Algumas empresas japonesas estão de olho na divisão de água engarrafada da Groupe Danone SA, que detém a marca Evian, disseram pessoas a par do assunto.
Representantes da Danone e empresas japonesas de bebidas, entre as quais a Kirin Holdings Co., estão mantendo discussões num estágio inicial sobre uma possível transação, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. Entre outros possíveis interessados na compra parcial ou total da divisão - que pode valer entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões se vendida inteira - estão a Suntory Holdings Ltd. e a Asahi Breweries Ltd., disseram essas pessoas.
É bem possível que não haja negócio e a Danone provavelmente não vai aceitar vender a menos que receba uma oferta gorda, disseram essas pessoas. A Danone, que tem um valor de mercado de aproximadamente US$ 40 bilhões, não quis comentar.
As empresas japonesas, que enfrentam oportunidades limitadas de crescimento em seu mercado doméstico e taxas de juros próximas de zero, estão à busca de oportunidades de aquisições no exterior. A Suntory, por exemplo, comprou a fabricante de refrigerantes Orangina do Blackstone Group LP ano passado. Porta-vozes das três empresas japonesas não quiseram comentar.
Independentemente de haver ou não uma aquisição, a exploração ressalta os tempos difíceis enfrentados pelas empresas de água engarrafada nos últimos anos, especialmente nos mercados desenvolvidos.
Depois de dez anos de rápida expansão, o crescimento na demanda de água engarrafada engasgou com a crise financeira, já que muita gente passou a ver o produto como um luxo desnecessário. Para piorar, há preocupações ambientais acerca do consumo de plástico e do uso de energia no engarrafamento da água.
A divisão de água da Danone, que também inclui marcas como Bonafont e Volvic, é a maior do mundo em volume, com uma fatia de 11,7% do mercado mundial no ano passado, de acordo com a Euromonitor International. Ela teve faturamento de 2,58 bilhões de euros (US$ 3,59 bilhões) no ano passado, ou cerca de 17% da receita total da Danone de 15 bilhões de euros.
Mas a divisão de água foi a de mais lento crescimento dentre as quatro principais linhas de negócios da Danone, com a empresa divulgando um crescimento das vendas comparáveis de somente 1% no período. Enquanto isso, a receita total da Danone cresceu 3,2%.
A venda da divisão de água pode captar recursos para a Danone investir em divisões de rápido crescimento, como a de nutrição infantil. Essa divisão, que teve um crescimento de receita no ano passado de 7,9%, pode ser o foco do investimento estratégico da Danone no futuro, de acordo com o analista Rob Walker, da Euromonitor.
"A divisão de água engarrafada da Danone, pelo menos na Europa Ocidental, pode virar um peso para sua ambição como um todo", escreveu Walker num relatório em agosto. "E isso pode levar os sinos do desinvestimento a tocar."
Uma venda pode ter repercussões na França. A Evian tem uma história que data de 1789 numa cidade com o mesmo nome, que extrai sua água dos Alpes franceses.
Uma antecessora da Danone assumiu o controle da Evian em 1970, e nas últimas décadas a marca desfrutou de um status de item de luxo, não somente entre os consumidores de água mineral, como também para várias atrizes e modelos que, dizem, lavam o cabelo e o rosto com ela.
Os franceses demonstraram uma sensibilidade à venda de suas marcas mais famosas a estrangeiros no passado, e a notícia de uma venda aos japoneses pode deflagrar uma reação política que pode representar um grande obstáculo para qualquer aquisição.
A divisão de água da Danone é dividida meio a meio entre mercados desenvolvidos e em desenvolvimento. A Europa representou 49% das vendas em 2009, ante 27% da Asia e 24% das demais regiões. As vendas em mercados emergentes - a divisão tem uma fatia de mercado de 50% na Indonésia e 40% no México, por exemplo - subiram 14%.
O setor deu uma reanimada ultimamente, o que pode ajudar a criar interesse e explicar por que a Danone está pelo menos interessada a cogitar a possibilidade de uma venda agora. No mês passado, a Danone divulgou que o faturamento no terceiro trimestre da divisão de água subiu 8,7%, para 786 milhões de euros. A empresa informou que o tempo quente no Japão e na Europa ajudou a aumentar as vendas da divisão; analistas do Citigroup Inc. disseram que esse resultado da divisão de água decorreu principalmente de itens extraordinários e que o crescimento provavelmente cairá nos período subsequentes.
Veículo: Valor Econômico