, que se encarrega da reciclagem. Essa responsabilidade faz com que os supermercados se esforçem para buscar mercadorias com embalagens menores ou sem elas", diz.
Cymbalista também acredita que a venda produtos a granel é tendência. "Num futuro próximo, iremos ao mercado com potes para encher de mantimentos", diz.
Portanto, se você acha um abuso pagar por sacolinhas plásticas, reabilite bolsas de pano ou use um carrinho de feira. De vez em quando, você pode se esquecer de levar seus recipientes e terá de comprar novas sacolas. Pois saiba que elas são mais baratas que os sacos de lixo. E se quiser gastar menos, não exagere: acondicione as suas compras em poucas sacolas.
Veículo: Folha de S. Paulo