Novos grupos chegam ao setor para tentar tirar participação das líderes Redecard e Cielo
O aumento da renda da população brasileira e a expectativa de maior utilização de meios eletrônicos de pagamento abrem espaço para que novas empresas passem a explorar o mercado de credenciamento de cartões no País, hoje dominado por Cielo (ex-VisaNet) e Redecard. Além da associação entre Santander e GetNet, anunciada em janeiro, outras companhias estão de olho nesse mercado. É o caso da Tsys, segunda maior credenciadora no mundo, que se instalou no País há dois anos. "Esperamos explorar o mercado de credenciamento ainda neste ano", disse o diretor de Expansão da companhia, Antonio Jorge de Castro Bueno.
Empresas credenciadoras são aquelas que autorizam os estabelecimentos comerciais a aceitarem cartões de crédito e débito de uma determinada bandeira. Essas companhias cobram pelo aluguel dos equipamentos, pelo processamento das vendas feitas com cartão e também fazem a antecipação dos recebíveis de crédito. No Brasil, Redecard e Cielo controlam cerca de 90% desse mercado. O governo federal vem se manifestando sobre a necessidade de aumentar a concorrência no setor.
A Cielo tem exclusividade com a Visa, mas o contrato termina em junho. Já a Redecard não possui exclusividade formal com a Mastercard, mas até o momento é sua única credenciadora. As duas empresas já traçam suas estratégias para enfrentar a nova concorrência (ver abaixo).
Santander e GetNet já anunciaram que passarão a credenciar Mastercard para a base de clientes pessoa jurídica do banco espanhol no Brasil ainda neste primeiro semestre. Futuramente, outras bandeiras poderão ser incorporadas à rede.
O consultor Boanerges Ramos Freire, especialista em serviços financeiros, acredita que outros bancos podem se interessar por esse mercado e repetir o modelo do Santander, que cuida do relacionamento com o cliente, enquanto a parceira se dedica à parte operacional. "Vamos ver uma mudança no mercado com os novos concorrentes. As credenciadoras irão atrair novos estabelecimentos oferecendo taxas mais baixas ou a ampliação dos serviços."
Os especialistas na área acreditam também na ampliação das redes regionais de credenciamento. O próprio presidente da Redecard, Roberto Medeiros, reconhece que essas redes já são representativas nas regiões em que atuam. "A Sorocred tem uma fatia de mercado expressiva onde atua. E o Banrisul também", diz. A Sorocred atua principalmente na região de Sorocaba (SP), em mais de 150 mil estabelecimentos. Já o Banrisul possui uma rede própria no Rio Grande do Sul, chamada de BanriCompras.
A rede regional que atualmente tem a maior participação no território brasileiro é a Hipercard. A credenciadora teve origem na rede de supermercados Bom Preço, no Nordeste, e agora está presente em cerca de 450 mil estabelecimentos. No entanto, a empresa, que foi comprada pelo Unibanco em 2004, trabalha apenas com a própria bandeira.
Gilberto Dib, da Dib & Associados, destaca a migração para os meios de pagamento eletrônicos e o avanço das redes regionais como ponto de partida para a expansão do número de credenciadores no Brasil. Ele destaca que o potencial de crescimento do mercado permite a entrada de novas empresas sem que as duas líderes percam seus clientes. "O mercado é muito maior do que os 3 milhões de estabelecimentos de Cielo e Redecard", defende.
Para Castro Bueno, da Tsys, porém, ainda é muito difícil competir com Cielo e Redecard. "Para chegar onde chegaram foi necessário dez anos de atuação", diz. No entanto, o executivo acredita que há espaço para crescer regionalmente ou em determinados nichos da economia. Atualmente, a Tsys trabalha no Brasil como processadora dos cartões Mastercard emitidos pelo Carrefour. São cerca de 100 mil, mas o centro de dados da empresa está preparado para processar transações de 33 milhões de plásticos. A estrutura robusta tem um objetivo: entrar na área de credenciamento no Brasil.
FRASES
Boanerges Ramos Freire
Consultor
"Vamos ver uma mudança no mercado com os novos concorrentes. As credenciadoras irão atrair novos estabelecimentos oferecendo taxas mais baixas ou a ampliação dos serviços"
Antonio de Castro Bueno
Diretor de Tsys
"Para chegar onde (Redecard e Cielo) chegaram foi necessário dez anos de atuação"
Manter hegemonia é o desafio das líderes - Redecard e Cielo apostam em novos produtos
Cielo e Redecard vêm se preparando para trabalhar em um ambiente com novos concorrentes de peso. Para enfrentar as empresas que passarão a atuar como credenciadoras, caso da parceria entre Santander e GetNet, as duas líderes do mercado apostam no lançamento de produtos e no relacionamento com bancos emissores para manter a atual base de estabelecimentos credenciados. Em comum, as duas empresas são controladas pelos grandes bancos do País. Bradesco e Banco do Brasil são os dois maiores acionistas da Cielo. Já o Itaú Unibanco detém o controle da Redecard.
Agregar novos serviços e produtos segmentados foi a forma encontrada pelas duas líderes, que juntas detêm cerca de 90% do mercado, para evitar reduções nas margens operacionais. "Elas vão tentar se diferenciar e, assim, evitar discutir a questão do preço", avalia o consultor Boanerges Ramos Freire, especialista em serviços financeiros. A expectativa do mercado é de que as novas credenciadoras ofereçam aos estabelecimentos comerciais preços mais competitivos. Boanerges acredita que Cielo e Redecard tendem a não entrar nessa briga e sim investir em valor agregado para manter sua política de preços.
Mesmo com a entrada de novas empresas, a Redecard quer se manter na vanguarda no que se relaciona a lançamento de novos produtos. Durante a divulgação dos resultados do quarto trimestre, o diretor presidente Roberto Medeiros lembrou que a companhia foi a primeira a utilizar o celular como instrumento de pagamento com cartão e a ter cartões por aproximação (que dispensam a máquina leitora e senha). Acrescentou ainda que novos produtos serão lançados este ano, mas sem antecipar as novidades.
A Redecard aceita hoje 16 bandeiras diferentes, incluindo Mastercard, Diners e Aura, além de cartões de benefício e private label. Está também fazendo os últimos ajustes para aceitar os cartões da americana Discover e já negocia com bandeiras asiáticas que não estão presentes no Brasil visando aceitar esses cartões no futuro.
Seguindo a mesma linha de inovação, a Cielo pretende lançar novos produtos e serviços para manter seus clientes. "Queremos que a receita do nosso cliente seja aumentada com os novos produtos", disse recentemente o presidente da empresa, Rômulo de Mello Dias.
O consultor Boanerges avalia ainda que as duas líderes têm um "conforto relativo", já que as novas empresas levarão um tempo para conquistarem uma base de clientes significativa. Essas companhias contam ainda com os bancos controladores, que no passado foram importantes para o crescimento das bandeiras Visa e Mastercard no Brasil e que em um cenário de maior concorrência deverão fazer a diferença na captação de novos clientes.
Em relatório, Mariana Taddeo, analista da corretora Link, lembra que o efeito da maior competição no mercado deve ocorrer nos próximos trimestres, mas avalia que há espaço para crescer. "Com o crescimento econômico, queda no desemprego e aumento da renda, o consumo deve se manter elevado, o que, combinado com o maior uso do plástico, deve sustentar o crescimento do volume das operações com cartões", disse.
Veículo: O Estado de S.Paulo