Caminhoneiros são o novo alvo das empresas de cartões

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Meios de pagamento: Visa mira público de 1 milhão de motoristas em busca de mercado de US$ 48 bilhões

 

O transporte de cargas despertou o interesse do setor de cartões de crédito. Bandeiras e bancos querem abocanhar uma fatia dos US$ 48 bilhões que o mercado de frete movimenta por ano no país. A grande maioria desses recursos passa longe da economia formal. É paga aos motoristas por meio de papéis sem valor legal ou monetário, a chamada carta-frete.

 

As administradoras de cartões querem ser uma alternativa à carta-frete, instrumento considerado arcaico até pelas entidades que representam o setor de transporte de cargas. A Visa anuncia hoje sua entrada no segmento. Vai lançar um cartão pré-pago, o Visa Cargo, que pode ser carregado pelas transportadoras com uma quantia para o pagamento do pedágio e do frete. Será o primeiro cartão da bandeira no mundo do tipo, conta Darren Parslow, diretor global de soluções comerciais da Visa Inc.

 

"Os números da carta-frete são impressionantes de tão altos e vai tudo para o setor informal", diz Parslow. O executivo está no Brasil esta semana especialmente para o anúncio do cartão.

 

A área de transportes cresce 15% ao ano, mas mantém elevado o nível de informalidade. Dos US$ 48 bilhões que gira, só 30% (US$ 14 bilhões) são contabilizados na economia formal, segundo mapeamento feito pela Deloitte a pedido da Visa. O restante (US$ 34 bilhões) vai para a informalidade.

 

A "carta-frete" é um papel que o motorista recebe como pagamento. Um motorista que faz o trajeto São Paulo a Natal (RN), por exemplo, recebe uma carta de R$ 12 mil, em média. Ele pode trocar essa carta em postos de combustíveis que tenham convênios com as transportadoras. O posto exige que o motorista gaste ao menos 30% do valor da carta em combustível no local. Devolve o resto em dinheiro e cheque pré-datado. Em outros casos, há um deságio médio de 20% se o motorista trocar por dinheiro em algum outro estabelecimento conveniado, em geral comércios na beira das estradas.

 

No Brasil há 1,9 milhão de caminhões registrados. Desse total, 1,06 milhão estão classificados como "autônomos". Esse é o público que a Visa quer atingir. "Muitas dessas pessoas sequer têm conta em banco e 99% usam a carta-frete", diz Percival Jatobá, diretor-executivo de produtos da Visa do Brasil. Segundo ele, a bandeira está em negociação com seus bancos emissores para que o cartão chegue no mercado no início de 2010.

 

Ao contrário da carta-frete, o cartão pode ser usado em toda rede Visa no país, formada por 1,6 milhão de estabelecimentos. Além disso, o plástico vai dar uma linha de crédito para o motorista. Os limites e valores vão depender do banco emissor. Segundo Parslow, dependendo do sucesso do cartão aqui, ele pode ser levado para outros países da América Latina, Ásia e Pacífico.

 

Há algumas iniciativas isoladas para tentar formalizar o setor de transportes de cargas. A bandeira gaúcha Good Card tem um produto semelhante, lançado há pouco mais de dois anos e já usado por grandes empresas. A Pamcary, grupo que faz corretagem de seguros e gerenciamento de riscos de transportes, também tem um cartão do tipo, lançado em parceria com o Bradesco.

 

Já a Redecard, principal credenciadora da MasterCard, instalou o terminal que faz a leitura dos cartões (chamado de POS) dentro de alguns caminhões. Segundo Roberto Medeiros, presidente da empresa, a ideia aqui não é substituir a carta-frete, mas permitir ao motorista receber o pagamento de uma entrega via cartão, evitando assim o risco de circular com grandes quantias de dinheiro no veículo.
 


Veículo: Valor Econômico


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