A Diageo pretende promover sua maior compra em mais de dez anos com a aquisição da Mey Icki, maior fabricante de raki (uma espécie de brandy) da Turquia, por 3,3 bilhões de liras turcas (US$ 2,1 bilhões).
A aquisição da empresa, que pertence à firmas de investimentos em participações TPG Capital e Actera, é mais um passo na estratégia da Diageo de expandir-se em países emergentes que tenham uma classe média "crescendo rapidamente", afirmou o executivo-chefe da empresa, Paul Walsh, ontem. O Produto Interno Bruto (PIB) da Turquia deverá avançar 4,6% em 2011, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg, mais do que os Estados Unidos e Reino Unido.
"Vemos um mercado turco com grande potencial de crescimento e a posição de mercado da Mey Icki é atraente, com margens relativamente elevadas", escreveram analistas do UBS, em informe divulgado ontem antes de a compra ser anunciada.
A Mey Icki, que a Diageo estima controlar 80% do mercado de raki, pode não ser a última aquisição da maior fabricante mundial de bebidas destiladas, segundo analistas. A Diageo, dona da marca de vodca Smirnoff, pretende promover compras nos mercados de maior crescimento, afirmou seu diretor de finanças, Deirdre Mahlan, em entrevista concedida neste mês, depois de a empresa ter anunciado receita e lucro semestrais abaixo das estimativas dos analistas.
A aquisição da Mey Icki incrementará o lucro por ação da Diageo no primeiro ano após a conclusão do negócio, segundo comunicado da fabricante britânica de bebidas. O acordo será financiado com recursos de caixa existentes e dívidas.
A economia de custos decorrente da compra não será significativa, de acordo com Andrew Morgan, presidente da Diageo na Europa. Morgan não quis comentar se a empresa londrina estuda mais aquisições, nem qual a proporção de dívidas usada para financiar a compra.
"Eles ainda têm pelo menos mais 2 bilhões de libras" para outras aquisições, que poderiam incluir a unidade de bebidas destiladas da Fortune Brands, dona da marca de bourbon Jim Bean, afirmou Samar Chand, analista do Barclays Capital, em Londres.
A Diageo pagará 9,9 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Mey Icki em 2010, segundo Morgan. A média paga no setor de vinhos e destilados nos últimos dez anos foi de 12,7 vezes o Ebitda, de acordo com dados reunidos pela Bloomberg.
A compra é a maior da Diageo desde 2000, quando adquiriu a Seagram, que era da Vivendi.
Os múltiplos pagos pela Diageo nesse acordo são "pouco exigentes", afirmou o analista Andy Ford, da MF Global, que recomenda a compra das ações da empresa. "A economia da Turquia cresce rapidamente e sua população é jovem e urbana, o que é positivo para o provável crescimento futuro do mercado de destilados."
Sob o governo do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdoga, o PIB per capita do país subiu de US$ 3,5 mil em 2002 para US$ 8,6 mil em 2009, de acordo com números do Tesouro. A estimativa do governo é que o número chegue a US$ 10,6 mil neste ano.
A Mey Icki possui uma rede de distribuição que chega a 57 mil pontos e emprega mais de 650 pessoas em sua força de vendas, segundo a Diageo. A rede ajudará a Diageo a vender marcas internacionais de outros destilados no país, além das atuais bebidas da Mey Icki. As vendas de bebidas na Turquia, incluindo marcas da Diageo como a Johnnie Walker, estão em alta no país, segundo Morgan.
Veículo: Valor Econômico