Revolução no setor de cartões

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O mercado de cartões de crédito e débito deve crescer 20% em volume de transações neste ano em comparação a 2009, principalmente se ficar concretizada a entrada do Santander no segmento de emissões de cartões. No ano passado, 6,1 bilhões de transações foram realizadas, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs). A análise é do sócio-diretor da Partner Conhecimento, Álvaro Musa, que vê a entrada do banco espanhol como uma oportunidade de aumentar a concorrência nesse segmento. O Santander anunciou, em meados de janeiro, um acordo com a empresa gaúcha GetNet, a qual irá fornecer a retaguarda necessária para a captação e processamento das transações de pagamento feitas pelo banco com a bandeira Mastercard.

 

A Abecs divulga em seu site, previsões de crescimento para o setor de 11% nas transações e 20% no faturamento, ante 2009 (veja tabela abaixo). Não se sabe, porém, se a associação conta com a entrada do Santander para essa ampliação.

 

A entrada do banco espanhol é o primeiro caso de quebra do duopólio no mercado de credenciamento de estabelecimentos para o uso dos cartões. Esse credenciamento é controlado há anos por Cielo (antiga Visanet) e Redecard, com 54% de mercado nas mãos da primeira empresa e 39%, com a segunda.

 

Justamente em função desse controle mercadológico, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinou, no final do ano passado, o término do acordo de exclusividade entre Visa e Cielo, sendo que a dona da maior bandeira mundial fica obrigada a contratar outras credenciadoras e a Cielo – controlada pelo Bradesco e Banco do Brasil –  a trabalhar com outras bandeiras, como Diners, American Express e Mastercard. Analistas acreditam que novas empresas, além do Santander, entrem nesse mercado.

 

Para Musa, o Santander precisará de aproximadamente R$ 100 milhões para montar a rede. "Mas a parceria com a GetNet, que já está no mercado, pode reduzir um pouco esse custo". A GetNet já trabalha com a American Express. Musa diz que o Santander demorou para entrar nesse mercado porque precisava de condições de igualdade com os gigantes instalados. "Com a quebra do contrato de exclusividade entre as bandeiras e os credenciadores, as condições são bastante favoráveis".

 

Há quem acredite que o Santander deseja usar o mercado de cartões para ampliar a participação no Brasil. Em comunicado, o banco britânico Barclays  diz "ao se tornar um credenciador, o principal interesse do Santander não é o de lucrar com as margens dessa atividade. A entrada seria um modo de aprofundar o relacionamento com os varejistas, e oferecer produtos e serviços de melhores margens, como a antecipação de recebíveis.

 

O Barclays explica que o banco já detém as contas correntes de 10% dos lojistas credenciados pela Cielo e de 5% dos credenciados pela Redecard. "Controlar o domicílio bancário de mais estabelecimentos permitiria ao Santander ter informações importantes sobre essas lojas que poderiam viabilizar a venda de outros produtos financeiros, como a antecipação dos recebíveis."

 

"A quebra de exclusividade também vai permitir a criação de bandeiras de nicho, como a Hipercard, que trabalha bem com supermercados. Vão surgir bandeiras para farmácias, postos de gasolina", analisa o sócio-diretor da Partner.

 

É consenso também entre os analistas que a entrada de novos competidores fará com que a Cielo e Redecard percam participação no setor que só no ano passado movimentou R$ 444 milhões, segundo dados da Abecs. Nem Redecard, nem Cielo dão entrevista sobre o assunto mas, em comunicado, a Cielo diz que "o fim da exclusividade permitirá que qualquer adquirente capture todas as bandeiras. Quanto ao futuro do mercado, a companhia prefere não fazer previsões, mas acredita que a competição provocará crescimento importante para o setor".

 

Taxas – Há aposta também que a quebra do duopólio possa reduzir as taxas cobradas pelas credenciadoras dos estabelecimentos. Mas quando isso acontecerá,  ninguém arrisca uma previsão. Atualmente, a taxa média cobrada pela Cielo é de 2,5% do valor da transação. Segundo a Caixa Econômica Federal (CEF), a Redecard cobra taxa de adesão de R$ 44, uma única vez. Além disso, há o aluguel mensal do POS, equipamento que faz a leitura do cartão, que custa R$ 69. Para o credenciamento Visa, são cobradas taxa de adesão de R$ 50; aluguel do POS convencional de R$ 84 ou sem fio, de R$ 135.

 

Entenda os termos do mercado:

 

Portadores de cartão –  Quem contrata o cartão de crédito
 

Emissores – As pessoas jurídicas responsáveis pela emissão do cartão e pelo relacionamento com o portador para qualquer questão decorrente da posse, uso e pagamento das despesas do cartão. Os cartões de crédito podem ser emitidos por instituições financeiras e administradoras.
 

Credenciadoras –  São as empresas que credenciam estabelecimentos para aceitação dos cartões. Podem receber o nome também de adquirentes.
 

Credenciados – São os estabelecimentos que aceitam os cartões.
 

Redes (ou Bandeiras) – Pessoas jurídicas que oferecem a organização, estrutura e normas operacionais necessárias ao funcionamento do sistema de cartão. A rede licencia o uso de sua logomarca para cada um dos emissores e credenciadoras. Viabiliza a liquidação dos eventos financeiros decorrentes do uso dos cartões e a expansão da rede de estabelecimentos credenciados no Brasil e no exterior.
 

Processadoras – São as empresas que prestam serviços operacionais relacionados à administração de cartões e respectivas transações, como emissão da fatura, processamento das transações e atendimento aos portadores e estabelecimentos.
 

 

Veículo: Diário do Comércio - SP


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