O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) iniciou ontem o julgamento da compra da Leão Júnior pela Coca-Cola e o relator do processo, conselheiro Paulo Furquim, votou pela venda da marca Nestea para um terceiro concorrente.
O julgamento foi interrompido por pedido de vista do conselheiro Carlos Ragazzo, mas se prevalecer o voto de Furquim, que hoje exerce a presidência interina do Cade, a Coca-Cola terá de se desfazer de todo o negócio da marca Nestea de chás prontos para beber. Só assim a Coca poderia ficar com a marca Mate Leão.
"Essa condição significa tirar um quarto do mercado da Coca-Cola", afirmou o advogado Sérgio Bruna, que defendeu a empresa ontem no Cade. A marca Nestea representa praticamente a metade da Mate Leão no mercado de chás, mates e guaranás prontos para beber. Bruna afirmou que esse mercado possui diversas marcas, como os guaracopos - mates vendidos em copos plásticos em quiosques nas praias -, e a rivalidade entre elas é bastante acentuada. Em nota, a Coca-Cola informou que pretende colaborar com o Cade "prestando todas as informações que (o órgão) julgar necessárias para uma decisão quanto à aquisição da empresa Leão Júnior".
A compra da Leão Júnior chegou aos órgãos antitruste em fevereiro de 2007. Na ocasião, a Coca-Cola argumentou que o chá mate é diferente dos "iced teas" tanto no sabor quanto na forma de consumo. O sabor do mate seria mais forte e amargo e a bebida seria usada para matar a sede. Já o "iced tea", mais suave e doce, seria consumido nas refeições. O objetivo era diferenciar o Mate Leão do Nestea.
Mas para Furquim as duas marcas fortalecerão ainda mais a posição da Coca-Cola no mercado de bebidas não-carbonatadas, em que a empresa vem fazendo sucessivas aquisições. Segundo o relator, a Coca tem posição dominante no mercado de sucos prontos para beber, em que possui a Del Valle, e no de refrigerantes, com mais de 50% do mercado.
O problema, de acordo com ele, está no controle hierárquico das marcas Nestea e Mate Leão no segmento de chás prontos para beber. "Acho essa conclusão inafastável", afirmou Furquim. Ele deu o exemplo de uma hipotética fusão entre as redes de fast food McDonald's e Burger King. "Ninguém ficaria preocupado com os equipamentos das empresas, mas sim, com a junção dos ativos das marcas."
O conselheiro usou ainda um exemplo no próprio mercado de bebidas, em que as grandes marcas de refrigerantes disputam com as tubaínas. "Imagino que todos ficariam atônitos com uma fusão entre a Coca e a Pepsi, mesmo com a participação grande das tubaínas", disse.
Pelo voto do Furquim, a Coca-Cola teria de deixar as atividades da DTW no Brasil - a gerenciadora da marca Nestea. Seria contratado um banco de investimentos para avaliar a marca e os ativos da Nestea. Caso descumpra a decisão, a Coca ficaria sujeita à multa diária de R$ 50 mil.
Ragazzo pediu vista para requisitar mais informações sobre o negócio antes de chegar a uma conclusão final. Os outros conselheiros preferiram aguardar a chegada de novas informações. Não há prazo para o Cade retomar o julgamento.
Veículo: Valor Econômico