Caixas eletrônicos de multimoedas é nova aposta de fabricantes

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Uma das alternativas pioneiras encontradas pelos bancos para reduzir o movimento nas agências, os terminais de autoatendimento (ATM) se consolidaram como um campo atraente para fabricantes de equipamentos de automação no Brasil. No rastro da busca por maior conveniência para os clientes, esse cenário positivo só passou a ser ameaçado com o avanço dos serviços bancários pela internet. Agora, um novo mercado começa a despontar como oportunidade para que o setor amplie seus negócios e renove seu fôlego.

A boa notícia para o setor chegou com a recente autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN) para o uso de terminais de autoatendimento em operações de câmbio de pequeno valor. O limite estabelecido para cada transação é de US$ 3 mil e o processo precisará ter, necessariamente, a sustentação de um banco ou uma agência de câmbio. A identificação para a realização das operações será feita por meio de cartão de crédito com bandeira internacional ou através de passaporte com validação eletrônica de autenticidade.

O uso de equipamentos com essa finalidade é comum nos mercados americano e europeu. Nessas regiões, existem máquinas - mais conhecidas como "cambiadoras" - cuja única finalidade é a troca de moedas. Em outra aplicação, as operações são realizadas em caixas eletrônicos que incorporam um módulo adicional de transação. Esses dois tipos de equipamentos não são oferecidos no Brasil. No entanto, todos os fabricantes procurados pelo Valor já têm máquinas e tecnologia disponível para atender a demanda local.

A antecipação desses projetos à autorização da CMN é explicada por duas vertentes. Grande parte dos fabricantes já oferece essas máquinas no exterior. Ao mesmo tempo, sua adoção em locais de grande concentração, como aeroportos, estádios e locais turísticos, vinha sendo discutida pelas autoridades brasileiras e o setor financeiro, nos últimos anos. No centro desses debates estava a necessidade de atender o grande fluxo de turistas esperado com as realizações da Copa do Mundo e da Olimpíada no país.

A brasileira Perto começou a desenvolver sua "cambiadora" em 2008. O projeto envolveu investimento de R$ 4,8 milhões e a participação de cerca de 80 profissionais, entre engenheiros, analistas de sistemas e equipe de suporte. "Nossa projeção é de que esse mercado gire em torno de 3 mil a 4 mil equipamentos até a Copa do Mundo", disse Marco Aurélio Freitas, diretor comercial da Perto. A companhia já adaptou as linhas de sua fábrica em Gravataí (RS) para acompanhar a demanda. Como parte de um investimento de R$ 38 milhões anunciado há cerca de um ano para a ampliação da unidade, a capacidade de produção será de 1,4 mil terminais por mês.

Com cerca de 2 mil equipamentos instalados nos EUA e no México, a Itautec está trabalhando em projetos com um banco brasileiro e outro internacional. A direção da empresa afirmou que sua fábrica de Jundiaí, em São Paulo, está preparada para absorver a demanda.

Custo elevado é um dos problemas para adoção dos produtos, que custam quase o dobro de um ATM comum

No caso dos fabricantes estrangeiros, a ideia inicial é abastecer o mercado brasileiro com produtos importados. Entretanto, todos os projetos contemplam a fabricação no país, com perspectiva de início de produção a partir de 2013. Especializada em máquinas de autoatendimento usadas em diferentes aplicações, a Hess Latam tem um plano de investimento de R$ 50 milhões em cinco anos para estruturar sua operação no Brasil. Um terço desse montante será destinado a um projeto terceirizado de produção local.

Subsidiária latino-americana da alemã Hess, a operação iniciou suas atividades no Brasil em 2011 e a grande aposta de crescimento são as máquinas de câmbio. A empresa não produz caixas eletrônicos. "Nossa expectativa é que as 'cambiadoras' respondam por 50% do faturamento da empresa nos próximos anos", disse Demilson Guilhem, diretor-presidente da Hess Latam. Guilhem considera conservadora sua expectativa de vender 600 máquinas no país em 2013.

Apesar das boas perspectivas iniciais, os fabricantes poderão enfrentar algumas barreiras. Para ganhar escala, por exemplo, o principal desafio será provar que o equipamento pode deixar de ser uma aplicação segmentada, voltada apenas a aplicações relacionadas a grandes eventos ou ao atendimento de turistas.

Outro obstáculo é o preço do equipamento. Enquanto um ATM convencional custa, em média, de R$ 30 mil a R$ 35 mil no Brasil, o valor médio de uma máquina de câmbio ou ATM adaptado para essa função gira em torno de R$ 50 mil a R$ 60 mil.

A distância de valores está justamente na maior complexidade dessas máquinas, pelo fato de lidarem com transações em múltiplas moedas. Essa abordagem requer um tratamento distinto de um ATM convencional, especialmente em campos como armazenamento, reconhecimento de valores, sistemas de conversão de câmbio e dispensa de moedas. "É uma tecnologia mais sofisticada, tanto em termos de componentes físicos quanto do ponto de vista de software", explicou Leonel Figueira, diretor de serviços profissionais da americana NCR no Brasil. Entre os equipamentos adicionais estão um scanner usado para reconhecer a autenticidade das cédulas.

Os bancos procurados pelo Valor disseram que estudam a viabilidade do investimento. "Estamos avaliando como levar a solução para nossos ATMs", disse Natacha Litvinov, diretora de canais eletrônicos pessoa física do Itaú Unibanco.

O HSBC destacou alguns aspectos que estão em análise para definir a extensão de seu projeto. Além de uma possível ampliação dos riscos de segurança com o transporte de novas moedas, a necessidade de integração dos sistemas do novo equipamento com a infraestrutura do banco é um fator que está sendo ponderado. "Acredito que cerca de 25% dos nossos softwares precisariam ser adaptados ou reescritos", afirmou Leignes Andreatti, diretor de tecnologia do HSBC.

Por outro lado, essa maior sofisticação tecnológica abre novas oportunidades para os fabricantes, até mesmo para a substituição gradativa da base instalada de 182 mil ATMs no país. A principal aposta é ampliar o leque de transações realizadas hoje em um caixa eletrônico, a partir dos recursos contidos nas "cambiadoras", como os scanners.

Para Carlo Benedetto, diretor-geral de marketing e vendas da Diebold, uma das possíveis aplicações será estender aos ATMs a captura da imagem dos cheques depositados nos caixas eletrônicos. Essa abordagem, diz o executivo, pode impulsionar o processo de compensação digital de cheques, que entrou em vigor no país em maio de 2011, a partir de uma circular emitida pelo Banco Central. A proposta do projeto é reduzir os custos embutidos na tramitação física da compensação. No entanto, grande parte da captura digital ainda acontece em centros de compensação dos bancos, com a permanência dos custos de recolhimento dos cheques em agências e ATMs. "Com os recursos adicionais da 'cambiadora' é possível digitalizar o processo desde a ponta. Nossa aposta é que essa redução de custos justifique o investimento nessa nova tecnologia", disse Benedetto.


Veículo: Valor Econômico


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