A partir de hoje, todos os terminais leitores de cartões (chamados de POS) poderão receber as principais bandeiras de pagamento: MasterCard e Visa. Os varejistas e os especialistas do setor esperam menores taxas, melhores serviços e o aumento de concorrência das bandeiras de pagamento e crédito. A estimativa é de que Redecard e Cielo possuam respectivamente 1 milhão e 1,6 milhão de máquinas espalhadas pelo País.
O Brasil encerrou o primeiro semestre com a marca histórica de 597 milhões de cartões no mercado, incluindo plásticos de crédito, débito e de redes de varejo (chamados de private label). O crescimento foi de 10% em comparação a junho do ano passado, segundo estimativas da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). Esses cartões movimentaram volume de R$ 244 bilhões, expansão de 21% em relação ao mesmo período de 2009, e fizeram 3,3 bilhões de transações.
Os cartões de crédito são os mais usados. Os plásticos movimentaram R$ 142 bilhões de janeiro a junho. Neste mês, cujos dados ainda não estão fechados, a projeção da Abecs é de giro de R$ 25 bilhões com pagamentos via cartão de crédito, puxado pelas vendas do Dia dos Namorados.
Um dos que esperam mudanças radicais no mercado de pagamentos é o presidente da consultoria Partner Conhecimento, Álvaro Musa. Para ele, o mercado se tornará mais aberto e criativo. "Em 10 anos deveremos dobrar o número de transações no Brasil inteiro, até mesmo em regiões remotas", afirmou.
Musa acredita na possibilidade de que os bancos pequenos e médios possam considerar este tipo de mercado. " O Santander traz um modelo em que o banco faz a operação e a GetNet fornece maquininhas. Bancos médios e pequenos poderão abrir negócios com operadoras independentes e também captar pagamentos", ressalta.
Segundo Musa, em 10 anos, os meios de pagamento eletrônicos - cartão e celulares - corresponderão a 70% das contas pagas no dia-a-dia do consumidor. "O mercado deve mudar bastante, mas não será daqui a seis horas."
De acordo com o presidente da consultoria, a mudança do mercado levará de seis meses a dois anos para ser percebida. "O efeito principal é que os varejistas passam a ser clientes importantes para empresas credenciadoras, no caso: Cielo, Redecard e Santander."
Musa analisou que, a partir de hoje, as negociações serão melhores, pois as adquirentes terão de disputar clientes. "Será preciso oferecer serviços de valor agregado, como programas de fidelização, serviços de garantia absoluta de funcionamento e extratos on-line. Sem quedas ou falhas ", destacou.
Quanto a diminuir os prazos de repasse dos valores transacionados, o especialista acredita que não será uma operação simples. Hoje, o tempo médio de repasse varia de 30 a 45 dias nas operações de crédito. "Quem paga o crédito é o consumidor, que tem o prazo para pagar a fatura sem os juros. No futuro, creio que as adquirentes e varejistas devem negociar. Talvez, os emissores terão de suportar os custos", acrescenta.
Para Nabil Sahyoun, presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, a Alshop, a principal mudança, no curto prazo será a redução do aluguel dos POS. "Não tem o cabimento ter 5 máquinas em uma loja de pequeno ou médio porte, sendo cada uma destinada para uma bandeira. Imagine o custo para quem tem 100 lojas", destacou o presidente. A Redecard, por exemplo, cobra de R$ 60 a R$ 120 mensais por terminal POS, em cada varejo.
Sahyoun ressalta que as taxas incidentes sobre as vendas devem cair. "As taxas médias variam de 2% a 5%, excluindo-se os 100 grandes varejistas e os postos de gasolina, que possuem contratos diferenciados. Dependendo da negociação com as lojas, podemos ter queda de 30 % a 50%", frisou.
Na opinião do presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Júnior, uma das estratégias das companhias no momento é fidelizar o comerciante ao fazê-lo optar por uma bandeira específica, ainda que as máquinas efetuem transações de todas. Ao ser "fidelizado", o lojista fica preso a um período de carência de um a dois anos.
Mais modesto, Pellizzaro Júnior, acredita que a taxa de desconto, paga pelos comerciantes às empresas credenciadoras, deva cair entre 30% e 35% em até dois anos. "Já estamos fazendo um alerta aos lojistas: os que conseguirem redução dessa taxa deverão repassá-la logo ao consumidor", disse ele.
O presidente projeta que as duas maiores empresas do setor (Redecard e Cielo) perderão nos próximos seis meses 50% de sua base de clientes. Ele salientou que, mesmo que grandes redes mantenham a opção das duas máquinas em suas unidades, o pequeno comércio é muito mais numeroso e é o que tende a optar por uma ou outra credenciadora.
Estratégias parecidas
As duas maiores adquirentes de cartões, a Cielo e a Redecard, usarão estratégias similares. Ambas devem oferecer serviços compartilhados para setores poucos explorados por este tipo de empresa, como educação, saúde, distribuição e construção civil.
Com o fim dos contratos de exclusividade entre bandeiras e adquirentes a partir de hoje, lojistas e agentes de mercado esperam mudanças nas taxas cobradas e nos serviços.
Veículo: DCI