Em sua 47ª edição, o maior encontro de lideranças supermercadistas, a Convenção Abras, foi pautado por um atributo indispensável para ambientes corporativos produtivos: alto astral.
O termo tem a ver com carisma, capacidade de contagiar e alma. Medidas técnicas e ações concretas de transformação não acontecem quando os profissionais envolvidos não estão de fato contagiados por um astral positivo.
O anfitrião do evento, presidente da Abras, Fernando Teruó Yamada, esmerou-se por conferir esse caráter à Convenção (e a ver pela pesquisa de satisfação dos convencionais, conseguiu — leia pesquisa de satisfação nesta edição), deixando claro esse propósito inclusive no discurso de boas-vindas durante a solenidade abertura, que contou com 800 participantes, entre supermercadistas, profissionais da indústria e personalidades públicas. Aproveitando a ideia de liderança alto astral, Yamada destacou a presença no evento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na visão de Yamada personifica como poucos esse conceito.
Além da presença de Lula, Yamada também destacou e agradeceu a participação de outros convidados, como o atual presidente da Associação Latino-Americana de Supermercados (Alas), João Carlos de Oliveira, e o próximo presidente da entidade, que assumirá em 2014, Tomislav Kuljis, da Bolívia. Yamada também fez questão de citar a presença de presidentes e diretores de todas as associações estaduais do setor, com destaque para a participação na Convenção dos presidentes de algumas das maiores redes do País (Grupo Pão de Açúcar, Walmart Brasil e Cencosud). Lembrou a presença na solenidade do presidente do Conselho Consultivo da Abras, Sussumu Honda, do deputado federal Rubens Moreira Mendes Filho (RO), do deputado estadual (SP), Orlando Morando, representando o governador Geraldo Alckmin, e do secretário de Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio (MDIC), Humberto Luiz Ribeiro, que representou o ministro Fenando Pimentel.
Em sua primeira Convenção como presidente da Abras, Yamada se disse honrado em presidir uma entidade tão representativa e formada por empresários que há décadas buscam somar forças não apenas para defender os interesses do setor, mas de toda a sociedade brasileira. “Vale observar que nossa Convenção é mais antiga do que a própria Abras, o que não deixa dúvidas quanto ao espírito de união dos empresários do setor e à busca por desenvolver e compartilhar conhecimentos entre os empresários supermercadistas.”
Durante o discurso, Yamada informou que o setor tem razões de sobra para se orgulhar da Abras, por tudo o que a entidade tem feito pelos supermercados nesses 45 anos de história. “Quando se pensou em obrigar os supermercados a colocar etiqueta de preço, produto a produto [começo dos anos 2000], o que representaria um custo equivalente a 1,7% do faturamento do setor, a Abras conversou com os órgãos públicos e mostrou que havia alternativas [como a etiqueta de gôndola e os leitores de código de barras]. Isso significou uma economia, só em 2012, estimada em R$ 4 bilhões.”
Yamada, porém, disse que se o passado é de conquistas, o presente e o futuro também devem ser. Para exemplificar, citou o Plano Abras Maior, criado nos primeiros meses de sua gestão e que busca integrar ainda mais o setor supermercadista ao Plano Brasil Maior, do governo federal, através de ações sinérgicas.
Um bom exemplo nesse sentido foi a redução feita pelo governo dos tributos sobre os produtos da cesta básica, que foram repassados aos consumidores finais pelos supermercados ainda no primeiro semestre do ano. No plano da Abras também há o compromisso do setor de continuar a crescer.
“Todos nós precisamos investir, crescer, gerar emprego e agregar cada vez mais para a nossa economia. Mas fica difícil fazer isso de forma sustentável e consistente sem união. Temos de unir forças com outras entidades representativas para traçar metas conjuntas e reforçar a integração dos elos, principalmente com a indústria, que aqui hoje está muito bem representada. Aliás, este evento visa justamente promover relacionamento e diálogo com todos os nossos parceiros.”
Yamada enfatizou que, se o segmento já é importante, por toda a contribuição que dá à nação, pode ser ainda mais. “Quando o governo quer saber sobre o consumo, é conosco que se consulta. Nosso setor tem de trabalhar para ser cada dia mais importante para o governo em termos de políticas públicas de desenvolvimento econômico.”
Antes de passar a palavra ao secretário do Comércio e Serviços, do MDIC, Humberto Luiz Ribeiro, Yamada destacou a cooperação entre Abras e MDIC, que só tem aumentado nos últimos anos e contribuído, cada vez mais, para o desenvolvimento, não apenas do setor, mas, sobretudo, do País. Por fim, o presidente agradeceu a todos os patrocinadores, fazendo questão de frisar que sem eles o evento não seria possível.
Humberto Ribeiro começou seu discurso agradecendo a oportunidade de poder falar a tantas lideranças do setor supermercadista ao mesmo tempo e enfatizou, logo em seguida, que nos últimos anos o desenvolvimento do comércio brasileiro e mesmo a aproximação dos órgãos públicos com as entidades de classes e os diversos setores tinha como principal objetivo ampliar o acesso da população brasileira ao consumo. “Todas as ações desse governo e do anterior visam gerar bem-estar aos nossos consumidores e, sem a colaboração do setor, isso não é possível.”
Num discurso breve, Ribeiro destacou que o governo Lula deu início a uma nova fase nas políticas de desenvolvimento econômico do País. Segundo ele, foi ouvindo o presidente num congresso em Davos (Suíça), durante o Fórum Econômico Mundial de 2003, que ele percebeu que o “gigante havia acordado”. Na ocasião, o presidente deixava claro o objetivo de estabelecer um pacto entre os diversos setores da sociedade brasileira, dialogando mais com todos os segmentos econômicos.
Na sequência, discursou o deputado federal por Rondônia (RO), Rubens Moreira Mendes Filho, que enalteceu a onipresença do setor. “Os supermercados estão em todos os lugares, tornando possível aos brasileiros das mais diferentes regiões ter acesso ao consumo, principalmente de alimentos. Mais do que isso, o setor gera quase um milhão de empregos diretos e quatro milhões de empregos indiretos, o que não deixa dúvidas sobre sua importância.”
O deputado ainda elogiou o Programa de Recuperação Fiscal (Refis), que tem permitido a empresários, principalmente os pequenos, independentemente do ramo de atividade, sair da informalidade, o que aumenta a arrecadação e a qualidade dos negócios e dos empregos gerados.
Depois de Rubens Moreira, foi a vez do deputado estadual, Orlando Morando, parlamentar com história na defesa do setor, que reforçou as palavras do deputado federal sobre o Refis, dizendo que o programa fazia justiça aos empresários, que muitas vezes não conseguiam se manter formais porque não conseguiam e não por má-fé. Morando também enfatizou o compromisso dos supermercados com o bem-estar dos consumidores.
“Os governos estão percebendo que reduzir imposto e facilitar o acesso ao crédito para os supermercados vira preço mais baixo e gera emprego de fato.”
A última personalidade a falar na cerimônia foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes de Lula começar a palestra, Yamada e a esposa dona Severa Yamada o presentearam com duas lembranças em nome da entidade, um vaso ornamental e um relógio. O presidente do Conselho Consultivo da Abras, Sussumu Honda, também subiu ao palco e entregou a Lula um boné do seu time de coração, o Corinthians.
Lula começou seu discurso cumprimentando os supermercadistas, lembrando a presença dos empresários sul-americanos e dizendo que sonhava com a realização de um grande evento supermercadista envolvendo profissionais do setor “de todo o Cone Sul”. O presidente reiterou o que disse Yamada sobre a importância estratégica dos supermercados para compreender o mercado de consumo de um País e pensar estratégias públicas de desenvolvimento econômico.
“Quando era presidente, sempre que saía no noticiário que a economia estava ruim, que corríamos riscos, eu ligava para uns três varejistas grandes para saber se era verda- de. Sempre ouvi que estava tudo bem e o tempo mostrou que estava mesmo... Mas eu não ouvia só os varejistas, não. Tudo o que eu fiz de correto, toda a minha carreira, é fruto da capacidade de ouvir as pessoas. Ouvir e depois tomar o melhor caminho para a maioria da população: isso é democracia.”
Na visão de Lula, sua capacidade de ouvir ajuda e muito a explicar alguns dos resultados positivos de seu governo. “Conseguimos aumentar em 20 milhões o número de empregos formais nos últimos dez anos. Mais de 40 milhões de brasileiros ingressaram no mercado de consumo e elevaram seu nível socioeconômico. De 60 milhões de brasileiros bancarizados em 2003, passamos a 120 milhões em 2012.” Lula salientou ainda que em 2003 o crédito movimentava R$ 12 bilhões em nossa economia. “Em 2012, movimentou mais de R$ 1 trilhão... Percebam o que era o Brasil há dez anos e o que é hoje. Somos a 6ª economia do mundo e não temos mais como voltar atrás.”
Antes de terminar sua palestra, Lula deixou uma mensagem de autoestima e “alto astral”, reforçando a ideia que sempre defendeu de que somos um povo tão capaz quanto qualquer outro no mundo. “Nós brasileiros não podemos, não devemos nem precisamos nos sentir inferiorizados. Não devemos abaixar a cabeça para ninguém. Temos inúmeras qualidades como povo e, no que se refere à gestão do País, posso lhes assegurar que não há como o Brasil não dar certo.”
Além de conhecimento prático para ser aplicado aos negócios por meio das palestras, a Convenção Abras também permitiu aos convencionais estreitar relações e gerar negócios. Os maiores supermercadistas do País, alguns dos maiores da América Latina, executivos e empresários das diversas indústrias às quais o setor está ligado e autoridades públicas tiveram a oportunidade de conversar de forma mais descontraída e alinhar expectativas comuns.