Mesmo com a concorrência com grandes fabricantes, segmento investe para lançar novos sabores no mercado
Pioneiro na fabricação de cerveja artesanal, o Rio Grande do Sul é reconhecido em todo o Brasil pela qualidade da bebida produzida em suas 25 microcervejarias. E, pela primeira vez, o solo gaúcho foi cenário do encontro anual que reúne cervejeiros de diversos estados brasileiros, com o objetivo de trocar ideias e informações técnicas. Entre os 300 participantes do evento, ocorrido entre 3 e 5 de junho, em Porto Alegre, além de empresários do setor - como os fabricantes das marcas Coruja, Dado Bier e Barley - outros 40 produtores artesanais do Estado assistiram a palestras, debateram sobre o mercado e degustaram diferentes tipos de cerveja. Entre outros assuntos, uma constatação foi unânime: apesar da qualidade “superior”, esta categoria da bebida sofre com a concorrência “desleal” das grandes marcas.
Produzida de forma caseira, com 100% de malte, sem aditivos químicos, e obtendo resultados com diferentes sabores e padrões de fermentação, a cerveja artesanal hoje não representa nem mesmo 2% do mercado nacional. Mas a meta do setor é crescer. “Temos um produto diferenciado, feito para ser saboreado, e não para ser consumido em massa”, enfatiza o empresário Micael Eckert, 36 anos, proprietário da marca Coruja. Fabricada em Teutônia, desde 2004, os 12 mil litros/mês da bebida são comercializados em 50 pontos de Porto Alegre e 20 locais da Serra gaúcha, principalmente em Caxias do Sul, Gramado e Canela.
Logística de distribuição requer cuidados especiais, segundo Eckert, uma vez que a cerveja caseira, por não ser pasteurizada, só tem durabilidade por trinta dias, sob refrigeração. “Precisamos carregar o produto em caminhão refrigerado, com lona térmica, e só podemos vender a quantidade que couber no freezer do comerciante. Depois ainda é preciso voltar se a validade vencer”, explana o empresário, frisando que todo esse custo é repassado ao consumidor. Isso sem contar a dificuldade para se conseguir garrafas e tampinhas, tendo em vista que a demanda é de pouca quantidade e torna os custos mais elevados.
Presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais do Rio Grande do Sul (Acerva Gaúcha), o advogado e contador Jorge Henrique Gitzler também é produtor caseiro. Apesar de não comercializar, ele conhece bem a dificuldade de quem tenta viver do negócio. “Para se erguer uma fábrica pequena, é preciso investir pelo menos R$ 1 milhão, e não é fácil se manter em um mercado em que as grandes marcas monopolizam as vendas”. Ele opina que, também devido ao monopólio, somente a partir dos últimos cinco anos os brasileiros passaram a conhecer outras cervejas, além das tradicionais pilsens que tomam conta da maior parte do mercado. Segundo ele, a tendência da produção artesanal é que cada vez mais surjam sabores “especiais, diferenciados e surpreendentes”.
Veículo: Jornal do Comércio - RS