Setor estima venda de 5 mil aparelhos no ano; pouca oferta de títulos preocupa fabricantes
Os leitores eletrônicos (e-readers) chegaram no Brasil um ano antes dos computadores tipo prancheta, os tablets, mas a comercialização das duas linhas de produtos têm obtido resultados muito diferentes. Enquanto a venda estimada dos tablets é de 1 milhão de unidades para o primeiro ano, a de leitores eletrônicos (e-readers) caminha a passos lentos. Os fabricantes que lideram esse mercado no país, Gato Sabido e Positivo Informática, estimam que a base atual de e-readers seja pouco acima de 3 mil unidades, com expectativa de chegar a 5 mil unidades até o fim do ano.
A Positivo, que lançou seu primeiro modelo em agosto, registrou o melhor resultado até agora, com vendas de aproximadamente 2 mil unidades. Uma segunda versão do leitor eletrônico Alfa foi lançado em novembro, com conexão Wi-Fi, para acesso sem fio à internet.
O vice-presidente de produtos da Positivo, Isar Mazer, não informou a projeção de vendas para o ano, limitando-se a dizer que serão "alguns milhares de unidades". Na Livraria Saraiva, por exemplo, de 500 leitores colocados em estoque na segunda quinzena do mês, 400 foram vendidos em uma semana. "Por enquanto, toda a produção que entregamos nas lojas esgota em poucos dias", afirma Mazer. A Positivo optou por fabricar pequenos lotes do dispositivo, "enquanto a procura ainda é pequena". "Só agora a demanda começou a crescer. É difícil estimar qual será o tamanho desse mercado", diz Mazer.
A Gato Sabido, que lançou o seu primeiro leitor eletrônico, o Cool-er, há um ano, também só sentiu uma expansão mais forte das vendas a partir de agosto, afirma o sócio-fundador da empresa, Carlos Eduardo Ernanny. No ano, a empresa vendeu em torno de mil aparelhos. Em dezembro serão lançadas mais duas versões do Cool-er. "A demanda começou a ficar interessante a partir de agosto, mas ainda assim é limitada pelo preço dos equipamentos e pouca oferta de títulos", afirma.
Atualmente, os leitores eletrônicos são vendidos a preços que variam de R$ 600 a R$ 900. Nos Estados Unidos, os mesmos aparelhos são cotados entre US$ 60 (R$ 103) e US$ 199 (R$ 341). "Hoje, a maioria dos e-readers oferecidos pelas empresas que atuam no Brasil é importada e a taxa de importação é de 60%, o que ajuda a encarecer o produto", diz Ernanny.
Além da Gato Sabido, que terceiriza a produção do seu e-reader na China, e da Positivo, que fabrica o e-reader localmente, estão disponíveis no mercado leitores da coreana Digle, e o Kindle, da Amazon, que é produzido na China. A Elgin, que lançou um e-reader no Brasil em novembro, não quis dar detalhes sobre a produção. A Sony, que tem leitores eletrônicos no mercado internacional, não tem ainda planos para lançar o equipamento no país, segundo informou a assessoria de imprensa.
Outro fator que afetou o desempenho de vendas foi a oferta ainda pequena de livros digitais, segundo os fabricantes. Em um ano, a oferta de livros digitais passou de mil para 2 mil títulos. "Acredito que em 2011 a oferta crescerá mais rapidamente, para 30 mil a 50 mil títulos no Brasil", estima Ernanny. Para ele, o setor só vai deslanchar quando houver uma oferta mais farta de conteúdo. Procurada pelo Valor, a Amazon informou, por meio da assessoria de imprensa, que não divulga dados de vendas por país, mas que "a empresa prevê uma demanda muito robusta para o Brasil, especialmente com o aumento da oferta de livros em português."
Para o coordenador de pesquisas da consultoria IDC, Luciano Cripa, preço de venda, pouca oferta de títulos e a concorrência com os tablets - preferidos para o entretenimento, mas que também permitem a leitura de livros - são os fatores que dificultam uma expansão mais significativa das vendas. "Ainda não existe um mercado de e-readers no Brasil", afirma.
Para Cripa, o primeiro ano de vendas serviu como teste de mercado para os fabricantes. Cripa estima que o mercado de leitores eletrônicos terá comportamento semelhante ao de netbooks, com avanço mais rápido nos próximos dois anos. Os fabricantes calculam que em 2011 o mercado pode chegar a 40 mil aparelhos comercializados. Quando atingir sua maturidade, diz Cripa, o mercado não deve superar 1,5 milhão de unidades (o que equivale a um décimo das vendas de computadores no país, hoje). "O e-reader está destinado a ser um nicho de mercado", afirma.
Internacionalmente, a previsão é semelhante. A consultoria iSupply estima que as vendas mundiais de leitores eletrônicos serão de 11 milhões de unidades, ante 5 milhões no ano passado, uma base equivalente a 5% do tamanho do mercado de computadores pessoais. Até 2014, alcançarão 26,5 milhões de unidades.
Veículo: Valor Econômico