Céu de brigadeiro para o crescimento da indústria de cartões no mercado brasileiro

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Turbulências econômicas, alta do dólar e ameaça de inflação. Nada disso tira o sono do setor de cartões no Brasil. Com a perspectiva de crescer 23% este ano na comparação com 2010, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), as empresas do segmento apostam num ritmo de expansão de dois dígitos nos próximos anos. Mesmo que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não seja tão alto. "O setor vem crescendo cerca de 20% ao ano, mais do que em qualquer lugar do mundo, há mais de dez anos e não há nuvens no horizonte", diz Paulo Caffarelli, vice-presidente da Abecs.

A razão de tanto otimismo: o Brasil é um mercado ainda em maturação. "Hoje, apenas 25% dos pagamentos são realizados por meio de cartões de crédito", explica o diretor-geral da Visa do Brasil, Rubén Osta. Na soma com cartões de débito e os das lojas, os private labels, o volume chega a 44%. "Existe um potencial gigantesco de migração desses outros 56%, feitos com outros meios, como dinheiro e cheque, para a indústria de cartões." Para 2015, a Abecs projeta que o cartão de crédito responderá por 45% de todo o consumo no Brasil.

O setor mantém um forte ritmo de alta mesmo em anos de baixo crescimento econômico. Entre 2008 e 2009, auge da crise financeira internacional e que derrubou o PIB brasileiro, o setor cresceu cerca de 18%. "A tendência é de forte expansão, em qualquer cenário, para os próximos anos", diz João Pedro Paro, vice-presidente comercial da Mastercard Brasil.

Para estimular o processo de migração, as principais bandeiras procuram ampliar o leque de produtos. "Queremos estar no dia a dia do consumidor, com um portfólio de produtos adequado às necessidades dos diferentes tipos de público", diz Osta. Essa visão ambiciosa leva a Visa a oferecer desde cartões alimentação a produtos voltados apenas para viagens ou exclusivos para as classes A e B.

Outros fatores impulsionam o setor, como a expansão da economia e do potencial do mercado de consumo. Um desses elementos é o crescimento da classe média, com a migração de 30 milhões de consumidores das classes D/E para C/D, público disputado por todas as empresas. "Estamos trabalhando fortemente com esse segmento", diz Paro, da Mastercard. "Temos um programa de pontos, o Surpreenda, para oferecer vantagens para as classes C e D."

A sinergia entre a indústria de cartões e os bancos emissores também é importante para o segmento - a entrada de novos clientes no sistema bancário ajuda essa indústria e vice-versa. "O cartão é um forte instrumento de bancarização, dando acesso a serviços financeiros para milhares de pessoas que não possuem conta bancária. Foi exatamente o que o Bradesco e o Banco do Brasil fizeram com a bandeira Elo ", observa Caffarelli.

Uma área com grande potencial de crescimento é a de cartões pré-pagos. Trata-se de atingir um público sem produtos de pagamento eletrônico, mas com dinheiro para recarregar o celular pré-pago. "A indústria precisa criar uma estratégia para chegar a esse cliente", adverte o executivo da Visa. Paro, da Mastercard, observa que o pré-pago pode ser a porta de entrada para produtos mais elaborados.

Já o setor varejista brasileiro não pode viver sem os cartões. Estudo da Abecs em parceria com a Datafolha mostra que os meios eletrônicos de pagamento foram responsáveis por 55% do faturamento das lojas no ano passado. A pesquisa apresenta outros sinais otimistas. No segundo semestre de 2010, 71% dos entrevistados tinham cartões para pagamentos e 67% utilizavam esse meio habitualmente. Os meios eletrônicos já superavam o uso do dinheiro nas grandes cidades, onde 44% dos gastos foram realizados com cartões de crédito, débito ou private label - 40% eram feitos com dinheiro.

Para alguns, existe uma barreira cultural a ser vencida. "O uso do dinheiro ainda está muito arraigado na cultura do povo", diz Paro, da Mastercard. Mas os esforços das empresas estão dando resultado. A pesquisa indica que 52,3% dos possuidores de meios eletrônicos de pagamento davam preferência aos cartões para efetuar suas compras. Entre os não possuidores, a predileção pelo dinheiro chegava a 96%.

A possibilidade de parcelamento é o principal fator de atração para 26% dos entrevistados com cartões. Mas o risco de aumento da inadimplência não parece tirar o sono das empresas do setor. "Não temos percebido nenhum temor nesse sentido", diz Paro, da Mastercard. Para evitar o problema, a indústria mantém um programa de consumo consciente e, ao mesmo tempo, trabalha a modelagem dos cartões para ajudar a gestão de risco dos emissores.


Veículo: Valor Econômico


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