Em 2005, a gigante alemã decidiu apostar em equipamentos capazes de reduzir a emissão de CO2 dos clientes. Hoje eles já rendem um faturamento anual de 23 bilhões de euros
Em 2001, quando lançou o projeto Mega-trendies, um grande estudo para definir quais seriam as tendências no futuro, a direção mundial da alemã Siemens não tinha ideia de que estaria diante de um plano capaz de transformar os seus negócios em tão pouco tempo. O estudo, concluído apenas em 2004, indicou que os debates sobre as mudanças climáticas e a sustentabilidade iriam definir a competitividade das corporações.
"O setor de geração de energias renováveis já responde por 40% do nosso faturamento de R$ 4,6 bilhões no Brasil"
Primo, presidente
Só que, em vez de se preocupar apenas em tornar suas operações mais verdes, o comando da Siemens viu nesse filão uma chance de engordar seus ganhos e ainda se diferenciar da concorrência. Como? Passou a fornecer motores, turbinas, centrais de comando e outros equipamentos que ajudam os clientes a economizar energia ou substituir o uso de combustíveis fósseis por renováveis e transformou essa área numa máquina de fazer dinheiro.
De 2007 até hoje, o faturamento da companhia com essa estratégia passou de 17 bilhões de euros para 23 bilhões de euros no ano passado, o que já representa 33% de sua receita mundial. E tudo indica que a meta de atingir 25 bilhões de euros deverá ser batida em 2010, um ano antes do previsto. A frieza dos números financeiros não é suficiente para compreender o tamanho dessa operação.
Apenas em 2009, os clientes da Siemens reduziram suas emissões de dióxido de carbono (CO2) em 211 milhões de toneladas. Isso equivale ao total emitido pelas cidades de Nova York, Tóquio, Londres, Cingapura, Hong Kong e Roma, todas juntas. “Não se trata de uma jogada de marketing como fazem alguns concorrentes. Nossos números são auditados por consultorias independentes”, destaca Adilson Primo, presidente da Siemens do Brasil. E o País teve uma grande participação nessa história. Aqui, o chamado portfólio sustentável respondeu por 40% das vendas de R$ 4,6 bilhões em 2009.
Um desses negócios foi feito com a Sabesp, companhia de saneamento de São Paulo. Na estação de tratamento de esgoto em Barueri (SP), que atende cinco milhões de pessoas, a Siemens instalou um equipamento para tratamento de esgoto que proporcionou uma economia de cerca de 25% no gasto de energia. “Essa parceria tem sido benéfica para nós”, conta Amarildo dos Santos, responsável pela unidade de projetos especiais da Sabesp.
A adoção de práticas visando à eficiência energética e a disseminação de sistemas alternativos de geração de eletricidade, como a biomassa (que é a queima de resíduos agrícolas), são os nichos nos quais o presidente da Siemens enxerga maiores oportunidades de ganho. “O governo quebrou um paradigma ao viabilizar os investimentos em energia eólica e tudo indica que o mesmo será feito em relação à solar”, aposta Primo.
A guinada verde da Siemens começou para valer em 2005. Na época, a empresa decidiu abrir mão de sua área de produtos de consumo para se concentrar no fornecimento de produtos e serviços para os setores de infra-estrutura, saúde e transportes. Uma decisão arriscada, já que a divisão de telefonia (equipamentos e aparelhos celulares) representava cerca de 60% da receita em países como o Brasil.
O objetivo era se tornar o número 1 ou a segunda força em todos os segmentos nos quais atuava. Para isso, gastou 25 bilhões de euros na compra de empresas como a brasileira Chemtech, de insumos para a exploração de petróleo e gás. Também reforçou a área de pesquisa cujo orçamento é de 3,5 bilhões de euros por ano, dos quais 1 bilhão de euros é empregado em tecnologias verdes.“Cerca de 40% das receitas geradas em 2009 vieram de produtos e tecnologias que não existiam em 2004”, conta Primo. “Esse é um caminho sem volta”, completa o presidente da Siemens.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro