Pesquisa revela ainda que 60% dos internautas entre 6 e 14 anos no Brasil, que já somam quase 5 milhões, passam 60% do tempo vendo vídeos no YouTube, no MSN e em redes como Orkut e Facebook
Foi-se o tempo em que crianças e adolescentes entravam na internet apenas para pesquisas escolares. Hoje, os internautas com idade de seis a 14 anos, e que já somam quase cinco milhões no Brasil, estão mais interessados em entretenimento e em reforçar a sua rede de contatos na web. Pesquisa feita pela consultoria britânica comScore revela que esses usuários passam 60% do tempo on-line assistindo a vídeos no You Tube, conversando no MSN e trocando contatos em sites como Orkut e Facebook. Até o Twitter já aparece na lista. A propensão ao consumo não fica muito atrás: um em cada quatro acessam sites de lojas de varejo.
Esses quase cinco milhões de crianças e adolescentes já ultrapassaram em quantidade outros grupos, como o de 45 a 54 anos, que somam 3,7 milhões. Alex Banks, diretor da comScore no Brasil e vice-presidente da consultoria na América Latina, lembra que esses jovens já nasceram na cultura digital.
- Esses jovens representam 12% da população on-line no Brasil, e os números devem crescer. É inevitável. Em termos educativos, a internet tem muito a oferecer. Hoje, a primeira coisa que a criança faz quando entra na internet é assistir a vídeos, ver filmes e ouvir músicas. O MSN (serviço de conversa da Microsoft) representa 22% do tempo que essas crianças e adolescentes passam na web, e as redes sociais ficam com 15%.
Das 8,6 bilhões de páginas acessadas no Brasil em maio, 1,6 bilhão veio de jovens entre seis e 14 anos - afirma.
Marcelo Cherto, especialista em varejo, destaca que é preciso aprender com esses jovens a importância de se comunicar com eles via mídias sociais: - Os jovens estão imprimindo uma série de mudanças, porque o mundo real compete com o virtual. É por isso que, se as lojas do varejo não tiverem um atrativo, os consumidores não aparecem, porque preferem comprar na internet.
Segundo a comScore, 28% dos usuários no Brasil entre seis e 14 anos acessam o Orkut, e outros 4% entram no Facebook e no Twitter. De olho nesse público, alguns bancos já lançaram cartões de crédito pré-pagos, destinados ao público de sete a 17 anos.
Jovens brasileiros são os maiores criadores de conteúdo do mundo Segundo a consultoria, os jovens brasileiros navegaram em média 23,9 minutos em maio, mês em que foi feita a primeira pesquisa do tipo. O número é menor em relação a países como México, com tempo médio de 34,3 minutos, Estados Unidos (25,3) e Espanha (25,1).
Apesar de usarem menos a rede, os jovens brasileiros ostentam o título de maiores criadores de conteúdo do mundo.
Pesquisa feita pela Viacom, gigante do entretenimento dona dos canais Nickelodeon e VH1, revela que, entre os usuários de oito a 14 anos, 64% já fazem vídeos e fotos para postar na rede.
Beatriz Mello, gerente de pesquisa da Viacom, lembra ainda que 52% encaminham o conteúdo para amigos.
- Eles aprendem tudo com os amigos.
Antes, a internet era associada apenas ao conhecimento, com pesquisas. Hoje, esse relacionamento mudou e é baseado em entretenimento e relacionamento social.
As redes sociais fazem parte disso porque a popularidade é reconhecida pela cultura brasileira. Na maioria dos casos, são as crianças que apresentam as novas tecnologias para os pais - diz.
As irmãs Fernanda e Fabiana Suita Coura, de 10 e sete anos, ilustram bem os dados das pesquisas. Fernanda gosta de falar com as amigas no MSN e entrar no Orkut - já criou, inclusive, um perfil para a avó no site de relacionamento. Já Fabiana prefere os vídeos.
- Uso a internet para baixar joguinhos da Barbie e ver vídeos. Danço com meus amigos no quarto vendo vídeos da Barbie e Hannah Montana - conta.
A mãe das meninas, Mônica Suita Coura, de 40 anos, diz que a mais nova já sabe fazer pesquisas no Google: - Minhas filhas usam o computador desde muito novas e nunca tivemos problemas com excesso. Elas gostam do computador, mas também gostam muito de brincar com os amigos - conta.
Prós e contras
É preciso usar a experiência de navegação da rede para estimular o desenvolvimento do senso crítico em crianças e adolescentes.
Uma criança de 6 anos não tem capacidade para entrar sozinha na internet. Ela precisa do monitoramento dos pais e da escola.
O adolescente precisa ter a supervisão dos adultos, ajudando a pensar em como utilizar as informações obtidas na rede.
O tempo é um recurso ligado à organização. A criança deve estar inserida num planejamento que inclui diversos estímulos, como televisão, telefone, vida em família, esportes, vida social, ócio criativo, leitura e música. Dentro desse contexto, a internet tem seu lugar.
O equilíbrio de muitos estímulos é que favorece o pensar e o desenvolvimento integral. Passar três horas conectado pode não ser uma boa opção. É importante dosar.
O computador usado de forma exacerbada limita o desenvolvimento pleno do ser humano e pode virar também uma companhia para a solidão, além de levá-lo a se arriscar menos, aponta Lydia Rey Santos, gestora educacional do Colégio Notre Dame.
Veículo: O Globo - Rio de Janeiro