Wagner Hilário, Rio de Janeiro
Consultor Antonio Carlos Ascar
“Reflexões sobre tendências no varejo” foi o título da palestra do sócio-diretor da Ascar & Associados, Antonio Carlos Ascar. O consultor, que foi o mais alto executivo do GPA na década de 1990, mostrou como o setor tem evoluído, sobretudo em relação aos formatos, por causa da veloz transformação dos hábitos de consumo no mundo contemporâneo.
“Hoje, há uma infinidade de formatos, mas, até 2013, eu havia identificado 12 formatos puros. Em 1997, eram sete. Isso se deve ao fato de o mercado de consumo ser extremamente heterogêneo hoje, como nunca foi em nenhum outro momento.” Ascar citou, ainda, que os consumidores ganharam muito poder ao longo dos anos e atender sua plural demanda é essencial para o setor. “As lojas são para os consumidores, se eles são plurais, elas também precisam ser.”
Para saber que caminho seguir e não se perder na tentação de ser tudo sem, na verdade, ser nada, Ascar alertou sobre a importância de os empresários respeitarem a vocação de suas lojas.
“Embora sejam muitos os formatos, é possível destacar alguns, mais tradicionais, e dizer quais vão bem e quais vão mal.” Os hipermercados, segundo Ascar, vivem uma crise de identidade e passam por forte transformação. “Lojas grandes, como os hipermercados tradicionais, não terão mais vez. Os híperes podem e devem se reinventar, mas serão menores.”
Já as lojas pequenas, na visão de Ascar, até pela pluralidade de modelos e a facilidade com que se adaptam a grandes centros, mas não apenas a eles, têm vida longa e ótimas perspectivas de crescimento. “Elas crescem em mercados onde, tradicionalmente, os supermercados são grandes, como nos Estados Unidos.” Entre as pequenas lojas, há formatos ainda mais destacáveis, como os hard discounts (lojas de sortimento limitado), fresh marketings (hortifrútis) e grocerant (mescla de supermercados com restaurantes, como o caso Eataly).
“De forma bem resumida, as pessoas querem praticidade e saúde, o que explica o sucesso de pequenas lojas e, mais diretamente, de lojas que ofertam FLVs e refeições prontas num espaço pequeno, fácil de ser percorrido.”
Nesse sentido, Ascar destacou as lojas especializadas e especiais. As especializadas são aquelas focadas em determinada linha de produtos, mas que oferecem, como completo, outros itens, mais em caráter de conveniência. “Há muitas, principalmente na linha de produtos frescos.”
Já as especiais são formadas por lojas que têm características únicas, caso da consagrada Stew Leonard. Há outras que não chegam a ser únicas, mas se diferenciam por defenderem causas, como a Wefood, rede ligada uma ONG holandesa que vende produtos vencidos, mas ainda aptos para o consumo.
Naturalmente, entre as tendências, Ascar falou dos atacarejos, que classificou como uma espécie de subcategoria de warehouse (loja-depósito) outro modelo que vem fazendo muito sucesso e diminuindo de tamanho.
Por fim, o estudioso e especialista destacou o e-commerce. “A internet, por mais que seja desconfortável tratar do tema para alguém da minha idade, é o destino irremediável de todas as formas de comércio. Para os supermercados, é entrar ou morrer. Claro, a internet não representa o fim da loja física, tanto não é isso, que há e-commerces migrando para o mundo físico. Agora, o e-commerce mudará e já está mudando, profundamente, a maneira de fazer varejo. É preciso entender e acompanhar para seguir competindo.”
Wagner Hilário é editor da Revista SuperHiper, publicação da ABRAS.