O modelo de comissão por venda jamais dará certo na América Latina, era o que diziam ao argentino Marcos Galperin quando o site de leilões virtuais fundado por ele, o Mercado Livre, começou a cobrar uma taxa por venda concretizada, em agosto de 2000.
Não demorou muito, no entanto, para a aposta daquele jovem de 29 anos mostrar-se acertada. Nos meses seguintes, os principais concorrentes do site também deram passos na mesma direção. "O modelo grátis de venda de publicidade não é sustentável se você quer ter uma operação grande, profissional, um comércio eletrônio em que não haja fraudes e produtos piratas", diz Galperin em entrevista exclusiva ao Valor, concedida algumas semanas antes da divulgação dos resultados do quarto trimestre fiscal da empresa em 2009.
Durante a conversa, o executivo falou sobre o futuro do site, que começou como uma página de leilões, mas acabou transformando-se em uma vitrine de pequenas lojas virtuais. Uma pesquisa da Nielsen feita em 2007 mostrou que 40 mil famílias na América Latina vivem exclusivamente da renda de produtos vendidos pelo site. E não se trata de produtos de segunda mão. Hoje, de todos os produtos vendidos no Mercado Livre, 80% são novos e 90% têm um preço fixo. "Já fizemos muito nesses dez anos, mas a realidade é que ainda existem oportunidades maiores nos próximos dez anos", diz Galperin.
Segundo o executivo, o objetivo é fazer a base de usuários que realizam pelo menos uma transação no site todos os anos passar dos atuais 10 milhões para 100 milhões na próxima década. "O foco para atingir isso é oferecer uma navegação muito rápida, em que as pessoas encontrem de tudo para comprar e que o processo seja bem fácil, com pagamentos on-line e muita segurança", diz Galperin.
Em 2009, o Mercado Livre recebeu uma série de mudanças nesse sentido. A página inicial ficou mais simples e leve para ser carregada mais rápido, os anúncios ganharam novo visual e a inclusão de um item para venda foi simplificado para evitar que as pessoas desistam no meio da operação.
Por ano a empresa investe 5% do faturamento em melhorias no site. A mais recente - introduzida há três meses - é o Mercado Ads, um sistema de links patrocinados semelhante ao do Google. Nos resultados das buscas feitas no Mercado Livre, aparecem sempre cinco links de vendedores do próprio site ou de redes varejistas como Extra e Ponto Frio. "Isso dá a oportunidade a eles de conquistar tráfego e a nós de dar ao comprador outras oportunidades de achar o produto que deseja", diz Galperin.
Um dos problemas enfrentados pela empresa são as constantes acusações de que o site é usado para vender produtos contrabandeados ou piratas. Para Galperin é muito mais fácil vender um produto importado de forma ilegal no mundo real do que no Mercado Livre. "Não é nossa função ser fiscal, isso é tarefa do Estado. O que temos é uma base de dados em que fica registrado para sempre quem vendeu, quem comprou, a que preço. As autoridades vêm todos os anos, pedem informações e nós sempre entregamos e tiramos anúncios do ar", diz o executivo.
Para combater a pirataria, o site mantém um programa de propriedade intelectual, em que os detentores das marcas se cadastram e podem receber alertas automáticos avisando cada vez que um produto é cadastrado no site. Tratando-se de produto falso, a oferta é retirada do ar. Para Galperin é curioso que o Mercado Livre chame tanta atenção da sociedade mesmo tendo esses programas em funcionamento. "Ninguém parece se preocupar com a pirataria nos milhares de sites que se hospedam fora do Brasil, compram tráfego nos portais de pesquisa e fazem comércio eletrônico sem nada disso", diz o executivo.
Na divulgação dos resultados do ano fiscal 2009, ontem, o Mercado Livre anunciou um faturamento de US$ 172,8 milhões, crescimento de 26,1% na comparação com 2008. A base de usuários cadastrados chegou a 42,6 milhões. Destes, 12,1 milhões fizeram pelo menos uma operação no site durante todo o ano, sendo três milhões atuando como vendedores e 9,1 milhões como compradores. No total, foram comercializados US$ 2,75 bilhões em produtos no ano de 2009. O Brasil responde por 50% do total.
Veículo: Valor Econômico