A Citrosuco, do Grupo Fischer, e Citrovita, do Grupo Votorantim, vão ocupar a liderança mundial na produção de suco de laranja. As duas companhias anunciaram ontem a criação de uma nova empresa formada pelos ativos das duas, com sete fábricas, oito terminais e cinco navios, além de pomares, no Brasil e no exterior.
Cada uma das empresas terá 50% de participação na nova gigante. Juntas, elas chegam ao mercado com um faturamento de R$ 2 bilhões.
Com a união dos ativos, elas passam a ter 25% do mercado mundial de suco de laranja e entre 40% e 45% de toda a laranja processada no País, deixando para trás a Cutrale, que até agora detinha a liderança, com cerca de 35% do total de frutas adquiridas pela indústria nacional.
O mercado estima que, antes da fusão, a Citrosuco detinha por volta de 35% do mercado e a Citrovita, na casa dos 20%. A multinacional Louis Dreyfus tem cerca de 15%.
De acordo com o acordo entre os controladores, a gestão será equânime. Tales Lemos Cubero, presidente da Citrosuco, ficará no comando do novo negócio. Já Mário Bavaresco Júnior, que preside a Citrovita, ocupará o cargo de diretor-geral. As demais diretorias serão divididas igualmente entre os dois sócios.
Negociações. Há pelo menos dois anos se comentava no mercado sobre a possibilidade de fusão entre as duas companhias. Mas, nos últimos meses, os rumores aumentaram. Há uma semana, durante o Citrus Dinner, o mais tradicional encontro da citricultura, em Limeira (SP), só se falava da possível fusão, conta um líder sindical do setor. Nesta semana, quem tentou falar com Bavaresco e Cubero teve dificuldades. Ambos estavam em intermináveis reuniões acertando os últimos detalhes da fusão.
Segundo Cubero, as negociações começaram em 2009 e o contrato foi assinado ontem no escritório da Fischer no Rio de Janeiro. A Fischer/Citrosuco foi assessorada pelo banco Rothschild e a Votorantim/Citrovita teve assessoria da McKinsey para estruturar a operação.
Os executivos disseram que, por acordo contratual, não podem dar detalhes de como será o encontro de contas entre os ativos das empresas. Mas é fato que a Citrosuco é maior que a ex-rival e está com uma situação de caixa melhor. No ano passado, a Citrovita anunciou um prejuízo na casa dos R$ 500 milhões.
A exemplo do que vem acontecendo em outros setores do agronegócio, como o de carnes, a citricultura brasileira apostou na união para ganhar força. "Teremos massa crítica para enfrentar a consolidação no exterior. Nos Estados Unidos e na Europa, tanto as redes varejistas quanto as engarrafadoras de suco são muito concentradas. Juntas, podemos negociar melhor e enfrentar a competição de outras bebidas", explica Cubero.
Não é de hoje que o suco de laranja vem perdendo espaço para outras bebidas no mundo. No primeiro quadrimestre, o consumo de suco de laranja 5,4% nos EUA em relação ao ano passado.
Resistência. Antes de tirar a fusão do papel, Citrosuco e Citrovita terão de aprovar o negócio no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) - as empresas têm 15 dias úteis para formalizar a união. Até lá, não se fala nem sobre o novo nome da companhia. Além dos aspectos concorrenciais, elas terão pela frente a resistência dos produtores de laranja, que há tempos se queixam da concentração da indústria do suco.
Paulo Sader, produtor paulista, diz que a fusão será ruim: "Com o mercado mundial de suco em queda, as duas empresas poderão ser quase autossuficientes na produção de frutas, e vão comprar laranjas de produtores apenas para complementar."
Presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas também é contra a fusão. "Há uma cartelização já denunciada (ao Cade). A fusão só vai piorar a situação do produtor", afirma.
Veículo: O Estado de São Paulo