A unificação de máquinas de cartão de crédito aumentará a venda de terminais.
A possibilidade de aceitar cartões das principais bandeiras sem a necessidade de ocupar metade do balcão com terminais de pagamento (ver "Em uma só maquininha, vários cartões", no Diário do Comércio de 25/05/2010) é vista como uma oportunidade de expansão para os fabricantes dos equipamentos de varejo.
"A primeira vista, o fato de o comerciante poder optar por uma adquirente (empresa responsável pela comunicação da transação entre o estabelecimento e a bandeira) e pagar apenas um aluguel parece que reduz a demanda (de POS). Porém, em todo produto que se vende por si só (como o terminal atrelado à bandeira) há uma acomodação. No passado, só víamos propaganda dos cartões e hoje vemos as adquirentes - Cielo, Redecard e Santander – mobilizadas para incentivar os estabelecimentos a usar seus serviços", destaca Marcelo Teramae, gerente de canais de Gertec. "Nos testes piloto, vimos que estabelecimentos médios e grandes tendem a manter pelo menos dois provedores, para ter uma contingência. Mas no pequeno comércio, poder pagar um só aluguel e atender de forma mais ampla à clientela deve aumentar a capilaridade do pagamento com cartão", avalia Cristiano Porto, gerente geral da unidade POS da Perto.
Heman Molina, presidente da VeriFone, observa que o crescimento de 10% nas vendas em relação a 2008 deve-se, em grande parte, a uma extensa renovação do parque, no início do ano. "A falta de uniformidade tornava o gerenciamento mais caro. Mas a competição ajudou a perceber que manter tecnologia velha é dar um passo para trás", reconhece.
"A tecnologia vai ser um diferencial importante. O ciclo de atualização dos terminais, hoje entre 5 e 7 anos, deve ser reduzido e o varejista já começa a comparar velocidade, disponibilidade e atendimento", diz Cristiano Porto. "Temos crescimento em todas as linhas. Os diferenciais (como mais processamento, memória e conectividade IP), que já apresentávamos, agora começam a ser valorizados", constata Molina.
Elias Rogério da Silva, diretor geral da NCR, lembra que a flexibilização das redes de pagamentos ocorre em um momento de inclusão na economia tanto da Geração Y, que ignora o cheque e esquece de sacar dinheiro, quanto da nova classe média, que representou o ingresso de 30 milhões de pessoas no sistema financeiro. No mesmo contexto, ele menciona que 75% dos pontos de pagamento são de pequenos estabelecimentos. "Temos que ter bons produtos e uma boa estratégia de canais para atender a todos os segmentos", afirma.
Ao mesmo tempo em que as adquirentes tendem a investir mais em inovações e conveniência aos varejistas e consumidores, a abertura das redes cria oportunidades aos bancos de concentrar mais operações de seus clientes do ramo de varejo. No eixo das mudanças que passam a valer em 1º de julho, foi criado o Sistema de Controle de Garantias (SCG), que assegura que os créditos de venda com cartões sigam ao "domicílio bancário" do credor, independentemente de quem processou a transação.
"O grande efeito a médio prazo é que os bancos vão tomar a linha de frente, ao invés de ficar atrelado a uma adquirente. Os quatro grandes (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander) já sinalizam a tendência de oferecer pacotes completos de serviços financeiros", descreve o presidente da VeriFone. Ele acrescenta que a maior atuação dos bancos traria mais "segmentação e pulverização" ao mercado de pagamentos com plástico. "As grandes redes tendem a ter uma visão mais seletiva de seus clientes alvo. A agência bancária conhece melhor as necessidades e o potencial dos empreendimentos locais", diz Molina.
Apelos ao comerciante
Apenas o aluguel de três terminais custam R$ 248 mensais à Iguarias da Mama, uma loja de comida congelada de Higienópolis. Ainda assim, Alexandre Devidé Netto, sócio e administrador do estabelecimento, pretende esperar dois meses para decidir a eventual convergência em uma adquirente. "Uma delas já ofereceu redução de mensalidade para realizar as transações com todos os cartões em seu terminal. Mas ninguém ainda falou da taxa (o percentual sobre cada pagamento)", observa.
A velocidade de atualização das máquinas, a disponibilidade do serviço e o atendimento já fazem a preferência do comerciante pender a uma das adquirentes. No entanto, Alexandre mantém um relacionamento mais forte com o banco antes vinculado à outra adquirente. "Agora, cabe ao comerciante escolher seu domicílio bancário, o que torna a administração mais fácil", diz.
Cerca de metade dos clientes da Iguarias da Mama faz pagamentos com cartão de crédito. Pelas características do estabelecimento, serviços adicionais na linha de frente, como recarga de celular ou terminais móveis, não fazem muita diferença. A adquirente aborda com outros apelos. "Antes, só o banco oferecia antecipação de crédito e recentemente já recebi essa oferta da adquirente", conta o comerciante.
Veículo: Diário do Comércio - SP