Desaceleração chega a PC e celular

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Até agora, computadores e celulares pareciam imunes às dificuldades econômicas, com vendas impulsionadas pelo mercado residencial, em especial o consumidor da classe C. Esse cenário, porém, mudou. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as vendas no varejo da categoria que inclui os dois itens - a de equipamentos de escritório, informática e comunicação - caíram 14,6% em junho na comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação a maio, a redução foi de 8,9%. Foi o único setor a apresentar retração no levantamento do IBGE.

A redução nos volumes de vendas ocorreu em 7 dos 12 Estados cujos números são detalhados pelo IBGE. Parte desse movimento pode ser atribuído a uma base de comparação bem mais alta, disse ao Valor Reinaldo Pereira, pesquisador do IBGE. Em junho de 2011, as vendas haviam crescido 34,7%.

Esse efeito, no entanto, não é meramente numérico. A indústria sentiu fortemente o impacto da desaceleração. A Positivo Informática, cujo lucro caiu 76% no segundo trimestre, atribuiu a diminuição da demanda ao desaquecimento da economia.

A constatação no mercado de PCs é que o nível de endividamento do consumidor registrado no fim de 2011 fez com que as pessoas adiassem novas compras. De acordo com a empresa de pesquisa GfK, só em dezembro foram vendidos 1,3 milhão de PCs no varejo, um recorde para o mês e um volume alto mesmo para o período de Natal.

De acordo com Alex Ivanov, diretor da área de tecnologia da informação (TI) da GfK, junho é tradicionalmente fraco para o varejo: o que acontece é uma espécie de ressaca por conta das vendas do Dia das Mães, em maio. Em junho deste ano, porém, a consultoria registrou vendas de PCs foram mais fracas que em anos anteriores. O recuo foi de 24% frente à queda de 17,9% de 2011.

No mercado de celulares, um dos motivos da queda, segundo um executivo do setor que prefere não se identificar, foi a decisão das operadoras de reduzir os subsídios nos aparelhos para melhorar seu desempenho financeiro. As teles, de maneira geral, têm apresentado resultados fracos. A Vivo, por exemplo, teve uma redução de 38,2% na receita com aparelhos móveis no primeiro semestre. As vendas caíram de R$ 566 milhões em 2011 para R$ 350 milhões neste ano.

Com menos promoções e incentivos à compra de aparelhos, o consumidor afastou-se das lojas. Além disso, houve um repasse de variação cambial por parte dos fabricantes, o que contribuiu para elevar os preços. Segundo a GfK, a venda de celulares no varejo em junho caiu 3% em número de unidades.

Apesar das dificuldades, analistas do setor observam um cenário mais positivo quando avaliam um prazo mais longo. No acumulado do ano, os dados da GfK não indicam retração no segmento de computadores. As vendas de PCs cresceram 21,5% de janeiro a junho em relação ao mesmo período do ano passado. O desempenho foi impulsionado, principalmente, pelos equipamentos portáteis, cujas vendas cresceram 44% na comparação com os primeiros seis meses de 2011. A mesma tendência é percebida no segmento de celulares, cujas vendas acumuladas no ano mostram uma expansão de 9% em volume, segundo a GfK.

Para algumas varejistas, a queda nas vendas dos dois segmentos não foi relevante. A Viavarejo, que controla as redes Casas Bahia e Pontofrio, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não sentiu "nenhum efeito de queda ou desaceleração de vendas em suas lojas" com relação a equipamentos de informática e celulares.

Executivos e analistas do setor também preveem uma reversão do quadro negativo até o fim do ano. Além da retomada do crescimento econômico, eles esperam que a renovação tecnológica prevista para o quarto trimestre volte a despertar o interesse do consumidor. Entre os atrativos estão o lançamento do Windows 8, o novo sistema operacional da Microsoft, e de novos equipamentos de campeãs de vendas, como a Apple.

"Já vemos um aumento dos pedidos. O dólar está mais alto, mas pelo menos não sofre tanta oscilação. A perspectiva também é de um endividamento mais sob controle por parte do consumidor", afirmou Marcus Daniel, presidente da fabricante de telefones celulares Alcatel One Touch.



Veículo: Valor Econômico


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