Citrosuco e Citrovita juntas criam negócio de R$ 2 bi, responsável por 25% do consumo no mundo, e superam Cutrale
Grupos Fischer e Votorantim terão 50% cada um da nova empresa; em crise, consumo do suco da fruta caiu 18,5% no mundo nos últimos seis anos
Citrosuco e Citrovita decidiram unir suas operações em um negócio que cria a maior exportadora de suco de laranja do mundo. Juntas, serão responsáveis por quase 25% do consumo global.
Atualmente a segunda e a terceira maior exportadora do setor no mundo, unidas ficam na frente da Cutrale, que manteve a liderança ao longo dos últimos 30 anos.
A nova empresa deve faturar R$ 2 bilhões neste ano. A produção, para a próxima safra, é estimada em 600 mil toneladas de suco concentrado.
A Cutrale prevê para 2010 um faturamento de R$ 1,26 bilhão, com uma produção de 400 mil toneladas de suco. O Brasil produz 1,2 milhão de toneladas de suco, mas quase tudo é exportado. O consumo doméstico é de 35 mil toneladas.
Os grupos Fischer, dono da Citrosuco, e Votorantim, dono da Citrovita, terão 50% cada um da nova empresa. Os valores envolvidos na transação não foram divulgados.
"Estamos vivendo um momento de consolidação acelerada no setor, com menos companhias, mas com companhias mais fortes", disse o presidente da Citrosuco, Tales Lemos Cubero, que vai presidir a nova companhia.
O negócio acontece em um momento de crise para a laranja, que enfrenta a concorrência de outras bebidas. O consumo mundial do suco da fruta caiu 18,5% desde 2003. De 2,7 milhões de toneladas para 2,2 milhões de toneladas.
"Hoje a laranja compete com energéticos, água de coco, chás e com o suco de outras frutas", disse Cubero. "A união vai nos dar mais eficiência e competitividade, nos permitindo fazer frente a essa concorrência."
Apesar da queda no consumo, a redução da oferta devido à quebra de safra no Brasil e na Flórida, tem levado a um aumento no preço da commodity A caixa da laranja hoje vale algo como US$ 7, ante US$ 3 há um ano.
Para Maurício Mendes, presidente da Agra FNP e consultor do Gconci, grupo de consultores independentes em cítrus, a união de Citrosuco e Citrovita é uma das mais importantes consolidações da história do setor. "Os Estados Unidos já chegaram a ter 40 indústrias e hoje são apenas seis, incluindo as três grandes brasileiras."
"É um movimento reativo a essa diminuição do número de companhias", completou o consultor, que acredita que a Cutrale não deve ficar quieta diante do movimento da concorrência. "Mas não sobraram muitas empresas de porte. No Brasil, só tem a Dreyfus [multinacional francesa, quarta maior exportadora]."
A operação depende de aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e de órgãos antitruste no exterior. Mario Bavaresco Junior, presidente da Citrovita, não vê razão técnica para o Cade não aprovar.
"Nosso objetivo é fortalecer uma empresa brasileira para fazer frente à competição nacional", disse o executivo, que será o diretor-geral da nova empresa. "O aumento da eficiência nos dá mais competitividade e isso beneficia toda a cadeia produtiva."
Na avaliação de Cubero, as investigações de cartel envolvendo o setor da laranja não devem interferir na decisão do Cade. "São coisas independentes. A investigação se refere a eventos de dez anos atrás."
A nova companhia terá 7 fábricas e 64 mil hectares de pomares próprios, que respondem por 30% do processamento total. O resto é adquirido de mais de 2.500 produtores.
Veículo: Folha de São Paulo