A queda apontada pelo IBGE de 10,9% na produção da indústria de bebidas em abril, com relação a março, tem a ver com o fim do verão, mas não está relacionada com desaceleração no setor. Ao contrário: as companhias preveem investimentos para o aumento da capacidade este ano da ordem de R$ 5,4 bilhões.
"Essa queda apontada pelo IBGE tem a ver com a sazonalidade do setor", diz William De Angelis Sallum, presidente da Wow! Nutrition, fabricante dos sucos Sufresh e dos chás Feel Good. Março, segundo ele, é o melhor mês da primeira metade do ano. "A partir de abril, com o fim do verão, a produção vai desacelerando porque as vendas dão uma caída. No meses seguintes, vão caindo um pouco mais e em agosto voltam a se recuperar. Em setembro, outubro e novembro, quando volta o verão, temos novamente uma aceleração. Todo ano é assim", explica Sallum.
O mesmo acontece com os refrigerantes, segundo Paulo Mozart, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir). "Não houve nenhuma queda real de produção ou de consumo. O que há, em linha com o que ocorre todo ano, é um reajuste sazonal", diz ele. "Os meses de verão representam de 40% a 45% do consumo anual, portanto abril sempre apresenta queda quando comparado a março", explica. Junho, segundo ele, também costuma ser um mês fraco para o setor de refrigerantes. Mas este ano a Copa do Mundo terá influência positiva sobre o setor. "Esperamos ter em junho números similares aos de janeiro", afirma Mozart.
Com as cervejarias, a sazonalidade é ainda mais forte. Além do fator verão, os feriados também acabam inflando o consumo e, portanto, a produção. "Março foi um mês cheio, com 31 dias e sem feriados. Mas como a Páscoa caiu logo no início de abril, a produção para abastecer o pico gerado por esses dias de folga ficou concentrada no terceiro mês do ano. No restante de abril, não houve mais feriados prolongados como aconteceu no ano passado, já que o Dia de Tiradentes caiu numa quarta-feira. Por isso o consumo ficou estável", explica um executivo ligado a uma grande cervejaria.
Neste ano, tanto a indústria de cerveja, quanto a de sucos e de refrigerantes espera um crescimento expressivo no consumo. Os fabricantes de refrigerantes planejam vender pelo menos 1,3 bilhão de litros a mais que em 2009, o que representa um crescimento de 6,8%. O mercado de cervejas projeta uma alta nos volumes de 6% a 10%. Já os fabricantes de sucos têm expectativas acima dos dois dígitos.
Para dar conta do consumo, as empresas do setor estão investindo R$ 5,4 bilhões este ano no aumento da capacidade produtiva. A AmBev, por exemplo, está investindo R$ 2 bilhões para elevar sua capacidade. A Schincariol também anunciou R$ 1 bilhão a serem gastos este ano na ampliação da capacidade produtiva. A Wow! Nutrition está aumentando em 50% a capacidade de sua fábrica em Caçapava, no interior de São Paulo.
Veículo: Valor Econômico