As cotações do suco de laranja voltaram a subir ontem na bolsa de Nova York, depois de terem recuado na terça-feira, e reforçaram uma surpreendente curva ascendente que já resulta em valorização acumulada superior a 70% em 2009 naquele mercado, principal referência mundial para os preços da commodity.
A escalada começou com as perspectivas de redução da oferta na Flórida por causa de adversidades climáticas em regiões produtoras de laranja e ganhou força com a expectativa de que as recentes chuvas em São Paulo prejudiquem a próxima safra da fruta no Estado. Mas ganhou força mesmo nas últimas semanas, por causa da gripe A (H1N1), popularmente conhecida como gripe suína. Gripe?
Nos Estados Unidos, a proximidade do inverno e a preocupação com a disseminação do vírus levaram a população a recorrer à velha e boa vitamina C, o que ampliou o consumo de suco de laranja no país e animou os investidores a elevar as apostas nos contratos do suco em Nova York.
Ontem, os contratos com vencimento em março - que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez - encerraram a sessão negociados a US$ 1,1630 por libra-peso, ganho de 40 pontos sobre a véspera. Pode parecer pouco diante do recorde histórico superior a US$ 2 alcançado em 2006, mas após um longo período abaixo de US$ 1, trata-se de uma recuperação importante.
Segundo cálculos do Valor Data, os contratos de segunda posição acumulam valorização de 71,28% em 2009 em Nova York e, graças a esse salto, a alta nos últimos 12 meses chega a 38,62%.
"Muitas pessoas acham que altas doses de vitamina C as livrarão de pegar o resfriado comum e a gripe (...) Recebemos muitas ligações de especuladores, e a maioria dizia querer uma posição porque achava que a gripe suína vai atacar e que as pessoas vão beber muito mais suco de laranja", disse Fain Shaffer, da americana Infinity Trading Corp., à agência Reuters. Para ele, se a demanda no país continuar firme os preços têm espaço para subir mais 25% em Nova York nas próximas 11 semanas.
Em outubro, 186,6 milhões de litros de suco de laranja foram vendidos no varejo dos EUA, 6,4% mais que no mesmo mês de 2008, segundo dados da Nielsen relatados pela Bloomberg.
Apesar desse efeito, Maurício Mendes, presidente da AgraFNP no Brasil e membro do Grupo de Consultores em Citrus (GConsi), lembra que a recuperação das cotações começou com os problemas climáticos em São Paulo e na Flórida - que reúnem, nesta ordem, os maiores parques citrícolas do planeta -, e que esse fator pode oferecer sustentação às cotações mesmo depois que o inverno no Hemisfério Norte terminar. Ele também observa que a demanda no inverno costuma cair, o que tira um pouco do peso de eventuais aumentos observados na estação.
Ao Valor, Mendes explicou que as chuvas atrapalharam a colheita paulista da safra atual (2009/10) e prejudicaram a florada da próxima temporada (2010/11), além de beneficiarem a propagação do fungo estrelinha. Em São Paulo, as floradas acontecem normalmente nos meses de setembro e outubro e a colheita tem início em junho.
Veículo: Valor Econômico