O Château Mouton Rothschild é a famosa vinícola francesa onde se produz um dos mais prestigiados vinhos da região de Bordeaux. Para se fazer o Château Mouton, são usadas somente as melhores uvas cultivadas ali. Todo processo acontece no castelo, até que o vinho seja engarrafado, distribuído e vendido a mais de R$ 1 mil a unidade. Já o rótulo Mouton Cadet, da mesma empresa, é diferente. Qualquer uva da região, plantada na vinícola ou nas propriedades vizinhas, serve para a produzi-lo. A bebida chega ao Brasil por R$ 60 a garrafa. "É um vinho genérico", diz Caio Gouvea, diretor-geral da Puratos no Brasil - e amante de vinhos. Para ele, a diferença entre o chocolate comum e o de origem é semelhante à comparação entre o Mouton Cadet e o Château Mouton. "Hoje o Brasil só tem Mouton Cadet, em termos de chocolate. Mas em breve o país terá seu próprio chocolate de origem", afirma o executivo, se referindo ao investimento de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões que a empresa belga está fazendo em uma nova fábrica de chocolate em Linhares, no ES.
Na mesma cidade, a Puratos tem, desde maio deste ano, 60% de uma fábrica de liquor (subproduto do cacau usado na fabricação de chocolate), além da parceria com os produtores de cacau da região. Com o investimento, a ideia é plantar, colher, fermentar, processar e fazer o chocolate num lugar só, para ter controle de todo o processo. "Será como o Château Mouton: só usaremos as melhores amêndoas de cacau em vez de moer tudo junto, como se faz hoje para o chocolate comercial", diz Gouvea.
Hoje, no mercado brasileiro, a maior parte do chocolate é feita com cacau plantado na África e processado depois na Bahia. Depois, a matéria-prima segue para as fábricas de chocolates, a maior parte delas em São Paulo.
"Concentrando tudo no mesmo lugar, teremos controle sobre todas as fases do processo e, além da redução de custos - cada etapa representa em média de 10% a 20% menos despesas -, conseguiremos uma qualidade excepcional", explica o executivo. "Se o chocolate estiver muito ácido, por exemplo, poderemos voltar no processo e mudar o que estiver de errado no plantio, na fermentação da amêndoa do cacau ou ainda no processamento da fruta", explica o diretor-geral.
Em Linhares, a Puratos também está montando uma fazenda modelo de 120 hectares onde dará cursos aos produtores locais para melhorar a qualidade do cacau da região. "Hoje a produtividade do Brasil é muito baixa. Só para se ter uma ideia, no Equador e no Peru cada pé dá de cinco a dez vezes mais frutas que os pés daqui", diz.
A nova fábrica, segundo ele, terá capacidade para 15 mil toneladas ao ano e ficará pronta no início de 2012. É pouco, se comparado a uma fábrica de chocolate comum, que produz mais de 100 toneladas anuais. "Mas nossa produção não será destinada ao grande mercado. Ficará voltada a chocolateiros interessados em produtos mais finos", diz o diretor. A ideia, segundo ele, também é direcionar parte da produção, ao longo dos anos e conforme o crescimento da capacidade, à exportação.
A Puratos é uma das maiores fabricantes de produtos para panificação e chocolates para confeitarias e indústrias do mundo, com presença em mais de 100 países. No mundo, o grupo Puratos tem vendas líquidas superiores a €1 bilhão anuais, sendo que a América do Sul e Central representam mais de 20% do total.
Veículo: Valor Econômico