Fabricante do Jack Daniel's cria modelo para a gestão familiar

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Num esforço para permanecer independente e sob controle familiar, a fabricante americana de bebidas Brown-Forman Corp. lançou uma iniciativa para que os acionistas da família controladora se envolvam mais com a empresa.

 

Especialistas em governança corporativa consideram a iniciativa da fabricante do bourbon Jack Daniel's, que tem sede em Louisville, Kentucky, um modelo para outras empresas de controle familiar que estejam tentando evitar a discórdia que abalou outras firmas.

 

No ano passado, a Brown-Forman contratou seu primeiro diretor de relações com acionistas da família para assumir responsabilidades geralmente exercidas em tempo parcial por outros executivos.

 

Ele viaja para se reunir com os membros da família, ajuda a recrutar estagiários da família e coordena seminários educacionais.

 

Antes, a Brown-Forman havia criado um comitê de acionistas da família com 11 parentes e contratou um consultor para assessorá-la nas relações com os Brown, que detêm aproximadamente dois terços das ações com direito a voto.

 

Para os Brown, é uma chance para entender e conduzir melhor a empresa responsável por sua riqueza e legado. Para a empresa e seu diretor-presidente, Paul Varga, que não faz parte da família Brown, uma base coesa e harmônica de acionistas da família oferece estabilidade durante uma economia difícil. "Ela oferece um horizonte de longo prazo e a capacidade de superar as turbulências no caminho", diz Varga.

 

Esse esforço é um dos mais notáveis dentre um número crescente de tentativas de empresas de controle familiar para educar melhor e unificar os acionistas da família, disse Ernesto J. Poza, um professor da Escola Thunderbird de Administração Global, do Arizona, e consultor de empresas de controle familiar.

 

A gigante do agronegócio Cargill Inc., por exemplo, abriu dois anos atrás uma academia de liderança para treinar jovens membros das famílias Cargill e MacMillan, que controlam a empresa. Na Estée Lauder Cos., os membros da família seguem princípios formais que guiam seu envolvimento na empresa.

 

A iniciativa da Brown-Forman começou em 2007, quando Varga, que já era diretor-presidente desde 2005, virou presidente do conselho. O conselho então nomeou Garvin Brown IV como copresidente com a missão de presidir suas reuniões. Brown, de 40 anos, também é um vice-presidente sênior da Brown-Forman. Os dois disseram que se deram conta de que os membros mais jovens da família tinham pouca exposição à empresa e concordaram que a Brown-Forman precisava adotar uma postura proativa para trazê-los para dentro.

 

Eles contrataram a consultoria de Lloyd E. Shefsky, um professor da Escola Kellogg de Administração da Universidade Northwestern e fundador de seu Centro para Empresas de Controle Familiar. Shefsky notou que, embora a Brown-Forman viesse há 140 anos sendo liderada principalmente por membros da família, havia uma lacuna na quinta geração. A empresa empregava seis membros da geração à época, mas nenhum deles no alto escalão ou visto como candidato ao cargo de diretor-presidente.

 

A quarta geração, que inclui dois irmãos que ocuparam a presidência da empresa de 1975 a 2005, "não gastou muito tempo pensando sobre" a preparação dos sucessores, disse Shefsky.

 

Para complicar as coisas, a Brown-Forman havia,em poucas décadas, se transformado de uma firma relativamente pequena, com foco nos Estados Unidos, numa grande força global, impulsionada pela marca Jack Daniel's. A família também cresceu. Atualmente, há 117 descendentes vivos do fundador e 38 viúvos e viúvas ou cônjuges, diz a empresa.

 

Nas reuniões iniciais, Shefsky tentou avaliar a dedicação dos membros da família para com a empresa. Ele descobriu que muitos membros da família queriam permanecer envolvidos com a empresa para que ela pudesse ser passada a seus filhos. A certa altura, ele mencionou os Bancroft, a família que durante anos controlou a Dow Jones & Co., que publica o Wall Street Journal. Quando a News Corp. fez uma oferta pela Dow Jones, em 2007, poucos Bancroft estavam ativos na empresa e muitos membros da família tinham pouca interação entre si.

 

"Eu usei a Dow Jones como um exemplo do que pode acontecer quando uma família não é coesa", disse Shefsky.

 

Shefsky encorajou a família Brown a criar o comitê de acionistas da família e de membros da direção. O comitê, com 11 membros da família e alguns não parentes, como Varga, se reúne seis vezes por ano para discutir questões empresariais que a Brown-Forman enfrenta, e aceitou projetos como o de preparar uma constituição familiar, que esboça os princípios da família e como ela deve interagir com a empresa.

 

Kaumil Gajrawala, um analista do UBS, disse que a Brown-Forman pode estar reforçando a comunicação com a família para diminuir as chances de que uma outra empresa possa vir a fazer uma oferta de compra. "Muita gente da indústria global de bebidas alcoolicas ficaria muito interessada na marca Jack Daniel's", disse ele.

 

Varga disse que não está tentando proteger-se de uma oferta de compra, mas que gosta da estabilidade que uma base coesa de acionistas oferece. Ele disse que a empresa e a família estão comprometidas a manter a Brown-Forman independente e sob controle familiar.

 

Veículo: Valor Econômico


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