Pequenas e microlojas responderam por 20% da receita de R$ 10,6 bilhões do setor em 2009
O dia 31 de maio foi de festa no escritório paulista da MoIP, empresa mineira especializada no processamento de transações de comércio eletrônico. Vestidos de branco e com garrafas de espumante, os funcionários brindaram a chegada de 2011. Uma comemoração dessas no quinto mês do ano pode soar estranha, mas foi a forma que a empresa encontrou para celebrar o cumprimento da meta de crescimento para 2010.
O volume de transações que passaram pelos sistemas da companhia aumentou mais de quatro vezes. Até o fim do ano, a estimativa é de que esse volume ultrapasse R$ 350 milhões, com o faturamento cresciendo 1.400% na comparação com 2009. Hoje, são 80 mil vendedores cadastrados. "Se não fizermos nada, crescemos 70% ao ano, só aproveitando a expansão dos negócios dos nossos clientes atuais", diz Igor Senra, diretor geral da MoIP. A empresa, que tem participação do iG e da holding Ideiasnet, em breve pode mudar de endereço. É que o escritório que ela ocupa em São Paulo desde meados de 2009 já ficou pequeno para seus 53 funcionários.
O ritmo acelerado da MoIP é resultado da expansão nas vendas pela internet no Brasil, especialmente por parte das micro e pequenas lojas, principais usuárias dos sistemas de pagamentos eletrônicos. Esse segmento não tem muito poder de negociação com bancos e operadoras de cartão por conta do tamanho, mas encontram nessas empresas de pagamento virtual os parceiros de que precisam. Por uma mensalidade, ou um percentual sobre cada transação, as empresas de pagamento ficam responsáveis por operações com cartões de crédito e débito, ou boleto bancário.
Segundo Gerson Rolim, diretor executivo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Câmara e-net), as lojas de micro e pequeno porte responderam por 20% dos R$ 10,6 bilhões de faturamento do setor em 2009 e podem ter um desempenho mais forte que o setor em 2010, com expansão de 40%. Nos próximos cinco anos, a Câmara estima que a participação dessas lojas no total das vendas crescerá para 30%. "Uma das maiores barreiras para o crescimento era a implantação de um sistema de meios de pagamento que aceitasse pagamento via cartão de crédito, responsável por 80% das compras on-line no Brasil", explica Rolim. Hoje, dez empresas oferecem essa possibilidade.
Na Pagamento Digital, empresa de pagamento do Buscapé, a maior parte dos cerca de 5 mil vendedores cadastrados é de pequeno porte, com faturamento de R$ 10 mil a R$ 20 mil por mês. Segundo Denis Smetana, gerente geral da companhia, o faturamento e o volume transacionado têm crescido a um ritmo de 150% ao ano. "As pessoas estão se sentindo à vontade para vender on-line", comenta. Uma das estratégias da Pagamento Digital para conseguir clientes é a integração com o comparador de preços do Buscapé. As lojas que usam a ferramenta de pagamento ganham anúncios gratuito no site.
O Mercado Livre também aposta em uma estratégia parecida. A empresa, que liberou em abril o uso de seu sistema de pagamento Mercado Pago fora do site, permite que o usuário tenha apenas uma conta para as duas funções. A ideia é aproveitar a familiaridade com a ferramenta dentro do Mercado Livre para garantir o sucesso fora dele. "A receptividade está acima das expectativas", diz Marcelo Coelho, diretor do Mercado Pago.
Na estimativa da PayPal, maior empresa de pagamentos on-line do mundo, que iniciou sua operação no Brasil em maio, existem pelo menos 1 milhão de sites de empresas que anunciam seus produtos na internet, mas que não usam as páginas para fazer vendas. Segundo Mário Mello, presidente da empresa, o número pode dobrar em três anos.
"O brasileiro passa muito tempo on-line e cada vez mais aparecem exemplos de empresários bem-sucedidos no mundo da internet. Esses e outros fatores contribuem para o crescimento do mercado", diz o executivo. A equipe do PayPal tem hoje 10 pessoas e chegará a 20 até o fim do ano, de acordo com Mello. Entre as estratégias para se consolidar no país estão as parcerias com empresas que possam atuar como revendas do sistema para outros sites.
Para Marcos Bueno, diretor-presidente da argentina DinheiroMail, o Brasil se tornará o mercado mais importante para a empresa até o fim do ano, passando México e Argentina.
Um dos desafios das empresas de pagamentos eletrônicos será preparar seus sistemas para atender as particularidades de segmentos específicos de mercado, avalia Ricardo Dortas, diretor do PagSeguro, do UOL. "Não é só questão de cobrar a menor taxa, você precisa atender de forma diferente cada necessidade de mercado", diz o executivo. Segundo ele, o site conta com 60 mil lojas cadastradas e tem apresentado crescimento acima do mercado de comércio eletrônico.
Veículo: Valor Econômico