TV conectada vive conflito de padrões

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Lançados há cerca de quatro anos, os aparelhos de TV com acesso à internet vêm ganhando espaço entre os consumidores brasileiros. Em 2011, esses modelos representaram 18% das vendas de TVs no país. Para este ano, a expectativa é que essa participação chegue a 20%.

Em meio a esse crescimento, no entanto, os fabricantes tentam responder a uma pergunta que pode ser determinante para o futuro da indústria: as TVs conectadas terão sistemas operacionais diferentes convivendo entre si - algo semelhante ao que ocorre nos segmentos de smartphones e tablets - ou um único sistema vai dominar o setor, a exemplo do que aconteceu com os computadores? Ou, simplesmente: vai haver um Windows das TVs no futuro?

O sistema operacional é o software básico de um equipamento. Sem ele, nenhum outro programa funciona. Essa não era uma questão até agora, porque os aparelhos tradicionais de TV dispensavam o uso de um sistema operacional.

Para os fabricantes, a primeira questão a decidir é se cada uma delas criará seu próprio sistema ou se várias companhias adotarão o mesmo programa, concebido por um terceiro. Além de envolver custos de produção, essa definição vai determinar, em grande medida, como os fabricantes vão se relacionar com os desenvolvedores de aplicativos.

Os profissionais que desenvolvem softwares têm, hoje, de criar várias versões do mesmo programa para tablets e smartphones, dependendo do sistema operacional de cada aparelho. É uma situação que eles não querem ver repetida nas TVs conectadas, porque significa trabalho adicional e custo mais alto.

LG, Samsung e Philips optaram por sistemas concebidos internamente. Cada empresa criou um departamento específico para desenvolver e gerenciar os aplicativos que vão acompanhar seus aparelhos de TV conectada. "Ter um fabricante [de TV] lidando com conteúdo é algo realmente novo, mas entendemos que tínhamos de nos preparar para essa realidade", disse Milton Neto, gerente da área de televisores da LG. A companhia coreana vende TVs conectadas no Brasil desde 2010.

A Samsung tem estreitado o relacionamento com desenvolvedores de aplicativos para TVs conectadas, em uma tentativa de tornar seu software mais robusto. Em junho, a empresa organizou a primeira versão brasileira de um treinamento sobre seu sistema de TV com acesso à web.

"Assim como temos quem desenvolve só para iOS e Android [no caso dos smartphones], queremos ter quem desenvolve só para as nossas TVs", afirmou Marcelo Natali, gerente de conteúdo de TVs conectadas da Samsung. Até 2011, a empresa concentrava a criação de aplicativos para TV conectada em seu centro de desenvolvimento de informática, em Manaus, sem parcerias com desenvolvedores externos.

O modelo de software próprio, entretanto, não foi a opção original da Samsung. Nos Estados Unidos, a companhia já usou um sistema do Yahoo, disse Natali. No Brasil, o fato de a Samsung ter um centro de desenvolvimento no país foi fundamental para que a companhia optasse por trabalhar com uma plataforma própria desde o início, afirmou Natali.

Uma dos atrativos dos sistemas próprios é a possibilidade de obter aplicativos exclusivos. Como dono do software básico, o fabricante pode encomendar um aplicativo que ele julga capaz de fazer sucesso, sem o risco de ver o mesmo programa na TV do concorrente. É o que a LG fez com um aplicativo relacionado ao jogador Ronaldo Fenômeno.

O uso de sistemas próprios, porém, está longe de ser uma unanimidade. Philco, AOC e Sony encabeçam a lista de fabricantes que optaram por trabalhar com softwares de um parceiro. As duas primeiras firmaram, recentemente, um acordo com o Yahoo, que recentemente começou a vender seu sistema de TV conectada no Brasil. A Sony firmou um acordo para usar o sistema da Opera Software.

"Usar uma plataforma própria exige uma série de parcerias com provedores de conteúdo e desenvolvedores de aplicativos. Nesse caso, o Yahoo tem mais poder de negociação que nós, que somos especialistas em equipamentos", disse Marcelo Granja, diretor de vendas da área de áudio e vídeo da Philco.

Para a Sony, o fato de a Opera ser uma especialista em software pesou na decisão, disse Marcelo Varon, gerente de internet e vídeo da Sony. Sob a parceria, toda a responsabilidade de gerenciar os aplicativos continua a ser da Sony.

A chegada do sistema de TV do Yahoo ao país é um sinal de que as empresas de software não estão dispostas a entregar o desenvolvimento de sistemas para os fabricantes de TVs conectadas. "Nossa equipe nos Estados Unidos está conversando com fabricantes de todo o mundo", disse Diego Higgins, gerente da plataforma de TV conectada do Yahoo no Brasil. No mercado americano, empresas como Sony e Toshiba usam o software de TV conectada do Yahoo.


Aplicativos para TVs ganham reforço

   
A expansão do segmento de TVs com acesso à internet vem levando empresas desenvolvedoras de aplicativos para smartphones a se dedicar a um novo nicho de mercado. É o que aconteceu, por exemplo, com a Flying Fishes, que passou a criar aplicativos para TVs conectadas em 2010.

"Preferi focar nesse mercado do que entrar em uma concorrência maior na área de aplicativos para smartphones", disse Fábio Reis, sócio-diretor da Flying Fishes. De acordo com o executivo, o desenvolvimento de aplicativos para TV conectada responde atualmente por 95% do negócio. A Flying Fishes tem acordos firmados com LG e Samsung.

Outra empresa que se voltou para o desenvolvimento de aplicativos para TVs conectadas foi a HXD. Criada em 2007, com foco em aplicativos para TV digital, a companhia tem atualmente mais de 70% de seus projetos voltados para TVs com acesso à web, segundo Salustiano Fagundes, diretor da HXD.

Essa especialização dos desenvolvedores em aplicativos para TVs conectadas contribuiu para uma ampliação da gama de conteúdo existente nesse tipo de televisor. Os aplicativos de vídeo, que antes eram as vedetes das TVs conectados, passaram a disputar audiência com jogos casuais, aplicativos de receitas, entre outros formatos.

Outra consequência positiva da especialização dos desenvolvedores foi o aumento do número de aplicativos em português, de acordo com executivos do segmento.



Veículo: Valor Econômico


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