Lojistas conseguem redução do aluguel de terminais e taxa menor
Com seis lojas em São Paulo e faturamento anual na casa dos R$ 9 milhões, a relojoaria Timeland vai reduzir as despesas com aluguel de maquininhas de captura (POS) de pagamentos com cartões de R$ 21,6 mil para cerca de R$ 5 mil ao ano. Nas taxas pagas por transação de débito, crédito ou nas vendas parceladas, a economia será da ordem de R$ 30 mil. As estimativas são do sócio Pedro Luiz Fujiwara, que, atento às implicações que a abertura do mercado traria, tratou de chamar Redecard e Cielo para a conversa há cerca de três meses. Acabou fechando contrato de um ano para ficar apenas com a rede da Cielo e vai desconectar os terminais da concorrente.
"Antes, não se tinha essa opção. Ou o lojista não aceitava cartão, como se isso fosse possível nos dias de hoje, ou ficava na mão das empresas, que são os 'melhores sócios do mundo' e numa única transação levam até 4%", diz. Na escolha da Cielo pesou a agilidade da credenciadora nas negociações e um certo pé atrás com a a Redecard. "Quando o Shopping Bourbon (zona Oeste de São Paulo) foi inaugurado, em abril de 2008, demorou um mês para instalarem o POS; na crise, eles aumentaram as taxas e depois veio a pane do Natal." O novo concorrente, o Santander, em parceria com a GetNet, não chegou a ser procurado. "Por ser uma rede nova, ainda está investindo, não sei se teria capacidade operacional para abocanhar um mercado muito maior."
Quando o contrato com a Cielo expirar, avisa, a Timeland estará aberta a novas negociações. A empresa vai manter Itaú e Bradesco como os bancos onde são depositados os fluxos de recebimento dos cartões (domicílio bancário). A ideia é buscar também nos bancos melhores condições no pacote de conta corrente e de antecipação de recebíveis. Com a economia nas despesas com as credenciadoras, a intenção é investir mais e reduzir o volume tomado com as instituições financeiras. A loja não pensa em dar desconto ao clientes.
A TDB Têxtil, dona da Tip Top, de roupas de bebê, por sua vez, decidiu testar os serviços do Santander e da GetNet. Paralelamente, porém, a recomendação aos franqueados é manter os POS da Redecard por mais seis meses, até para testar a eficiência do serviço da GetNet, conta a gerente de franquias, Daniela Venâncio. No Nordeste, onde tem lojista trabalhando com o sistema próprio, sem as maquininhas alugadas, há proposta até para isenção de aluguel dos POS que ficarão de reserva. Já os terminais da Cielo, depois de um passado de relacionamento conflituoso, serão desconectados. "Quando há loja sendo inaugurada, temos que pedir pelo amor de Deus para eles instalarem a maquineta", desabafa. A recomendação é também devolver as maquinas que capturam a bandeira American Express, que, segundo a sua percepção, passam apenas um pequeno percentual das vendas e, cujos portadores, em geral, carregam adicionalmente Visa ou MasterCard na carteira.
O Grupo FX, franqueado que reúne 20 lojas em São Paulo e Grande São Paulo, das marcas Fórum, Colcci e Tritton está propenso a fechar negociação com a Redecard. Com os pontos de venda em transição para o sistema próprio (chamado TEF, no jargão do setor), a intenção é deixar um único POS nas lojas, conta Guilherme Daguano Fargnolli. "A gente preza muito pela aparência do espaço físico da loja, o que era inviável enquanto tínhamos que manter até três maquininhas diferentes."
Na mesa de negociação, ele conta que a proposta inclui abatimento entre 5% e 10% nas taxas cobradas sobre cada transação, POS reserva de graça e até rebate se o grupo cumprir determinadas metas de elevar o volume de transações capturadas pela rede em relação ao total recebido com cartões. A intenção é também desconectar os terminais do cartão Amex, que ele imagina que poderão ser capturados por qualquer rede.
Já o diretor de franquias do Arena Café e Futebol, Alfredo Monteiro Jr., se diz inclinado a manter só o terminal da Cielo. O que o preocupa, porém, é que apesar da expectativa de que GetNet, Redecard e Cielo estejam aptas a capturar Visa e MasterCard a partir de julho, isso não será automático para os vouchers de alimentação - hoje a Visa Vale só passa nos terminais da Cielo, enquanto a Ticket passa pela Redecard. Ele mesmo não chegou a procurar nenhuma das empresas para negociar. Nos demais casos relatados ao Valor, a iniciativa de abrir o diálogo para redução de preço partiu dos lojistas. Há ainda algum grau de desinformação. O dono de uma revendedora de tintas sequer sabia que poderia ter no seu estabelecimento um único POS para receber as duas principais bandeiras do mercado.
Empresas impõem contrapartida às lojas
É junto ao comércio de pequeno e médio porte que o Santander tenta marcar terreno no negócio de credenciamento de lojistas para captura de pagamentos com cartão. Para tanto, a instituição colocou na rua seus 3 mil gerentes pessoa jurídica para ofertar o pacote de credenciamento e da batizada "conta integrada", estimulando o comerciante a centralizar nela todo o seu fluxo de cartões, com isenção de tarifa para volumes a partir de R$ 3 mil. O diretor da área de cartões, Cassius Schymura, não abre os números desses primeiros meses de atuação, mas informa que a conversão para a base Santander/GetNet, iniciada em abril, está dentro do cronograma esperado para o plano de ter 10% do mercado até 2012 e cerca de 300 mil estabelecimentos.
Para obter descontos nas taxas por transação capturada, o presidente da Redecard, Roberto Medeiros, diz que há degraus a atingir. Quanto maior o giro capturado pela rede, tanto melhor o benefício. Mas ele garante que não cederá em preço às custas da rentabilidade do negócio e que não haverá oferta de terminais de graça, pois há custos associados ao serviço que não são desprezíveis.
Na retaguarda, os investimentos têm sido direcionados para melhorar a logística e distribuição, a fim de dar uma resposta mais rápida aos lojistas, tanto na instalação quanto na reposição de terminais, além de atender aos planos de ampliar a rede credenciada nos estados do Centro-Oeste e Nordeste e em novos segmentos, como saúde e educação. A central de atendimento também recebeu mais posições.
Medeiros considera que a falha da Redecard em plena véspera de Natal não chegou a atrapalhar a expansão neste novo momento do mercado. "De janeiro para cá, acrescentamos 165 mil clientes à nossa rede; quaisquer serviços que envolvam tecnologia de ponta não têm como ter o compromisso de disponibilidade de 100%, temos 99,995%."
Já o presidente da Cielo, Rômulo Dias, diz que há muita conversa, mas os casos de renegociação de contrato são ainda minoria. "A nossa proposta de valor em resposta à concorrência é, desde ter uma diponibilidade de rede de 100% em datas como Natal, dia das mães e dos namorados, até a parceria estratégica fechada com o HSBC, que poderia uma empresa concorrente do zero." O executivo conta que a negociação de taxas e de aluguel de POS se dá caso a caso, em função de volumes e outros critérios.
Diante do ambiente mais competitivo que se pronuncia ele sabe, porém, que questões operacionais e de relacionamento com o lojista precisam ser aperfeiçoados. O acordo de nível do serviço prestado, que prevê os prazos de resposta para determinados serviços, como manutenção e substituição de POS, já foi recalibrado, sem impor custos extras aos estabelecimentos. Aqueles que precisarem de um atendimento mais ágil terão de contratar esse adicional, porque há implicações logísticas e tecnológicas nesse tipo de prestação de serviços, explica Dias. (AC)
Veículo: Valor Econômico