As companhias brasileiras podem ganhar, nos próximos meses, acesso facilitado aos consumidores dos países vizinhos. Desde fevereiro está em funcionamento um projeto batizado de Mercosul Digital, criado para ajudar na integração tecnológica entre os países do bloco.
"As empresas [de todos os países envolvidos] ganham três novos mercados", diz Gerson Rolim, diretor executivo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Câmara e-net) e responsável no Brasil por essa vertente do projeto.
A vantagem para os empresários brasileiros é que o comércio eletrônico é muito mais desenvolvido no país do que nos demais mercados da região. O projeto pode beneficiar, em particular, um grande número de pequenas e médias empresas, que ganhariam acesso ao exterior com custo relativamente baixo.
"No Brasil, 90% das compras on-line são feitas por brasileiros em sites brasileiros. No resto da América Latina, 40% das compras são feitas no eBay e na Amazon", comenta Rolim. Dados de 2007 sobre vendas on-line na região indicam um montante de US$ 10,9 bilhões, com o Brasil representando 44,9% do total e a Argentina, 7,5%. Paraguai e Uruguai entraram no bloco de "outros", com 1,9% do total.
Sandra Turchi, superintendente de marketing da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), diz acreditar que o Mercosul Digital ajudará a quebrar barreiras que os pequenos e médios empresários têm na hora de pensar em abrir uma loja na internet ou exportar seus produtos. "Não são atividades só para grandes empresas", diz ela.
Apesar dos benefícios previstos para o comércio eletrônico, o foco da iniciativa é bem mais amplo. O Mercosul Digital entrou em funcionamento oficialmente em 13 de fevereiro e prevê investimentos de ? 9,6 milhões em iniciativas educacionais e de troca de informações para reduzir as 'assimetrias tecnológicas' existentes entre os quatro países do bloco.
"Quero poder mandar um documento para o outro país e que ele tenha validade jurídica usando uma assinatura eletrônica", diz Rogério Vianna, assessor do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e membro do grupo de trabalho do Mercosul que discute o tema.
Segundo Vianna, na área de assinaturas digitais estão previstas iniciativas para discussão de um marco regulatório comum e a implantação de uma infraestrutura de chaves públicas em cada país (necessárias para a certificação digital), usando o conhecimento gerado no Brasil.
Para facilitar as transações on-line e o comércio eletrônico está prevista a criação de centros logísticos de entrega de mercadorias entre os países. Outra medida em estudo é a promoção conjunta, no mercado internacional, de um produto comum entre os países do bloco.
A integração tecnológica entre os países da região começou a ser discutida em 1998 com a criação de um subgrupo de trabalho (SGT) no Mercosul. Em 2006, o projeto ganhou contornos mais específicos. O Mercosul Digital conta com um aporte de ? 7 milhões da Comissão Europeia. Segundo Vianna, do MCT, a cooperação entre os dois blocos nessa área vem sendo discutida desde 2004.
Dos outros ? 2,6 milhões , cerca de 50% serão aportados pelo MCT na forma de recursos humanos para gestão e realização das iniciativas previstas no acordo. Entre 25% e 30% do orçamento total de ? 9,6 milhões irão para a criação de uma escola virtual que oferecerá cursos com formação semelhante à de um mestrado nos temas da sociedade da informação, diz Vianna. Está prevista a instalação de uma unidade por país para capacitar mais de mil profissionais nos próximos 36 meses, período de duração do Mercosul Digital. Segundo Rolim, da Câmara e-net, os recursos começam a chegar em maio.
Veículo: Valor Econômico