A Philips inicia hoje a produção de telas de cristal líquido (LCD) em sua fábrica de Manaus. A inauguração das linhas de produção deverá ser acompanhada pelo governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), entre outras autoridades locais. O projeto, que contou com investimento de R$ 20 milhões em equipamentos, é inédito no país.
A expectativa da Philips, conforme adiantou o Valor em janeiro, é de produzir 1 milhão de unidades de telas no primeiro ano de atividade. A fabricação de LCD, que será voltada exclusivamente à montagem de televisores, envolverá um fluxo financeiro (capital de giro) superior a R$ 720 milhões durante os três primeiros anos de produção. Até 2012, a companhia de origem holandesa planeja elevar a produção para 1,3 milhão de unidades de LCD.
Com a fabricação local do componente, a Philips espera reduzir o custo dos equipamentos e melhorar o tempo de entrega de seus produtos. A exemplo das principais fabricantes mundiais de TV, a Philips já detinha uma fábrica em Manaus, mas o processo de produção era restrito, com a importação da Ásia de uma tela já integrada a uma série de dispositivos. Sobrava para a subsidiária brasileira as etapas básicas de finalização do equipamento, como o encaixe do tampo do aparelho e de um receptor de canais.
Agora, o que a Philips passa a fazer é um processo de montagem mais amplo. Em vez de adquirir um produto pré-montado, a empresa vai comprar, separadamente, os componentes que formam uma TV, entre eles as placas de vidro polarizado, o material mais caro usado nas telas dos televisores.
A operação já envolveu a contratação de 480 profissionais e deverá ampliar a cadeia de fornecedores de componentes da empresa. "Essas operações vão gerar mais de 5 mil postos de trabalho indiretos", diz Fabiano Ribeiro de Lima, gerente geral de assuntos corporativos da Philips.
Para montar as telas de LCD, foram criadas duas "salas limpas" dentro da fábrica da Philips. Nesses ambientes, onde a tela de LCD é manuseada por funcionários, uma série de sistemas e equipamentos é usada para eliminar as micropartículas presentes no ar, isto é, as impurezas que possam interferir no resultado do produto. Adotada na fabricação de LCD e de chips, essas instalações adotam requisitos comuns em salas de cirurgia de hospitais e laboratórios químicos. "Iniciamos hoje a fabricação com duas salas limpas, mas uma nova unidade deverá entrar em operação daqui a dois meses", diz Júlio Pacini Neto, vice-presidente da área de suprimentos da Philips para a América Latina.
As expectativas de negócios por trás da movimentação da Philips não são nada modestas. A projeção de faturamento da companhia para a divisão de TVs é de R$ 900 milhões nos primeiros 12 meses de atividade, saltando para R$ 2,37 bilhões nos dois anos seguintes.
A iniciativa da empresa pode ser seguida por outros fabricantes de TVs, que neste momento avaliam o impacto da produção local do componente. Neste mês, conforme adiantou o Valor, um grupo de executivos da taiwanesa AOC, uma das maiores fabricantes mundiais de monitores, esteve na Zona Franca para checar a possibilidade de trazer a fabricação de LCD ao país. Maurizio Laniado, vice-presidente da AOC no Brasil, confirmou o interesse da companhia em nacionalizar sua produção e disse que, se os planos se concretizarem, a AOC iniciará sua fabricação até o fim do ano.
Além de gerar empregos e movimentar o mercado, a fabricação de LCDs no país reduz drasticamente o impacto ambiental. Só a Philips calcula que, nos próximos 12 meses, deixará de trazer ao Brasil 67 toneladas de papelão e 35 toneladas de isopor, material usado no transporte das telas.
Veículo: Valor Econômico