Unificação de máquinas pode dar mais poder de barganha de lojistas

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Os cartões de crédito são necessários para acelerar o fluxo de vendas, mas as taxas cobradas sobre as transações e o valor de manutenção mensal dos terminais eletrônicos ou POSs continuam altos, segundo lojistas ouvidos pelo Valor. O aluguel das máquinas custa de R$ 55 a R$ 85, dependendo da bandeira, e as taxas sobre as compras podem chegar a 5% por transação. Mas, para especialistas do mercado de cartões, a unificação das operações em um único equipamento, que deve acontecer a partir do segundo semestre, pode aumentar o poder de barganha dos comerciantes com as operadoras e reduzir custos de operação.

 

Para o empresário Daniel Daud, com três lojas de roupas em São Paulo, a maior vantagem de trabalhar com cartões de crédito é a certeza de que a compra será paga. "É mais seguro do que trabalhar com cheques", diz. Daud usa as máquinas de cartão há sete anos e tem duas unidades em cada estabelecimento.

 

O comerciante paga R$ 80 mensais pelo aluguel de cada equipamento, além do custo por transação que varia de 3,5% a 4,8% do valor da compra. O tíquete médio nas vendas por cartão chega a R$ 500 e pelo menos 80% dos clientes usam o dinheiro de plástico numa das lojas, localizada no Itaim Bibi. No ponto da Oscar Freire, o uso dos cheques é maior e a participação do cartão cai para 20% da venda.

 

"O custo de manutenção ainda é alto, mas eu não posso negar ao cliente uma facilidade que também exijo quando faço compras", afirma. Para Daud, as operadoras deveriam aposentar os terminais e liberar o pagamento pela internet. O lojista digitaria o número do cartão em um site e o comprovante seria entregue pela impressora ligada ao PC do estabelecimento.

 

Na loja de artesanato e decoração de Fabiana Trofimoff, na Vila Mariana, até 80% das vendas são fechadas nas duas máquinas de cartão, com um valor médio de R$ 90 por transação. "Não aceito cheques por medida de segurança." Para cortar despesas, a empresária tentou manter apenas um dos equipamentos, mas dez dias após a abertura da empresa, percebeu que era necessário oferecer outra bandeira de cartão. Hoje, paga R$ 140 mensais pelo aluguel das unidades.

 

Nos próximos meses, quando os equipamentos das lojas forem substituídos por apenas um terminal para as duas principais bandeiras, a maior dúvida de Fabiana é o que fazer se o sistema que libera as transações "cair". "Hoje, ainda temos uma segunda opção para oferecer ao cliente."

 

Já o empresário Charles Motta, dono de um estúdio de cabeleireiros nos Jardins, pretende aposentar as duas máquinas que usa desde 2004. A ideia é reduzir custos de até R$ 140 mensais. Ele afirma que no início do negócio a oferta de cartões serviu para atrair a clientela, mas hoje, com zero de inadimplência, vai aceitar somente cheques ou dinheiro. Motta recebe duzentos clientes por mês com um tíquete médio de R$ 90. "Não tenho problemas em aceitar cheques porque todos os clientes são conhecidos."

 

Segundo Álvaro Musa, ex-presidente da Credicard do Brasil e diretor da consultoria Partner Conhecimento, os lojistas podem esperar melhores serviços com as mudanças do setor. "Será possível receber extratos de novas promoções pelo terminal e os comerciantes ganharão maior poder de barganha com as operadoras em relação às tarifas."

 

Para se ter uma ideia, somente a Redecard é dona de um parque de terminais que cresceu quase quatro vezes em sete anos. Passou de 242 mil máquinas em 2002 para cerca de 900 mil terminais em 2009. A Cielo tem 1,7 milhão de estabelecimentos credenciados.

 

Os POSs autorizam e capturam as vendas realizadas com cartões de tarja magnética ou com tecnologia de chip. As transações são submetidas à autorização das instituições financeiras, responsáveis pela emissão dos plásticos. A Cielo e a Redecard possuem terminais eletrônicos fixos e móveis. O POS fixo utiliza uma linha telefônica comum para efetuar as transações e o modelo móvel, sem fio, aproveita as redes de telefonia celular e rádio frequência.

 

Tem as mesmas funções do aparelho fixo, mas com a vantagem de ser usado em estabelecimentos onde o cliente não precisa ir ao caixa para fazer o pagamento. (JS)
 

 

Facilidade paga até a tapioca na feira

 

O cartão de crédito está conseguindo chegar a locais antes considerados fora de alcance. Com a ajuda da rede de telefonia celular e a criação de POSs móveis, o dinheiro de plástico começa a ser disseminado a bordo de táxis, nas vendas porta a porta e até em um centro de tapioqueiras no Nordeste. De acordo com a Redecard, a adesão à facilidade cresceu mais de 30% em 2009, comparada ao ano anterior. Este ano, a Cielo criou um grupo com 20 profissionais para estudar oportunidades de negócio nesse nicho. Já a Ultragaz, que levou os terminais de pagamento sem fio para os caminhões de entrega de gás, percebeu que o volume de vendas por cartão entre os clientes subiu de 1% para 8,2% em um ano.

 

A empresa Seu Jarbas Personal Drive, que transporta frequentadores de bares e restaurantes para casa, aderiu ao cartão de crédito móvel desde 2008. "Hoje, 10% dos clientes usam a facilidade", afirma o dono da empresa, Luiz Martins, que viu os negócios crescerem por conta da criação da lei seca no trânsito.

 

Com 20 motoristas, a companhia tem um tíquete médio de R$ 40 por transação com cartão e estuda a possibilidade de agregar uma nova bandeira no futuro. Por enquanto usa o Foneshop, solução desenvolvida pela Redecard que transforma aparelhos de celular em terminais de captura para cartões. De acordo com a Redecard, a adesão ao Foneshop cresceu cerca de 35% em 2009 e mais de 11 mil profissionais autônomos, entre dentistas, taxistas, fisioterapeutas e vendedores porta a porta utilizam a solução.

 

A Ultragaz, do setor de distribuição de gás de cozinha, fez uma parceria com a Cielo depois de perceber a demanda dos consumidores pelos cartões nas vendas em domicílio. A companhia, que tem 43 lojas próprias e 4,2 mil revendas franqueadas no Brasil, identificou uma demanda reprimida por crédito de cerca de 5%. Agora, é possível pagar pelos botijões com um terminal móvel multibandeira. "Desenvolvemos um software de automação para ser usado pela empresa e seus revendedores", lembra Eduardo Gouveia, vice-presidente de vendas e marketing da Cielo.

 

A compra de gás pode ser parcelada com plásticos de sete bandeiras, inclusive de marcas regionais como FortBrasil, Oboé, Verde Card, Banricompras e Credishop. Os entregadores também ganharam um acessório para carregar o aparelho e ficar com as mãos livres para transportar os botijões.

 

O projeto, iniciado em 2007, foi desenvolvido e implementado em nove meses. As cidades de São Paulo e Fortaleza (CE) foram os centros pilotos do programa, que já oferece 1,4 mil equipamentos sem fio. Segundo a Ultragaz, a representatividade da venda por cartão nessa modalidade subiu de 1%, no início da ação, para 8,2% em um ano. Os terminais móveis também ganharam recursos adicionais, como o recebimento e impressão de pedidos feitos por telefone. Em 2010, a iniciativa prevê a venda de recarga de celular nas mesmas máquinas de cartão.

 

Segundo Gouveia, da Cielo, a estratégia da empresa de investir em novos nichos ganhou ênfase nos últimos dois anos. "Em 2010, destacamos um grupo de vinte profissionais somente para cuidar dessa área." Para o executivo, os segmentos que mais usam terminais sem fio no Brasil para compras com cartão são os taxistas, ambulantes e vendedores porta a porta. A Cielo tem 41 mil unidades móveis em funcionamento.

 

O equipamento usado pela maioria dos taxistas é um leitor de cartão acoplado ao taxímetro, com uma impressora de comprovantes. Para efetivar a transação, usa a rede de telefonia celular. O taxista autônomo Denílson dos Santos, na função há cinco anos, tem um terminal a bordo há pouco mais de um ano.

 

"Pelo menos 15% das corridas são pagas com cartão", diz. Para o motorista, falta uma maior divulgação do serviço pelas operadoras. "Pouca gente sabe que as máquinas de cartão também funcionam dentro dos carros." Com um tíquete médio de R$ 20 por transação, Santos pretende adquirir um novo equipamento para ganhar mais clientes. "Como trabalho em um ponto em frente a um hotel, muitos turistas estrangeiros querem pagar com outras bandeiras".

 

No Rio de Janeiro, a cooperativa de táxi Barratown, que atende clientes do shopping Downtown, na Barra da Tijuca, implantou terminais em todas as 85 viaturas. "A ideia é embarcar nas maquininhas outras vantagens para as empresas, com recursos que agreguem mais valor", diz Gouveia, da Cielo. "Hoje, as pizzarias em domicílio que levam a máquina na casa do cliente saem na frente das concorrentes que não oferecem o serviço."

 

A Cielo tem dois fornecedores de POSs móveis e deve cadastrar mais parceiros nos próximos meses. "Queremos ganhar escala em equipamentos." Entre os alvos da companhia no segmento estão os pequenos negócios. No ano passado, apresentou o POS comunitário, uma máquina que pode ser compartilhada por até 20 correntistas diferentes.

 

"O terminal pode ser dividido entre dois motoristas de táxi que usam o mesmo carro durante o dia ou em barracas de feiras livres. Nesses casos, não é preciso comprar mais de uma máquina." A novidade está sendo usada por comerciantes do Centro das Tapioqueiras e Artesanato de Messejana, na região metropolitana de Fortaleza, uma área ao ar livre com 26 lojas que trabalham com um único aparelho para operações com cartão.

 

Além dos terminais móveis, empresas do setor investem em novas tecnologias de pagamento para atrair clientes e cadastrar um maior número de estabelecimentos comerciais. No final do ano passado, a MasterCard, Credicard e a Redecard anunciaram o lançamento do pagamento sem contato em alguns pontos do Rio de Janeiro, o PayPass. Portadores dos cartões de crédito com a bandeira MasterCard podem fazer transações no bondinho do Pão de Açúcar, na rede de cinemas UCI, nas lojas McDonald´s e em estacionamentos. O plano é estender a comodidade para usuários da rede de trens e do metrô da cidade.

 

O cartão MasterCard PayPass está presente em 32 países, com quase 61 milhões de dispositivos emitidos. Segundo estudo feito pela bandeira, a tecnologia de pagamento sem contato pode reduzir o tempo do consumidor em até 25% na fila dos caixas.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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