Todas as empresas do segmento em Minas são formalizadas e produzem cerca de 500 mil litros por mês.
Até bem pouco tempo atrás, cerveja era cerveja. Hoje, existem diversas classificações: industrial (Skol, Brahma, Antártica, entre outras), gourmet, premium e as artesanais. Essa última, já se reproduz em mais de 100 rótulos no país, segundo a Associação Brasileira de Microcervejarias (Abmic), a maioria deles no Sul; mas também em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Mas se em uma situação normal já é difícil para uma pequena empresa sobreviver, o que dizer quando essa empresa está em um setor em que quatro concorrentes detêm 99% do mercado? Esse é o cenário em que atuam as pequenas produtoras de cerveja. No Brasil, a AmBev, segundo a Nielsen, tem 70% de market share; Schincariol, 11,6%; Petrópolis, 9,6%; e a Femsa - comprada pela Heineken -, 7,2%.
Contudo, mesmo diante desse quadro, as microcervejarias, que respondem por pouco mais de 1% do mercado cervejeiro no país, não desistem. Além da alta qualidade das cervejas artesanais, a renda mais elevada dos brasileiros também se tornou fator preponderante para que os apreciadores e produtores da bebida aumentem em todo o país.
"Mineirização" - Minas Gerais, por exemplo, já conta com sete microcervejarias estabelecidas na Capital, Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, além de outras duas em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Em quantidade de empresas, o Estado perde somente para Santa Catarina, onde foi iniciada a história da cerveja artesanal no Brasil.
Todas as empresas do segmento em Minas são formalizadas e produzem cerca de 500 mil litros de cervejas e chopes especiais por mês, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas). Este volume deverá subir nos próximos anos, já que a maioria das empresas pretende investir na expansão de suas marcas e na ampliação de seus mercados em todo o país.
As principais microcervejarias mineiras ouvidas pela reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO confirmam que farão grandes investimentos no desenvolvimento de produtos e no incremento da produção em 2011. Algumas delas, inclusive, preveem um incremento de até 20% no faturamento deste ano no confronto com o de 2010.
Segundo o sócio-proprietário da Falke Bier, Marco Antonio Falcone, o crescimento do mercado de cervejas especiais pode ser creditado à mudança de cultura do consumidor, que vem descobrindo as inúmeras vantagens que a bebida artesanal tem, ainda mais se comparada a um produto industrializado.
"As pessoas têm se interessado cada vez mais pelas cervejas artesanais. Se comparada com um produto industrializado o preço é maior, porém a qualidade é muito superior. As perspectivas do segmento para os próximos anos são bem animadoras, já que existe um potencial nicho de mercado a ser explorado", explicou.
Nova planta - Por causa da forte demanda, principalmente do mercado belo-horizontino, a fábrica de Ribeirão das Neves já opera no limite da capacidade instalada desde o final do ano passado, fabricando uma média mensal de 12 mil litros e cinco rótulo. Segundo ele, uma segunda unidade fabril já está confirmada para 2011.
Falcone disse que a Falke Bier está analisando algumas áreas, mas o local mais provável para abrigar a planta é o bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, na RMBH. A fábrica, cujas obras começam no segundo semestre deste ano, deverá ser construída em um terreno de mil metros quadrados, mediante aporte de R$ 1 milhão. A capacidade instalada será de 60 mil litros/mês ou 720 mil litros anuais.
Paralelo a isso, a Falke Bier vai lançar no mercado as linhas Weissbier e Bohemia Pilsener, cada uma delas nas versões chope e cerveja. "Os aportes não são relevantes, já que correspondem apenas a gastos com rótulos, considerando que as novas marcas irão utilizar a estrutura convencional da fábrica. Estaremos sempre expandindo o mix, pois os nossos produtos são comercializados para todo o país e os chopes podem ser encontrados em vários bares da capital mineira. Estamos vivendo uma boa fase, com um público crescente e mais aberto a conhecer opções diferentes", observou.
Falcone afirmou, ainda, que a incidência dos impostos estaduais - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) - e federais - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) - sobre o segmento chega a onerar em até 80% os preços das bebidas.
De acordo com ele, além da alta carga tributária, o segmento ainda enfrenta outras dificuldades. "Temos capacidade de arrecadação muito menor em relação às grandes cervejarias. Compramos os insumos em menor escala e, por isso, mais caro. Empregamos mais mão de obra por litro porque o processo é artesanal. A produção em volumes menores também encarece a fabricação especializada", lamentou Falcone.
Veículo: Diário do Comércio - MG