Vinhos: Vez do tinto sul-africano

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Ao chegar aos 350 anos, o vinho da África do Sul está cada vez melhor. Os brancos ainda dominam, porém as estrelas hoje são os tintos feitos com as uvas de Bordeaux

 

O vinho da África do Sul está cada vez melhor, mas é bom não se entusiasmar muito, uma vez que há altos e baixos muito marcantes. Ao lado de bons tintos e brancos há porcarias oportunistas, muitas vezes aproveitando rótulos com animais e tipos tradicionais desse lindo país. Cuidado com rótulos com leões, girafas, guerreiros e nomes folclóricos. Se for barato demais, desconfie. É bom também ler com atenção os rótulos e eventuais contra-rótulos. Algumas vezes, um tinto “meio doce” se esconde numa garrafa com uma etiqueta bonita que destaca uma boa uva, como a Shiraz.

 

O vinho sul-africano é o único que pode comemorar seu aniversário, no dia 2 de fevereiro, quando fará exatos 350 anos: neste dia, em 1659, o holandês Jan van Riebeck prensou as primeiras uvas da fazenda Groot Constantia, no extremo sul do país, região que fez durante um bom tempo um dos vinhos mais famosos do mundo, Constantia, um doce fruto de um tipo de Malvasia, famosíssimo no século 18.

 

Com suas regulamentações e restrições, o liberticida regime do apartheid atrasou a evolução natural do vinho. Hoje, o clima é de ebulição, com aparecimento de novos tipos e regiões.

 

Todas as áreas vinícolas ficam na zona do Cabo (Western Cape), extremo sul do país, de clima mediterrâneo, no qual a corrente fria de Benguela garante um clima moderado. Quando mais perto do mar, mais frio.

 

São quatro grandes regiões vinícolas que abrigam vários distritos, que, por sua vez, são divididos em wards. Os principais e considerados os melhores distritos são os de Stellenbosch e Paarl, onde ficam wards de prestígio, como Constantia, Goeneklof, etc, etc. São nomes que podem aparecer nos rótulos.

 

Os brancos ainda dominam e alguns são mesmo muito bons, como vários feitos com a Sauvignon. Mas hoje os mais prezados são os tintos elaborados com as uvas de Bordeaux (Cabernet Sauvignon, a mais difundida, que ocupa 13% do vinhedo) e Merlot (7% do total). Em termos de qualidade, a Syrah (ali chamada normalmente de Shiraz, 9,6% da área total) é a que mais vem despertando a atenção ultimamente.

 

FLEUR DU CAP SHIRAZ 2006
ONDE ENCONTRAR: CASA FLORA, TEL. 2842-5199
PREÇO: R$ 42
COTAÇÃO: 88/100
Um vinho da Distell, sucessora da cooperativa que prejudicou o progresso do vinho sul-africano no tempo do apartheid. Faz vinhos de vários níveis, como este agradável Shiraz da boa safra de 2006. Um tinto de denominação Coastal Region. Não é um vinho complexo, mas macio, fácil de beber e não tão caro, principalmente quando comparado a outros do mesmo nível. Cor violácea de vinho novo, mas já evoluído no copo, pronto para beber. Aroma gostoso, principalmente de frutas, com um pano de fundo de madeira. Segundo o produtor, apenas 30% passou por barricas novas, deixando espaço para as frutas. Na boca, redondo, macio, sedoso, mas com final um pouco ressecante. Acidez agradável e taninos nada agressivos. Depois de um certo tempo, a madeira (chocolate, baunilha) foi se destacando. Final gostoso. O álcool não se destaca (14,5%).

 

AVONDALE RESERVA SYRAH 2005
ONDE ENCONTRAR: LA FRONTERA, TEL. 5506-6797
PREÇO: R$ 52
COTAÇÃO: 90/100
Um vinho charmoso, de uma vinícola relativamente nova e caprichada. Parte de suas uvas são cultivadas organicamente. Segundo a empresa, uvas de Paarl, de grande prestígio, na Coastal Region. A vinícola em si é uma das mais modernas do país e a vinificação é bastante natural, com poucos elementos químicos. Aqui, o aroma destaca mesmo as frutas. Um vinho “perfumado”, frutado. Só depois de um bom tempo no copo apareceram sinais de chocolate típicos do carvalho. O vinho passa apenas nove meses em barricas de carvalho de segundo uso, que já foram usados em outro tinto. Aroma ótimo e boca no mesmo nível. Macio, sedoso, com muita fruta, algo de chocolate amargo. Mais do que pronto. Quente, mas não alcoólico. 14,5% de álcool

 

RUST EM VREDE SHIRAZ 2003
ONDE ENCONTRAR: MISTRAL, TEL. 3372-3400
PREÇO: R$ 85
COTAÇÃO: 90/100
A Rust em Vrede é uma das melhores vinícolas da África do Sul. Só faz tintos em Stellenbosch,um distrito de prestígio. Um vinho caro - custava menos de R$ 80 quando foi selecionado,mas a alta do dólar elevou o preço. Envelhecido 18 meses em barricas de carvalho francês e americano. Como mostram muitos tintos australianos, o carvalho americano tem especial afinidade com tintos feitos com a Syrah. Cor intensa, com algumas indicações de envelhecimento (algo grená nas laterais do copo). Aroma potente, intenso e complexo. Mistura frutas vermelhas como a cereja com as notas da madeira (café, baunilha, chocolate). Complexo também na boca, com muito corpo e intensidade de sabor. Um vinho quente, sem exagero alcoólico. Retrogosto bom e marcante. 14,5% de álcool.

 

STEENBERG SHIRAZ 2005
ONDE ENCONTRAR: EXPAND, TEL. 3847-4747
PREÇO: R$ 80
COTAÇAO: 91/100
A Steenberg é uma adega de primeira, da região de Constantia, no extremo sul da região do Cabo, onde nasceu oficialmente, em 2 de fevereiro de 1659. Um tinto intenso, complexo e de personalidade. Segundo a ficha técnica, fez a fermentação malo-láctica em barricas de carvalho francês e americano, um luxo reservado a poucos. Essa fermentação transforma o agressivo ácido málico no mais macio ácido láctico. Depois, estagiou também em carvalho durante 12 meses. Curiosamente, não é um tinto “amadeirado”, dominado pelo carvalho, mas sim de aroma complexo, com bastante espaço para as frutas. Muito potente e intenso, mas com um pouco de elegância. Macio, sedoso, quente. Álcool bem compensado pelos demais elementos. Equilibrado e pronto para beber. 15% de álcool.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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