O hábito de comprar roupas pela internet ainda é pouco comum no Brasil, mas a evolução do comércio eletrônico (e-commerce) e o aumento de marcas especializadas em vestuário e acessórios que apostam neste canal está mudando este cenário. Enquanto empresas como Marisa mostram-se experientes no varejo de moda da internet, outras se aventuram e começam a lançar suas lojas virtuais ou apostam numa reformulação de seu e-commerce. É o caso de marcas como Renner e C&A.
A aposta dessas redes no segmento é fruto de uma tendência americana forte que deverá chegar ao Brasil em alguns meses. "Hoje estamos alguns meses atrasados com relação ao e-commerce norte-americano, que é uma ótima forma de as empresas brasileiras descobrirem o que irá ou não irá pegar entre os consumidores virtuais. O que é moda lá hoje, será mania no Brasil em seis meses", afirmou Luiza Cândida da Silva, doutora em Economia e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As ações norte-americanas no quesito roupas on-line foram lançada esta semana pelas gigantes do comércio eletrônico Amazon e eBay, que anunciaram que vão fortificar estoques, aumentar opções e agilizar entregas das vendas deste Natal. A categoria de roupas e assessórios deve representar 14%, ou U$ 25 bilhões, das vendas projetadas via internet nos EUA em 2010, de acordo com a consultoria Forrester. "Ainda não há números específicos no Brasil, mas aposto que 10% das compras via internet sejam de roupas e acessórios, o que já rende quase R$ 2 bilhões", afirmou Silva.
O que se tem contabilizado do segmento de moda e acessórios brasileiros são números fornecidos pelo e-bit, que registraram um crescimento de 108% na variação de pedidos na comparação de janeiro a setembro de 2009 com o mesmo período deste ano. Já o faturamento do varejo de moda do e-commerce obteve alta de 115%, de acordo com a consultoria.
Padronização
Um obstáculo para a indústria de moda brasileira refere-se à questão da falta de um padrão nos tamanhos. "A grande maioria das empresas não tem padronização. Mas a indústria está se movimentando para mudar isso, visando ao mercado internacional. E, uma vez que obtém-se produtos padronizados, e-commerce vem de carona", explica Pedro Guasti, diretor-geral da e-bit.
Pensando nisso, a Associação Brasileira de Normas e Técnicas está definindo novas normas de medidas. A ação, em parceria com a Associação Brasileira do Vestuário, começou com a padronização de meias. No entanto, isto não deve ser encarado como uma barreira para as marcas que desejam vender seus produtos virtualmente. "A partir do momento em que o consumidor tem preferência por uma determinada marca que tem loja física, ele passa a conhecer a sua modelagem e tem mais facilidade para comprar os produtos também pela internet", acredita Silva.
Recém-chegada ao meio eletrônico, a Renner firmou uma estratégia fundamentada em muita pesquisa e relacionamento com o consumidor. A C&A faz a pré-venda das peças C&A Collection, coleções montadas em parceria com estilistas brasileiros como Amir Slama, Reinaldo Lourenço e Isabela Capetto. As duas marcas correm atrás da Marisa, que completou 11 anos de e-commerce e é a primeira do segmento de roupas a investir pesado no canal. Mensalmente, o canal Marisa recebe 1,2 milhão de visitantes e é responsável por 0,7% do faturamento da marca, que conta hoje com mais 226 lojas físicas e teve um lucro líquido de R$ 1,4 bilhão em 2009. Entre os atrativos da loja virtual estão as vantagens oferecidas ao cliente de Cartão Marisa.
"Sabemos que muitos clientes virtuais são clientes da Marisa porque boa parte compra com o cartão da loja, que oferece benefícios como promoções, frete grátis e descontos", diz Thiago Pereira, gerente de e-commerce da marca.
A professora Silva também aponta como vantagem do e-commerce o aumento do tíquete médio de compra. "os compradores tendem a comprar várias peças de uma vez para ficar isentos, por exemplo, da taxa de entrega; além disso, o tempo dedicado ao site é maior do que o dedicado a uma loja física", disse.
Nas lojas virtuais Marisa a vantagem da entrega gratuita também é um atrativo. "Nas compras acima de R$ 150,00 a entrega é gratuita para o sul e o sudeste. O frete hoje barra as vendas, por isso o cliente prefere juntar todos os itens numa compra só", conta o executivo da empresa.
Veículo: DCI