Com vendas em alta, cerveja importada chega até a padaria

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Importações aumentam 52% em valor e mais de 35% em volume nos primeiros seis meses do ano

 

O Supermercado Galpão, em Sousas, distrito de Campinas, no interior de São Paulo, é pequeno. Tem quatro caixas e umas cinco vagas de estacionamento. Mas o mercado é um dos mais procurados na região nos finais de semana. O motivo: sua prateleira de cervejas. Além das nacionais, a loja tem pelo menos 20 rótulos de marcas importadas. "Há dez anos, cerveja importada era coisa de bar especializado. Hoje, qualquer supermercado ou padaria de médio porte têm uma marca ou outra", diz Gustavo Nogueira Sanches, sócio-diretor da importadora On Trade.

 

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, de janeiro a junho, as importações de cerveja trouxeram para o país 8,3 milhões de litros da bebida, 36,5% mais que no mesmo período do ano passado. Em dólares, as importações atingiram US$ 9,1 milhões, com alta de 52% sobre igual intervalo de 2009.

 

"Esse mercado pegou fogo de três anos para cá", diz Fabio Rodrigues, gerente comercial do Grupo Pão de Açúcar. As lojas Pão de Açúcar da rede foram pioneiras no canal autosserviço a trabalhar com as importadas, no fim dos anos 90. O começo, diz Rodrigues, foi tímido. "Antes de 2007, se tínhamos 20 rótulos, era muito", afirma. "Hoje já são 160 marcas." O concorrente Walmart também entrou no segmento. A rede tem 50 marcas de importadas em suas lojas.

 

Boa parte dos consumidores dessas cervejas, segundo Rodrigues, são apreciadores de vinhos. Não é por acaso. Foi graças ao desenvolvimento do mercado nacional de vinhos, segundo Sanches, que o de cervejas importadas começou a crescer no país. "No começo, as importadoras traziam só vinhos, mas experimentaram trazer cervejas também. Os próprios consumidores de vinho começaram a se interessar, porque a bebida também tem vários tipos e sabores", conta o importador.

 

"O consumidor brasileiro achava a cerveja vinda de fora muito forte e amarga", lembra Marcelo Stein, da importadora Bier & Wein, única só de cervejas e uma das pioneiras no ramo, com 16 anos de mercado. "Hoje o paladar está mais desenvolvido e o consumidor continua querendo novidades, já que o mercado de cervejas nacional é muito pouco segmentado."

 

"Foi o mesmo que aconteceu nos anos 90 com o vinho da garrafa azul", acrescenta Mario Reuter, diretor da importadora Uniland. Suas vendas de cervejas importadas, segundo ele, crescem 15% ano a ano. "Toda semana tem um bar de alguma cidade distante nos ligando porque quer começar a vender cerveja importada", conta ele.

 

Com a estabilidade da moeda e o ganho de renda dos consumidores, as vendas embalaram e começaram a chamar a atenção das grandes cervejarias do país, como Ambev e Femsa (hoje Heineken). A Ambev, em março de 2007, começou a trazer as uruguaias Norteña e Patrícia. No mesmo ano, mais tarde, vieram as alemãs, como a Franziskaner, e as belgas. A Femsa, um ano antes, iniciou a importação da mexicana Dos Equis. Há seis meses, iniciou as vendas de cervejas holandesas, como a Amstel Pulse, italianas, austríacas e irlandesas.

 

Mas o que realmente ajudou esse mercado a se pulverizar, atingindo pequenos pontos de venda como o Supermercado Galpão foi a entrada do atacadista Makro no negócio. "Em outubro de 2008 inauguramos a primeira Makro Speciale, onde vendemos produtos importados, dentre eles as cervejas", diz Antonio Eduardo Sardinha, diretor comercial. Por ser uma empresa focada na venda de produtos para pequenos supermercados, lanchonetes e outros estabelecimentos do ramo de alimentação e bebidas, as importadas começaram a atrair a atenção desses empreendedores.

 

"A aceitação foi fantástica. Para esses pequenos empresários, poder revender cervejas importadas é uma maneira de sair da mesmice com produtos diferenciados", diz Sardinha. Hoje, cinco lojas Makro já contam com o espaço Speciale e mais uma será inaugurada na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Outras quatro serão inauguradas até o fim do ano e mais três estão planejadas para 2011.

 

O sucesso de vendas das cervejas importadas tem ajudado na expansão. "Em 2009, elas respondiam por 5% do faturamento geral do Makro com cerveja. Este ano, devemos passar de 10%. Elevar o faturamento da categoria dessa maneira é ótimo", diz o diretor.

 

Herbert Gris, gerente sênior de marcas premium da Heineken Brasil, concorda. "As cervejas importadas ajudam a rentabilizar a categoria porque elevam o tíquete e a margem média de toda a cadeia: indústria, distribuidor e varejo final." As importadas -que pagam 20% de imposto para entrar no país - custam de R$ 4 a R$ 16, em média. "A cerveja mais cara custa o mesmo que o vinho mais barato", diz Rodrigues, do Pão de Açúcar. Por isso alguns noivos já começaram a encomendar importadas para servir na festas de casamento. "Impressiona mais e sai por menos que um prosecco de baixa qualidade", diz Reuter, da Uniland.

 

Atualmente, calcula-se que o segmento represente 5% do mercado, incluindo também algumas marcas de cervejas artesanais e especiais feitas no país. "Esse número mais do que dobrou sua participação nos últimos dez anos, quando era somente 2%", diz Gris.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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