Um grande tanque fabricado com chapas de aço inox, com um complexo sistema de engrenagens que varre toda a máquina, coletor de energia solar ou outra fonte alternativa e 14 anos de muito trabalho. Com essa fórmula, o engenheiro mecânico Aílton Leão, projetou um sistema engenhoso de desidratação, que está sendo apresentado na Feira do Empreendedor inaugurada na quarta-feira (19) em Mossoró, no Rio Grande do Norte e que prossegue até sábado (22).
O grande diferencial desse equipamento é a conjugação da eficiência com baixo custo. O engenheiro explica que para fazer o mel do caju, por exemplo, o método tradicional é colocar o tacho direto no fogo, o que prejudica a qualidade, o gosto e, principalmente, provoca perdas de muitos nutrientes, incluindo a vitamina C que é altamente volátil. Pelo novo sistema, todas as características nutricionais são mantidas e o sabor não é alterado.
"Qualquer coisa que entrar nessa máquina vira pó", brinca o agora empresário, à frente da empresa Desidratec. "De sobras de frutas a aparas de peixe e vinhaça, um subproduto do açúcar, tudo isso pode ser transformado em farinha, fonte importante de suplementação alimentar ou como ração animal", enfatiza.
Um exemplo de desperdício que choca o engenheiro ocorre com o soro do queijo. Apenas parte é usada na produção de ricota e de iogurte, mas a maior parte é jogada fora porque a deterioração é muito rápida. "As indústrias no Brasil preferem importar em lugar de conservar, porque o processo é muito caro, o que não o caso do meu equipamento".
Como o sonho continuava maior que a verba disponível, mesmo acumulando trabalho como professor de Física em cursos pré-vestibular, o empresário começou a pesquisar e chegou ao programa de subvenção econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), mas com possibilidade de usos bem diferentes da idéia original.
"Como não tinha desidratador, achei que o princípio da máquina que tinha inventado poderia ser usado como dessalinizador de água e no melhoramento da cadeia molecular do biodiesel, porque tira a água sem danificar as características do produto. Concorri com outros 2,5 mil projetos e achei que tinha chance zero, porque a empresa era pequena. Confesso que fiquei surpreso quando ganhei", comemora.
Com os recursos da Finep, Aílton Leão pode agora se dedicar integralmente ao projeto. Nesta trajetória, ele reconhece a importância do apoio que recebeu da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Ceará e do Programa Estadual de Desenvolvimento Tecnológico (Padetec).
O desidratador já está sendo negociado com o governo cearense para implantação de projeto-piloto em alguns assentamentos. Idéia que começa também a interessar a outros estados. Outra proposta que está sendo estudada é o uso medicinal, como a desidratação de folhas de agrião bravo para combater a cirrose hepática. Os equipamentos tradicionais inviabilizam a fabricação e a comercialização.
O equipamento da Desidratec, com capacidade para 180 litros e resultado final em cinco horas, custa R$ 80 mil. Uma bomba de vácuo que processa três quilos em dois dias supera os R$ 90 mil. A outra alternativa é o equipamento importado de mais de R$ 1 milhão. "Como todo doido, já botei muito fogo em casa, mas cheguei lá", diz Aílton.
Veículo: DCI