Ajegroup e San Miguel, dois grupos concorrentes dirigidos por irmãos, terão fábricas no País produzindo bebidas de baixo custo
Uma família peruana, desconhecida dos brasileiros, mas que há algum tempo incomoda grandes fabricantes de refrigerante na América Central e na Ásia, está chegando ao Brasil. A partir de 2011, os irmãos Añaños iniciam a produção em fábricas no Rio de Janeiro e na Bahia, com marcas que vem para disputar a população de baixa renda. Em 12 países, o preço de suas bebidas é equivalente à metade do valor de uma tubaína.
No ano passado, a Ajegroup faturou US$ 1,3 bilhão, apesar da crise financeira mundial. O resultado deu força a uma meta antiga da empresa de entrar no mercado brasileiro de bebidas. "A crise atrasou os planos, mas agora estamos chegando", diz o diretor corporativo do grupo, Alfredo Paredes. A afiliada tupiniquim já foi registrada e se chamará Ajebras. "Não podíamos deixar passar a oportunidade de entrar num dos destinos mais importantes para consumo de refrigerantes do mundo."
Empreendedores. Além de produzir bebidas, identificar boas oportunidades de negócio está entre as especialidades da família Añaños. A empresa foi fundada na década de 80, numa cidade peruana miserável, berço do grupo terrorista Sendero Luminoso. Com os saques promovidos aos caminhões de grandes empresas, a região passou a sofrer com o desabastecimento de mercadorias, incluindo refrigerantes. Pepsi e Coca-Cola pararam de chegar aos mercadinhos e restaurantes. Na época, o patriarca Eduardo Añaños trabalhava na agricultura, mas decidiu aproveitar a escassez de bebidas para mudar de ramo. Colocou os dois filhos engenheiros para pesquisar a fórmula de um novo xarope de refrigerante. No quintal de casa, eles criaram a Kola Real, o primeiro e mais famoso produto da empresa.
Foi o filho mais velho, Jorge Añaños, quem desenvolveu a bebida. Ele sempre esteve à frente dos negócios com os quatro irmãos. Mas, há três anos, uma briga entre eles tirou o primogênito da companhia. A discrição da família fez com o que o desentendimento só se tornasse público no ano passado.
Jorge criou uma nova indústria de bebidas, a San Miguel, e, num acordo com os irmãos, ficou com o direito de comercializar a marca Kola Real no mercado chileno. Lá, as duas empresas dividiram a atuação no território: Ajegroup, na capital, e San Miguel, no interior.
O acordo estava dando certo e os negócios, até agora, eram complementares. Os irmãos seguiam com a política de internacionalização e Jorge com a meta de ganhar mercado no interior do Chile. A "harmonia", no entanto, parece estar com os dias contados.
Sem combinar, as duas companhias estão desembarcando no Brasil. E, aqui, serão concorrentes. A San Miguel veio primeiro e iniciou em março a construção de uma fábrica em Alagoinhas, a 100 quilômetro de Salvador - será a segunda da empresa fora do Chile. Jorge anunciou investimentos de R$ 28 milhões na planta, que será inaugurada em março do ano que vem, com 500 funcionários. "Ainda estamos estudando o mercado para identificar que marcas terão mais aceitação do público brasileiro", disse Raul Vargas, executivo da San Miguel, que está no Brasil para comandar o início das operações.
Vargas disse desconhecer a intenção da Ajegroup de também se instalar no País. Mas a fábrica já está sendo montada no município de Queimados (RJ), com investimentos de R$ 12 milhões. A inauguração está prevista para o primeiro semestre do ano que vem. A empresa trará para o País sua principal marca, a Big Cola. O refrigerante será produzido, inicialmente, em garrafas de 600 ml. O preço ainda não foi definido. Em outros mercados, uma garrafa de 3 litros da bebida é vendida, em média, por US$ 1.
À primeira vista, a chegada dos Añaños ao Brasil parece ter sido orquestrada, mas Paredes garante que não passa de coincidência. "Seremos competidores num mercado em que há demanda para todos", diz.
Fábrica no Rio terá 'supermáquina'
A Ajegroup não quer ser pequena no Brasil. A fábrica que começa a ser instalada na cidade de Queimados (RJ) vai receber no fim do ano o que será a máquina de garrafas pet mais rápida do País, com capacidade para produzir até 72 mil unidades por hora. Os equipamentos existentes nas fábricas brasileiras não fazem mais que 40 mil garrafas por hora. Máquinas como essas só existem em indústrias dos Estados Unidos e da Ásia.
"É o nosso equipamento mais moderno. Não há nada similar em nenhuma de nossas fábricas", diz Alfredo Paredes, diretor corporativo da Ajegroup. Além de produzir no Chile, a companhia fabrica refrigerantes em outros 12 países, como México, Guatemala, Nicarágua e Tailândia. A Ajegroup aposta tanto no aumento do consumo das classes C e D no Brasil que espera atingir 90% da capacidade da máquina seis meses após o início da produção. A máquina, desenvolvida pela alemã Krones, deve chegar ao País entre dezembro e o início de 2011. O investimento foi de cerca de US$ 3 milhões.
Para o analista de bebidas da Fator Corretora, Renato Prado, a aposta "ousada" da companhia peruana no mercado brasileiro tem chances de dar certo, já que as vendas de bebida no País têm um expressivo potencial de crescimento. "Em comparação com outros países, exploramos muito pouco o consumo de bebidas", afirma.
Veículo: O Estado de S.Paulo